Topo

Ela engravidou aos 57 anos, depois de ter a menopausa: "Sonho de ser mãe"

Marina Yumiko Fujita que engravidou aos 57 anos e a filha Pietra - Arquivo Pessoal
Marina Yumiko Fujita que engravidou aos 57 anos e a filha Pietra Imagem: Arquivo Pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

26/11/2019 04h00

Aos 29 anos, a comerciante Marina Yumiko Fujita, de Jacareí (SP), implantou quatro embriões pelo método da Fertilização in vitro (FIV), bastante conhecido entre as tentantes que não conseguem engravidar naturalmente. Nenhum deles vingou. Marina guardou o sonho de ser mãe — como muitas mulheres, que inclusive procuram serviços de Reprodução Humana Assistida pelo SUS.

"O procedimento de fertilização tem custo elevado, com tratamento, medicamento, mas o sonho ficou. Para tentar superar um pouco essa parte, me dediquei muito ao trabalho."

Uma mudança sobre as determinações para reprodução assistida feita pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em 2017, no entanto, fez a comerciante despertar para a vontade de gerar um filho novamente: até novembro daquele ano, o órgão proibia que mulheres acima de 50 anos fizessem FIV.

Grávida mostrando barriga - slavemotion/iStock - slavemotion/iStock
"Para tentar superar um pouco essa parte, me dediquei muito ao trabalho", conta Marina
Imagem: slavemotion/iStock

Uma nova resolução (CFM nº 2.168/2017) passou a recomendar que essa fosse a idade limite, mas sem barrá-las. "Era minha última cartada", contou Marina para Universa, casada com Agnaldo Fuzita, também comerciante, 51 anos. Em 2018, ela resgatou dois dos embriões que mantinha congelados e fez a FIV novamente.

"Era nossa última cartada. Tinha embriões congelados e fui fazer a fertilização. Usamos dois embriões. Fiquei grávida de gêmeos."

A gestação, apesar de considerada de alto risco, seguia tranquila até a 25ª semana. "A partir dali, foi preocupante. Vimos que a placenta não estava oferecendo nutrientes para meu filho. Essa foi a pior parte. A menina estava desenvolvendo com o dobro de peso do menino". O parto foi marcado para a 30ª semana, em uma manobra arriscada.

"Apesar de perfeitos, ele nasceu muito pequeno e, após 35 dias de UTI, não sobreviveu. Pietra ficou 51 dias lá no hospital, com oxigênio, e era muito dolorido para mim entrar naquela sala e recordar tudo que passei. Então, conseguimos vir para casa com home care, com atendimento de fisioterapia, fonoaudióloga, pediatra. Faz duas semanas que ela está livre do cilindro de oxigênio, vamos começar a receber visitas. Agora que estamos voltando aos eixos, porque dependíamos de ambulância até para levá-la ao médico", ela conta.

Marina e Agnaldo tinham apoio dos amigos em todo o processo. Para a família, só contou com cinco meses de gravidez, e ouviu alguns comentários maldosos sobre sua idade. "Mas eu acho que idade está na cabeça de cada um, tem gente que tem 20 anos e se comporta como se tivesse 60. O que os médicos dizem é que é importante ter saúde, se cuidar e ter disposição [para criar um filho]. Vai da cabeça de cada pessoa".

Gravidez aos 57 anos: é perigoso?

A ginecologista e obstetra Ana Carolina Lucio Pereira, que acompanhou a fertilização e o pré-natal de Marina, explica que depois que a mulher completa 35 anos a gravidez é sempre considerada de risco. "Por isso, ela faz mais exames porque aumentam as chances de ter pressão arterial alta, diabetes, restrição de crescimento do bebê, perda fetal", pontua.

O fato de a mulher engravidar após a menopausa também requer preparação e acompanhamento diferenciados, com tratamento hormonal antecipado e atenção à gravidez para evitar problemas como trombose — a que Marina tinha predisposição.

"No caso de Marina, ela estava na menopausa há 8 anos; por isso, precisou tomar hormônio, além de injeções e comprimidos para melhorar a circulação. Isso acontece porque o útero já tem a vascularização alterada", explica.

Segundo Ana Carolina, a perda do segundo bebê de Marina foi em decorrência dessa situação, já que a placenta não teve capacidade de levar nutrientes para a criança. "Tínhamos a opção de esperar até o final da gestação, com 99% de chances de o menino morrer na barriga, ou de antecipar, mesmo que eles fossem para a UTI. Como Marina não queria a primeira situação, resolvemos fazer o parto prematuro".

A FIV é a forma mais segura, detalha Ana Carolina, para que mulheres no climatério ou na menopausa engravidem, já que, nessas condições, não é mais possível ter uma gravidez por via natural. "É diferente da inseminação artificial, procedimento em que a mulher precisa ovular perfeitamente". A fertilização pode ser feita com óvulos congelados, como fez a comerciante, ou com doados.