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Nova comentarista da CNN tem personalidade combativa e é amiga de Anitta

A professora de Direito e comentarista da CNN Brasil, Gabriela Prioli - Reprodução/Instagram
A professora de Direito e comentarista da CNN Brasil, Gabriela Prioli Imagem: Reprodução/Instagram

Camila Brandalise

De Universa

18/11/2019 04h00

Mestre em direito penal, professora da pós-graduação em direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, especialista em política de drogas e comentarista política. O currículo é de Gabriela Prioli, 33, anunciada recentemente como uma das novas contratadas da CNN Brasil para apresentar um programa de debates ao lado do ex-comentarista da rádio Jovem Pan Caio Coppolla, também formado em Direito.

A ideia é que os dois apresentadores mostrem seus pontos de vista a partir das perspectivas ideológicas diferentes, num formato inspirado no "The Great Debate" (o grande debate), da matriz americana do canal — por aqui, deve entrar no ar em março de 2020, previsão de estreia da emissora. Mas, ao contrário de Coppolla, 32, declaradamente de direita e conservador, Gabriela prefere não se colocar "em uma caixinha". "Cada um vai julgar a partir da própria lente. Cada hora dizem que sou de um espectro político. Mas não dá para falar que sou isentona, pois me posiciono", explica. Suas opiniões, além de explicações sobre direito penal e decisões atuais do judiciário brasileiro, são compartilhadas cotidianamente com seus cerca de 50 mil seguidores no Instagram.

Gabriela diz ser combativa e ter facilidade para se impor. Já cogita ser alvo de ataques porque vai tratar de polêmicas na televisão. "Se atacarem a minha aparência é porque não conseguiram falar dos meus argumentos", diz. "Já fizeram brincadeiras desagradáveis quando era estagiária, já ouvi considerações sobre minha aparência quando ela não estava em jogo. Me posiciono na hora, rechaço. Tanta coisa para falar, vai falar que sou bonitinha?"

Como será seu programa com Caio Coppolla na CNN Brasil?
Vamos trazer nossas ideias com seriedade, respeitando o espaço do outro. É democrático entender que seu opositor, pensando em política, tem legitimidade. Já tive contatos muito bons com o Caio e parece que estamos na mesma página, pode ser bem produtivo. Queremos trazer pessoas com diferentes repertórios, mas ainda estamos pensando várias coisas sobre o formato.

Diretores da CNN Brasil já se encontraram com Jair Bolsonaro, e o principal investidor do canal no Brasil, o empresário Rubens Menin (da construtora MRV), defende o presidente publicamente. Já teve alguma orientação sobre o que pode ou não criticar em relação ao governo?
Comigo ninguém falou nada. O que eu sei é que o Bolsonaro não me apoia, nunca nem falei com ele, não sei se ele concorda com alguma coisa que eu digo. Aliás, nem o Bolsonaro, nem o Lula, nem o Luciano Huck...

Nas redes sociais, você reforça seu apreço pelo diálogo civilizado. Mas uma reclamação do brasileiro hoje é justamente não conseguir conversar com quem pensa diferente. Como debater com quem tem ideias divergentes?
Não tem segredo. Primeiro, tem que saber o que se quer quando se propõe a debater. Quer ganhar a discussão ou encontrar caminhos de consenso? Se quiser ganhar, ok, então pode reproduzir senso comum, aí vai ter mais fãs, repercutir nas redes sociais. Mas, se o objetivo for debater de forma séria e civilizada, tem que seguir as regras do jogo, tem que ser leal. Pode discordar, mas não dá para trazer dados falsos ou usar argumentos da vida pessoal. Também existe a possibilidade de se retirar. Se perceber que está perdendo a estribeira, sai e toma uma água.

Acha que pode vir a ser considerada "isentona" pelo fato de não ter um posicionamento político evidente?
Cada hora dizem que sou de um lugar, de um espectro político. Mas não dá pra falar que sou isentona. Eu me posiciono, só não tiro a legitimidade do outro. E não precisa se posicionar sobre todos os assuntos ou de forma imediata. Não gosto de rótulos. Se colocar um, vão deixar de prestar atenção em mim, principalmente porque ainda não estou no ar. Cada um vai me julgar a partir da própria lente.

Mulheres envolvidas com política, tanto parlamentares quanto comentaristas e jornalistas, costumam ser atacadas, principalmente, pela aparência --vide o caso recente envolvendo a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). Está preparada para isso?
Estarei na televisão falando sobre assuntos bem polêmicos. Se atacarem a minha aparência, é porque não conseguiram falar dos meus argumentos. Talvez fique triste e nem será por mim, mas pelo outro que vocifera. Claro que tem que denunciar esse tipo de coisa. A Joice falou de maneira bem emocionada, principalmente pelos filhos terem sido envolvidos. Hoje em dia deixam comentários me chamando de "loirinha patricinha". Alguns me mandam mensagem no privado, dizendo: "Nossa, mas você falando assim com esses olhos azuis?". Quando era estagiária, já ouvi considerações sobre minha aparência quando isso não estava em jogo. Tanta coisa pra falar, vai falar que sou bonitinha? Eu talvez não tenha sido vitimizada de maneira tão intensa porque tinha liberdade para me impor. Me posiciono na hora, rechaço. Tenho uma personalidade combativa.

Pensa em falar sobre direitos das mulheres no programa?
Claro que sim. É extremamente relevante. Acredito que políticas afirmativas são bem-vindas quando existem tratamentos desiguais. Os números de violência contra mulher são alarmantes, mas precisam ser discutidos não só pela perspectiva criminal, também de educação, como estratégia a longo prazo. Mais punições servem? O sistema comporta? É suficiente ou precisa de atividade paralela em outro campo? Mas os assunto que mais me tocam são os relacionados ao direito penal, como a questão do sistema carcerário, dos impactos nocivos da forma como se faz a gestão hoje.

Você é especialista em políticas de drogas com mestrado sobre repressão penal a usuários de crack. Qual é a sua avaliação sobre a legislação brasileira acerca do tema?
Já passou do tempo de descriminalizar o porte de drogas para uso pessoal, e precisamos sentar para discutir a legalização das drogas. É um movimento em que nem vamos inovar, vamos seguir outros países que já estão liberando drogas para uso recreativo. A gente precisa discutir os assuntos sem considerá-los tabu: 30% do nosso sistema carcerário é formado por pessoas presas por crimes relacionados a drogas. No caso das mulheres, são 60%. A gente tem um sistema carcerário superlotado, e as pessoas continuam defendendo políticas para aprimoramento de segurança pública com aumento do encarceramento que, na verdade, tem um efeito contrário ao que a gente espera, que a longo prazo gera mais insegurança em vez de segurança. Precisamos discutir isso com honestidade intelectual e sem alarmismo porque vai gerar um problema para todos nós. Temos uma guerra às drogas que produz muita violência em nome do combate, mas que não tem produzido efeitos muito positivos.

Já que estamos falando de assuntos polêmicos, é a favor ou contra o aborto?
Diria que sou a favor da descriminalização do aborto. Mas que fique claro que acho que precisa ter um debate sério sobre o assunto e que minha interpretação sobre o sistema que vigora hoje é de que ele não é bom. Quando a gente fala de discussões jurídicas, não é só sobre nossa opinião. Na realidade brasileira, ninguém deixa de fazer aborto porque é proibido. A diferença é que quem tem condição socioeconômica melhor vai correr menos risco. E isso não está certo, não pode ter essa distinção. Temos que discutir: a mulher é obrigada a gerar a criança, mas, quando ela nasce, diminuem programas de auxílio a mães solteiras. Como se lida com essa realidade? O feto só interessa quando está dentro da barriga? Me incomoda a realidade do país na qual a criminalização de uma conduta só atinge uma faixa populacional muito bem marcada.

Uma pessoa que comemorou sua contratação pela CNN foi a cantora Anitta, que te deu parabéns pelo Instagram. Vocês são amigas?
A gente é muito amiga faz bastante tempo. Meu marido é músico, ele e Anitta se conheciam de alguns eventos [Gabriela é casada com Thiago Mansur, da dupla de DJs Jetlag Music, que gravou com Anitta em fevereiro deste ano]. A gente se conheceu, se adorou e ficou muito amiga. Adoro Anitta, é uma das minhas grandes amigas. Somos muito próximas, viajamos juntas, já dormi na casa dela. Sempre que está aqui em São Paulo tento encontrá-la. Ela é um belo exemplo de que é preciso tomar bastante cuidado ao tentar descreditar uma mulher pelo que é por fora. Quem a critica com o argumento de que rebola passa um atestado de fraqueza. Ela é uma profissional admirável com uma trajetória de vida fantástica.

Com quem você gostaria de sentar para conversar?
Eu gosto de debate, né? Sentaria com todo mundo. Não diria que existe alguém com quem eu não debateria. Se fosse para escolher uma pessoa com quem quisesse muito conversar, diria Fernando Pessoa, e queria que me atendesse como Álvaro de Campos e como Bernardo Soares, que são meus heterônimos favoritos. Sou apaixonada pelo Fernando Pessoa.