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Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Claudia Raia: "Por que quem gosta de sexo é vista como p...?"

Claudia Raia - Eduardo Martins/Ag.News
Claudia Raia Imagem: Eduardo Martins/Ag.News

De Universa, em São Paulo

10/11/2019 12h05

Claudia Raia falou sobre as limitações que a sociedade muitas vezes tenta impor à voz das mulheres e defendeu liberdade para as falas e ações do mundo feminino. Em entrevista ao O Globo, ela revelou um caso de assédio aos 13 anos, falou sobre um canal de vídeos no IGTV, do Instagram, e afirmou que seus programas serão "sem filtro", questionando assuntos que são vistos como tabus: "Por que não posso falar sobre sexo anal?", "Por que quem gosta de sexo é visto como puta?".

A atriz repassou sua carreira na entrevista e falou sobre sua juventude agitada e sobre Alexandre Frota. "Se aos 52 sou assim, acelerada, imagina aos 18? Misericórdia, nem eu mesma me aguentava. "Eu não andava, quicava. Casei na Candelária, né, amor? Com um esplendor que nem cabia no carro! E com o Alexandre Frota, o que resume tudo. Imagina quem eu era?", afirmou Claudia.

Sobre o presente, ela afirmou que se inspira em Hebe Camargo e quer aproveitar o novo projeto no IGTV para se consolidar.

"Tive a ideia do canal para mulheres de 50 porque sonhava em ter um programa para conversar com as pessoas. A apresentadora madura, que tem glamour, é engraçada e popular, foi embora com a Hebe. Fiquei com vontade de ser essa pessoa. No Brasil, a mulher 'morre' quando faz 40 anos e só renasce aos 80, 90, quando vira a velhinha fofa. A mulher do meio não existe, nem na publicidade nem na casa das pessoas. Mas ela é muito potente: os filhos estão criados e a carreira, estabelecida. Por isso, não é bem vista num país machista", defendeu ela.

Sou como um trator, passo por cima das pessoas. Mas a maioria das mulheres não é assim. Eu sou porque fui criada por mulheres — meu pai morreu quando eu tinha 4 anos e ficamos eu, minha avó, minha mãe e minha irmã, quatro mulheres poderosas de calças compridas."

Um dos temas de seu canal será sexo: "Quero falar sobre o que der na telha, sem filtro. Já que estou encalacrada sendo essa mulher de 52, por que não posso falar sobre sexo anal, por exemplo, algo que incomoda tanta gente? O homem vai lá e quer te obrigar a dar o cu! Não gosto, dá licença? Porra. Por que tenho que fazer algo que detesto para agradar alguém? Com a maturidade, descobri que posso dizer do que gosto e não gosto — na verdade, sempre disse, mas o feminismo veio para reforçar isso."

"Outra coisa: por que é errado ser uma mulher que gosta de sexo que nem eu, uma 'transarina'? Por que no Brasil quem gosta de sexo é vista como puta? A gente tem vergonha de dizer que gosta. E quanto mais velha, pior. Se for mãe então…"

Claudia disse que não se arrepende de seus ensaios nus - quando sempre tentava encarnar alguma personagem -, e contou um caso de assédio aos 13 anos.

"Quando eu tinha 13 anos, fui estudar balé em Nova York e fiquei hospedada na casa de um bailarino amigo da minha mãe. Um dia, ele sentou ao meu lado e começou a conversar, colocou a mão na minha perna, e daqui a pouco a mão veio subindo, subindo… Imediatamente olhei para o lado para ver o que me cercava, o que eu poderia usar para me defender. Quando ele veio com mais força, peguei a primeira coisa que alcancei, uma coruja de cristal, e 'pow!' na cabeça dele. Não seria diferente porque fui criada para jamais abaixar a cabeça para nada. Felizmente, só passei por isso uma vez na vida", concluiu.