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Mãe processou escola porque filho foi mordido por colega; veja resultado

Caso de processo por mordida aconteceu em São Gonçalo (RJ) - yaoinlove/iStock
Caso de processo por mordida aconteceu em São Gonçalo (RJ) Imagem: yaoinlove/iStock

Nathália Geraldo

De Universa

08/11/2019 04h00

Uma mãe de São Gonçalo (RJ) entrou com ação na Justiça com um pedido de indenização inusitado: seu filho foi mordido por um coleguinha na creche em que estudavam e, no entendimento dela, a instituição de ensino deveria pagar R$ 20 mil pela agressão. As crianças, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, têm menos de dois anos.

Na decisão, a juíza Vanessa de Oliveira Cavalieri Felix julgou improcedente o pedido. Segundo o Tribunal, a magistrada alegou que não há nos autos nenhum fato que extrapole o absolutamente rotineiro, normal e comum ao dia a dia de crianças de dois anos.

"Crianças dessa idade frequentemente adotam comportamentos que seriam inadmissíveis para crianças mais velhas ou adultos. Choram quando contrariadas, empurram, batem, gritam. E mordem", definiu no texto da decisão.

"Sofrimento faz parte do crescimento"

Na agenda do menino agredido pelo coleguinha, foi verificado que a creche já havia informado os responsáveis que ele também tinha batido, arranhado e mordido o outro.

A juíza Vanessa Cavalieri ponderou que esse tipo de briga faz parte das vivências das crianças quando estão entre si. "De fato, dói no coração da mãe receber o bebê no fim do dia com uma marca de mordida no seu bracinho. Certamente, a mãe da outra criança também sofreu ao ser informada de que alguém havia batido, ou arranhado, ou mordido seu filho. Mas o sofrimento faz parte do crescimento. Já diz o ditado, ser mãe é padecer no paraíso".

Mordida entre crianças: dá para resolver sem processar?

Para psicóloga clínica de abordagem transpessoal, que tem uma visão holística do sujeito, Vivian Fadlo Galina, a criança morder o amiguinho tem a ver com o fato de ela ainda ter dificuldade de expressar sentimentos, por ser muito pequena. "Às vezes, ele está descontando uma angústia, porque nós temos uma agressividade nata, e a criança reage, então, de forma agressiva".

Não significa, entretanto, que o pequeno odeie o amiguinho, seja mau-caráter ou disfuncional. "O bebê e a criança, se sentem raiva, vão expressar de alguma forma. E a linguagem mais próxima para ele é o corpo".

Para Vivian, a briga entre as crianças não deve se reduzir ao ambiente escolar. É preciso ver o quanto a família pode estar influenciando no comportamento infantil. "Pode ser falta de afeto, de atenção que ela está sentindo em casa...Ou mesmo ela refletindo um ambiente de briga que está vivendo".

Para a psicóloga e educadora parental Raísa Schmidt, quando a agressão acontece, a orientação é tentar redirecionar quem agrediu para outra atividade, após conversar com ela. Isso porque a criança de dois anos não vai entender se for colocada "para pensar no que fez" ou se for reprimida por sua atitude.

"E isso não significa que não está ensinando. A sugestão é verbalizar o sentimento para ela, já que a criança possivelmente não vai falar. Então, é necessário perguntar: você está triste? Por que você mordeu? Você estava com raiva?".

Os responsáveis pelas crianças devem ser chamados pela escola. Eles também podem dar pistas das situações que a criança está vivendo, para entender a mordida. "Não dá para 'levar para o pessoal, porque a criança ainda não tem o discernimento de pensar em odiar o amiguinho. Ela está construindo a vivência dela no mundo, e inclusive depende do adulto para isso".

Pedir "desculpa" resolve?

Para Vivian, falar para a criança pedir desculpa para o amigo pode ser uma das saídas, mas não a única. "Não adianta cuidar apenas de um galho, que é a criança. É preciso ver o que está acontecendo com a árvore toda, a família".

Mostrar que a criança ficou ferida também tem efeito educativo, avalia Raísa. "Nesta fase, a criança é mais visual do que auditiva, então, é possível mostrar que o outro ficou triste, chorou"..

Por fim, quem foi mordido também deve ter atenção e ser acalmado, explica a educadora parental. "Não só falar 'passou, passou'. Precisa dizer que compreende a dor e que os dois vão poder conversar depois para se resolverem".