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Noivos se casam durante peregrinação de quase 200 km até Aparecida

Rosemary Cintra Netto e Hélio Ricardo Dias de Oliveira, na estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro - Arquivo pessoal
Rosemary Cintra Netto e Hélio Ricardo Dias de Oliveira, na estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro Imagem: Arquivo pessoal

Daniel Leite

Colaboração para Universa, em Juiz de Fora (MG)

11/10/2019 12h02

"Hoje 'tô' sentindo bastante a panturrilha. É prova de amor mesmo, viu. É por puro amor" (risos).

A confissão, em tom de brincadeira, é de Rosemary Cintra Netto. Vestida de noiva, ela conversou por telefone com Universa horas antes de se casar com Hélio Ricardo Dias de Oliveira na rodovia Presidente Dutra. Sim, a cerimônia será na estrada, durante peregrinação do casal até Aparecida (SP).

A enfermeira de 50 anos e o agente ambiental de 49 saíram do bairro do Jaçanã, em São Paulo, na última terça-feira, às 7h30. Ela toda de branco, ele de terno e gravata borboleta. A missão: caminhar quase 200 quilômetros até a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, casar no meio do caminho e chegar a tempo à cidade paulista para o 12 de outubro, dia dedicado à santa padroeira do Brasil.

Para darem conta de andar entre 40 e 50 quilômetros por dia, eles alugaram um ônibus e contrataram uma equipe de apoio. Nas malas, três vestidos de noiva e três conjuntos de terno, um para cada dia de peregrinação, além da alimentação, complementada pelo que é oferecido nos pontos de parada.

De terça para quarta, Rosemary e Hélio dormiram numa escola em Arujá. Na noite seguinte, descansaram em Jacareí, num ponto de assistência a romeiros. A noite de ontem foi em Caçapava, também numa base de apoio a peregrinos. "Estamos bem. Cansados um pouco, muito calor, chegamos a pegar 30 graus", admite o noivo.

Casamento na Dutra - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casamento ocorreu no acostamento da Via Dutra
Imagem: Arquivo pessoal

Vestido de noiva leve, terno, gravata e tênis

Nos momentos em que parou para descansar, Rosemary fez questão de relaxar os pés. Para não ter problemas, os dois estão de tênis. "Graças a Deus não deu nenhuma bolha e nem vai dar. Estou com calçado apropriado, confortável, de tênis, e ele também".

Se ajeitar no vestido enquanto caminha no acostamento da rodovia mais movimentada do país não tem sido fácil. "Escolhi modelos bem leves para eu conseguir me movimentar. Hoje está muito quente, estou com mais dificuldades. Nos outros dias foi mais tranquilo".

Cerimônia

Os dois decidiram realizar a cerimônia no km 108 da rodovia, em Taubaté, porque foi lá que, no ano passado, aconteceu o pedido de casamento.

Hélio Ricardo já fez outras peregrinações a pé até Aparecida. Em 2018, pela primeira vez, Rosemary o acompanhou - eles moram juntos há quase 20 anos. E justamente no km 108, quando Hélio dava entrevista para uma rádio da cidade, veio a surpresa. "O repórter perguntou se a gente era casado. Eu falei 'ela ainda não é minha esposa, mas vou pedi-la em casamento agora'. Ela falou que aceitava, começou a chorar, e aí fizemos a promessa de virmos vestidos de noivos de São Paulo até Aparecida", lembra o noivo.

O casório ocorre em uma tenda de atendimento a romeiros. As famílias dos noivos se dirigiram ao local.

A previsão é chegar caminhando a Aparecida amanhã pela manhã. Lá, assistirão a missas e retornarão no fim do dia para São Paulo. De ônibus.

Caminhada na rodovia não é recomendada por concessionária

A Nova Dutra não recomenda esse tipo de peregrinação. No mês passado, a concessionária lançou uma campanha de orientação aos romeiros, lembrando a quantidade de acidentes, muitos deles fatais. Esse ano foram registradas três mortes de peregrinos. A último delas, no final do mês passado.

Um romeiro morreu atropelado por um ônibus da banda católica Rosa de Saron. Emanuel Santos dos Anjos havia saído de São José dos Campos, a 80 km de Aparecida.

No informe sobre a operação especial para o dia 12 de outubro, a empresa faz o alerta e diz que, apesar de não recomendar a presença de pedestres nos acostamentos, realizará uma ação de orientação. "Apesar de não recomendar esse tipo de manifestação, dado o risco que ela representa, a Concessionária preferiu adotar uma postura preventiva, com distribuição de folhetos com dicas de segurança aos grupos de romeiros, afixação de faixas alertando os motoristas e distribuição de folhetos nas praças de pedágio".