Topo

Sem libido: veja a solução para principal disfunção sexual das mulheres

Está difícil de esquentar o clima? - iStock
Está difícil de esquentar o clima? Imagem: iStock

Christiane Ferreira

Colaboração para Universa

09/10/2019 04h00

A falta de vontade de transar pode ocorrer em qualquer etapa da vida da mulher e é mais comum do que se imagina, mesmo para quem está no auge da sexualidade. A diminuição da libido é a disfunção sexual que está em primeiro lugar entre as queixas femininas, seguida pela falta de orgasmo e dor na hora do sexo. É o que aponta a médica especialista em Sexualidade, Carolina Carvalho Ambrogini, do ambulatório do Projeto Afrodite da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Para as mulheres que passam por essa situação, vale lembrar que não existe uma única razão, mas várias que fazem a libido simplesmente desaparecer. Primeiro é preciso avaliar de que forma a autoestima sexual foi construída, ou seja, como a mulher lida com sua sexualidade, se possui hábitos de erotização, por exemplo.

O segundo ponto é analisar se o relacionamento está interessante ou se há algo atrapalhando o sexo, como traição ou hábitos que tornam o coito mecânico. Por último, saber se há ocorrência de depressão, uso de antidepressivos ou anticoncepcionais, ocorrência de menopausa, entre outros.

"Em 80% das vezes, o desejo da mulher é responsivo, ou seja, é ativado por um estímulo sexual. Ele costuma ser mais ativo no início da relação, quando há paixão e sedução. Mas em um relacionamento estável ela para de pensar em sexo, pois tem a falsa ideia de que a relação é segura. Além disso, trabalho, filhos, vida doméstica e pessoal atrapalham o desejo. Às vezes, a mulher tem preguiça de começar. A gente fala que pega no tranco", afirma a médica especialista em Sexualidade, Carolina Carvalho Ambrogini, do ambulatório do Projeto Afrodite da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Motivos da falta de libido

A falta de libido pode ser primária, ou seja, quando a mulher nunca sentiu tesão na vida. Nesses casos, os motivos podem ser uma educação muito rígida e repressora, excesso de timidez, medo de se mostrar para o outro e até um trauma, como um abuso sexual. Já a causa secundária é quando estava tudo bem e o desejo foi se perdendo progressivamente. O termômetro para saber se algo está errado é ver se causa sofrimento para a mulher ou no casal.

"As mulheres não foram educadas para terem autonomia sobre o sexo. Cresceram em uma sociedade cheia de tabus e crenças, onde tudo é proibido e feio. Muitas não tiveram uma educação sexual e, em alguns casos, a infância e a adolescência foram marcadas pela privação afetiva. Isso traz danos à vida adulta, pois ela acha que sentir qualquer desejo e vontade é pecado", afirma a terapeuta e educadora sexual Sabrina Munno.

Como resolver o problema

O primeiro passo é procurar um ginecologista e eliminar qualquer suspeita de origem fisiológica, como desequilíbrio hormonal, doenças crônicas. É feita também uma análise dos medicamentos e do anticoncepcional que a paciente utiliza.

Como a mulher precisa ser avaliada por uma equipe multidisciplinar, a etapa seguinte é procurar um médico especializado em sexualidade, um psicólogo ou um terapeuta sexual. "Por ser um assunto complexo, é preciso identificar as causas de forma geral. Muitas vezes, o ritmo de vida da mulher é tão intenso que ela só quer dormir de tão cansada. E sexo requer energia, senão torna-se mecânico", afirma a médica Carolina Ambrogini.

Durante o tratamento, há uma orientação sobre os hábitos de erotização do casal. Se a mulher está cansada, será preciso propiciar momentos de relaxamento. O casal deve criar momentos de intimidade a dois, ter momentos de lazer, sair para dançar, tomar um vinho, assistir a uma série erótica, ir a um motel, por exemplo. Ou seja, retomar pequenos prazeres da vida a dois.

A terapeuta sexual Sabrina Munno ressalta que a terapia sexual propiciará o direcionamento adequado à mulher e ao casal, para que ambos se reconectem e se reencontrem. "Geralmente, indicamos que ela inicie as sessões e, no decorrer do tratamento, verificamos a possibilidade de o parceiro participar, o que traz bons resultados."

No caso da falta de orgasmo ou das dores na hora do sexo, é preciso que haja uma avaliação geral da paciente, muito semelhante a que é feita no caso de falta de libido.

A siririca que liberta

Sabrina Munno ainda ressalta que o autoconhecimento, por meio da masturbação, é o grande aliado para uma vida sexual saudável em todos os sentidos. "Mulheres se toquem, se conheçam. Só assim será possível explorar seus desejos e, consequentemente, chegar ao orgasmo. Mostre aos parceiros o que gostam. É libertador. Costumo dizer que quem mais conhece a vulva de uma mulher é a depiladora, o ginecologista e o parceiro. Mas e elas? Pensem nisso com carinho", finaliza a terapeuta sexual.

Serviço: O projeto Afrodite, da Unifesp, presta atendimento gratuito. Na rua Embaú, 66, Vila Clementino, SP. De segunda a sexta, das 7h às 15h30.

"Tinha preguiça de transar"

Quando ainda estava casada, a fisioterapeuta Márcia*, 40 anos, percebeu que foi perdendo a libido de forma gradativa. Logo ela, que na época estava com 33 anos, no auge da sua sexualidade.

"Tinha preguiça de transar, não entendia muito bem o que estava errado, mas ficava bastante chateada, pois achava que meu casamento poderia acabar por conta disso. Após ler diversas matérias sobre terapia sexual, fui procurar ajuda", afirma.

Durante o tratamento, a fisioterapeuta descobriu que precisava se conhecer melhor, conversar com o parceiro. As travas no sexo tinham muito a ver com uma educação sexual repressora e com pouca informação, já que sua mãe engravidou muito nova, o que deixou algum tipo de trauma.

"A terapia sexual foi essencial nessa mudança em minha vida e em meus relacionamentos após o término do meu casamento. Eu fui sem saber muito bem o que estava acontecendo, só não tinha ânimo. A terapeuta fez muitas perguntas e muitas delas eu não entendia o fundamento, mas depois ficou tudo muito claro. A terapia faz você ir longe. Me livrei de crenças a respeito da minha sexualidade, minha autoestima melhorou e hoje me sinto mais segura."

*O nome foi trocado a pedido da entrevistada