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Cássia em A Dona: por que cenas de abuso são gatilho para algumas mulheres

Cássia passa um susto com um violentador que conheceu na internet -
Cássia passa um susto com um violentador que conheceu na internet

Ana Bardella

De Universa

07/10/2019 21h47

Imagens de abuso sexual são corriqueiras em novelas. A última, vivida pela personagem Cássia (Mel Maia), de A Dona do Pedaço, não culminou em um estupro, mas causou impacto pelo contexto: a jovem, que está no Ensino Médio, foi enganada por um homem mais velho que conheceu na internet e por muito pouco escapou de uma tentativa de abuso sexual.

Foi divulgado na mídia que, no capítulo de hoje (7), a garota seria obrigada a vestir uma lingerie em um hotel e só depois de luta física conseguiria sair. A atriz chegou a postar fotos em que aparecia despenteada e suja. Na que foi ao ar, Cássia se deu conta do perigo ainda na lanchonete e se livrou do assediador jogando um suco na cara dele.

Na opinião de Mirtes Gonzalez, psicóloga e terapeuta de casais, cenas fortes de violência sexual são capazes de causar arrepios em qualquer pessoa. "Elas chamam a atenção e podem causar repulsa por envolverem adolescentes em uma situação de vulnerabilidade", ressalta. No entanto, para algumas mulheres, o impacto é ainda maior. Entenda o porquê:

Traumas revividos

Para alguém que já passou por uma situação de abuso sexual, o acontecimento fica enraizado na mente. "Ainda que mais de 20 anos tenham se passado desde que a situação aconteceu, o cérebro é capaz de gravar os detalhes e revivê-los como se estivessem ocorrendo neste exato momento", explica a profissional.

Maria Regina Daroz Bevilacqua, psicóloga clínica e terapeuta brainspotting, esclarece o significado da palavra "gatilho". "Trata-se de um evento que se conecta a outro, do passado, despertando emoções", diz. Estes eventos podem ser a cena de uma novela ou filme, a presença de alguém, uma imagem e até mesmo um cheiro ou um som. Quando eles são acionados, podem gerar suor excessivo, tremores e ansiedade.

Consequências para a vida

Quem passou por uma violência sexual pode apresentar diferentes sequelas. "Algumas delas, quando se manifestam de forma permanente, podem ser consideradas patologias. Entre as possíveis consequências deste tipo de abuso estão o transtorno pós-traumático, transtornos alimentares, dificuldades em se relacionar de forma afetiva e sexual e até mesmo tentativas de suicídio", aponta Mirtes. Outra possibilidade é a de que a mulher sinta sua autoestima diminuída e se torne mais frágil emocionalmente. "Ela pode não se gostar mais e ter dificuldade em se valorizar", complementa.

Para evitar o susto

Nem sempre é possível evitar o susto, mas a indicação das profissionais para quem ainda se sente emocionalmente fragilizada por uma situação de abuso sexual é procurar ajuda profissional. "O auxílio psicológico pode ajudar a ressignificar e lidar melhor com o ocorrido. Um dos tratamentos que recomendo é o EMDR, uma sigla em inglês que significa 'dessensibilização e reprocessamento através de movimentos oculares'. Trata-se de uma técnica reconhecida pela Organização Mundial da Saúde na qual o paciente, fazendo movimentos com os olhos e trazendo à tona os pensamentos traumáticos consegue reprocessar o ocorrido na mente, aliviando o estresse", indica.

Existem movimentos de mulheres que pedem também por alertas de gatilho em novelas e até posts na internet. Ou seja, um aviso de que o conteúdo que será consumido a seguir poderá despertar emoções em quem já passou por uma situação parecida. Na visão de Mirtes, o recurso pode ajudar, mas não é o suficiente para aliviar de vez o trauma.

Nos casos em que a memória está muito viva, só o assunto 'abuso' já pode ser o suficiente para causar o pico dos sentimentos