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Na vida real, parceiros parasitas como Régis dificilmente se redimem

Maria da Paz (Juliana Paes) e Régis (Reynado Gianecchini) em A Dona do Pedaço - Globo/João Miguel Júnior
Maria da Paz (Juliana Paes) e Régis (Reynado Gianecchini) em A Dona do Pedaço Imagem: Globo/João Miguel Júnior

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

06/10/2019 04h00

Apaixonado de verdade por Maria da Paz (Juliana Paes), o bon vivant Régis (Reynaldo Gianecchini) está disposto a abandonar o passado movido a atitudes interesseiras para conquistar o coração da boleira. Tudo indica que ex-malandro será páreo duro para Amadeu (Marcos Palmeira) nos próximos capítulos de "A Dona do Pedaço". Ao contrário do que acontece na trama das 21h da Rede Globo, na vida real pessoas do tipo parasita como Régis dificilmente se recuperam. Pelo contrário: quando uma relação não oferece o que eles desejam, pulam para a próxima sem um pingo de remorso a fim de obter dinheiro, prestígio, status etc.

É válido lembrar que o parasita se alimenta sempre de um hospedeiro. "Essa designação é emprestada da biologia, quando um organismo se aloja em outro, se alimentando, literalmente, do outro. Em relacionamentos, dizemos que existe quando um dos parceiros apresenta posturas e atitudes que o beneficiam, mas que prejudicam seu par, podendo causar danos significativos", explica o psicoterapeuta e terapeuta de casal Luciano Passianotto, de São Paulo (SP).

De acordo com Luciano, existem dois tipos de parasitas. Os primeiros são os pouco perigosos, aqueles sem muita competência nem vontade para enfrentar a vida ou alcançar objetivos e que procuram alguém para realizar por eles aquilo que têm preguiça ou incapacidade de fazer. "Já o segundo grupo, muito perigoso, inclui aqueles que procuram uma presa fácil e se aproximam para conseguir tirar dela o que quiserem. São pessoas que iniciam a relação passando a ideia de que tudo será uma maravilha, com promessas, atenção, sedução... Até o dia em que esquecem a carteira em um jantar, pedem ajuda para pagar alguma parcela, se instalam no apartamento e até abrem uma conta conjunta para 'facilitar' as coisas", descreve o psicólogo.

Já Alexandre Bez, psicólogo especializado em relacionamentos, de São Paulo (SP), pontua que quem assume a função de hospedeiro, em geral, apresenta algum tipo de neurose. "A pessoa tem, essencialmente, transtornos de dependência e de carência. Por causa dessa desorientação psicológica a tarefa do parasita em dominar, sugando o hospedeiro, fica mais fácil", diz.

Segundo a psicóloga Denise Figueiredo, sócia-diretora do Instituto do Casal, em São Paulo (SP), para saber se está se relacionamento com uma pessoa parasita é preciso verificar se ambos estão se beneficiando da relação e se existe equidade nela. Isso porque nem sempre a meta do parasita tem a ver com finanças.

"Se o relacionamento pressupõe que um tem mais benefícios do que o outro, é necessário analisá-lo com cautela. Por exemplo, quando só uma das partes faz os serviços da casa. Outros exemplos são a vontade de não fazer nada em prol da relação, a exigência de submissão, utilizar da falta de autoestima do parceiro para se beneficiar, entre outros", comenta Denise, que destaca que não é somente nas relações afetivas que existe esse tipo de relação. "Precisamos ficar atentos também na vida profissional e como as relações no ambiente de trabalho são estabelecidas", completa.

Uma relação com um parasita tem futuro?

Na opinião de Denise, toda relação pode ter um futuro. "Mas de que futuro falamos? Talvez um com desigualdades de oportunidades, com concessões apenas de um dos lados", questiona. Para a especialista, quanto mais equilibradas forem as relações mais possibilidade de felicidade os casais têm. Fora das interações romanceadas das novelas, a boa vontade e o amor genuíno nem sempre são capazes de mudar a natureza de alguém. "Não há mudança comportamental porque caráter não se altera, é uma questão de formação da personalidade atendendo à uma etapa cronológica de construção psicológica, se fechando definitivamente aos oito anos de idade", explica Alexandre.

"Traços de personalidade definem quem nós somos. Algumas ações podem ser planejadas e arquitetadas, mas se esse é o âmago da pessoa, ela irá também agir assim de forma reflexa e defensiva, muitas vezes sem nem perceber o mal que está fazendo", salienta Luciano, para quem, conforme a experiência clínica, raramente uma pessoa com comportamento parasítico vai mudar. "Seu objetivo principal não é o amor pelo parceiro, mas a comodidade do seu modo de vida. Se vierem juntos, tudo bem, caso contrário ele já sabe por qual optar. Tentar sensibilizá-lo, expressando seus prejuízos, pode até ajudar a diminuir sua carga, mas não vai mudar completamente a personalidade de ninguém", pondera.

Existem algumas previsões de "cenário" para uma relação parasita x hospedeiro. Uma delas é a pessoa "sugada" ficar farta e acabar a relação, não sem sofrimento e danos emocionais. Outra é seguir em frente e passar o resto dos dias penando e aturando o parasita com seus caprichos, demandas e confusões. "Há também a possibilidade de a pessoa assumir para valer o papel de hospedeiro, porém criando regras claras e rígidas para minimizar prejuízos, como esconder sua grana, não ter pena, não ajudar em determinadas situações. É um futuro, mas não é um futuro fácil nem prazeroso", aponta Luciano.

Para Alexandre, no entanto, o mais comum é que o próprio parasita tome a iniciativa de romper a relação diante de uma nova oportunidade para tirar proveito, já que o envolvimento emocional é mínimo e até mesmo inexistente. Quando o parasita leva um fora, via de regra tenta de todos os jeitos manter ou recuperar o que perdeu através de promessas de mudança, tentativas de acordo e juras de amor. "O ideal é não dar ouvidos para promessas vazias, não negociar compensações e nem dar esperanças de um possível retorno. Alguns relacionamentos podem parecer compensar, mas são completamente tóxicos", conta Luciano.