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Quando o excesso de ativismo e textão prejudicam sua carreira? Descubra

Palanque virtual pode ser suicídio profissional - iStock
Palanque virtual pode ser suicídio profissional Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

29/09/2019 04h00

A internet deu voz a todo mundo, mas não são todas as pessoas que sabem aproveitar o palanque virtual. Ao expressar sua indignação com algo ou defender alguma causa, vale a pena avaliar o quanto isso pode impactar na sua carreira. Mesmo as profissões mais, digamos, livres de regras e normas têm uma certa conduta implícita a seguir. Para saber os limites que não devem ser ultrapassados, siga essas dicas.

Lembre-se: a internet é apenas UM instrumento de sensibilização social dentro de um contexto maior. A defesa de causas sociais nas redes são, sim, mobilizadoras de recursos e formadoras de massa crítica. Porém, de nada adianta caprichar no discurso virtual e não fazer nada coerente no plano real.

O seu ativismo não pode nem deve lhe causar sofrimento

Se há dor psíquica ou envolve algum grau de ansiedade, melhor rever sua postura — se possível, com a ajuda de um profissional. Muitas vezes a raiva e a frustração com outras coisas leva as pessoas a descontarem tudo em posts raivosos que só trazem alívio imediato, causando muita dor de cabeça depois. Coloque sua saúde mental sempre em primeiro lugar.

Evite se envolver em discussões muito polêmicas ou fazer declarações agressivas

O ambiente virtual é um espaço tão público quanto a rua. Só que a visibilidade é muito maior e, uma vez postado você não consegue controlar quantas pessoas você vai atingir.

Modere suas palavras

Tanto a forma de falar quanto o que postar devem ser colocados em uma balança: vale mesmo a pena expressar essa opinião? Caso conclua que, sim, sempre meça as palavras. Escolha-as bem para defender o seu pensamento sem ferir quem tem ideias opostas.

Não abuse da liberdade

Você trabalha em esquema de home office? Com o crescimento dos trabalhos informais, é comum que muitas pessoas cumpram suas tarefas de casa - ou seja, sem a vigilância de chefes e com maior autonomia. Porém, se você precisa respeitar um horário de trabalho fixo não use as mídias sociais durante esse expediente, independente do que você irá postar. Alguém está confiando que você tem responsabilidade profissionalismo trabalhar sem supervisão, então faça jus a isso.

Seus posts estão alinhados com os valores da empresa em que trabalha?

Se não, talvez seja necessário abrir mão de expressar certas opiniões ou procurar uma organização na qual se sinta mais à vontade para manter seu ativismo e que até incentive essa atitude.

Criticar demais não é uma boa

Expressar o que pensa e sente é uma coisa, bancar o crítico em relação às opiniões de outras pessoas é algo bem diferente. E que pode queimar o seu filme, já que pode ganhar fama de encrenqueira. Pronuncie-se apenas quando o assunto atingi-la diretamente e mesmo assim de forma assertiva e educada. A omissão, dependendo das circunstâncias, não é falta de identidade ou personalidade, mas uma forma de autopreservação.

Entenda que uma tela não a torna anônima

Controle seu emocional, respire e leia atentamente cada palavra do que deseja postar. Você teria coragem de falar aquilo pessoalmente? O que você vai ganhar com isso? Saiba que, algumas vezes, o dano é irreversível e sua publicação pode se imortalizar nas redes sociais. E tenha em mente que a sua lista de amigas é mista, composta por chefes, colegas de trabalho, amigos e familiares.

Antes de postar, reflita

"Quem eu quero atingir com isso?". Será que não seria melhor conversar com a pessoa no privado antes de postar? Essa vontade de "vomitar as palavras" na internet pode trazer um retorno desnecessário e vai criar um rótulo para você que nem precisava ter. Mais uma vez, vale a pensa frisar: é preciso ter muito cuidado ao observar como está a sua saúde mental e analisar os motivos de você querer estimular um debate sobre determinado assunto. Às vezes um simples comentário pode ofender alguém, mesmo que essa não seja a intenção.

Não crie um personagem nas redes

Nem compre brigas só para ganhar evidência. Isso pode confundir as pessoas sobre sua real personalidade. Dependendo da área em que você trabalha, isso pode atrapalhar bastante as suas chances na carreira.

Banque possíveis conflitos

A exposição de um pensamento na internet volta e meia gera um ruído. Entenda que a crítica não é sobre você, e sim sobre sua ideia. Não dê início a brigas que levam para o lado pessoal. E mais: você está com tempo sobrando para ficar respondendo, retrucando, debatendo? É importante refletir sobre o que é importante naquele momento, ainda mais se o seu trabalho absorvê-la demais.

Cuidado com o overpost

Mesmo que seja tentador dar uma opinião atrás da outra sobre o assunto do momento, o excesso de postagens pode transmitir a mensagem de que você está sem nada para fazer ou que vem usando o tempo destinado ao trabalho de maneira inadequada. O conselho vale, inclusive, para empresas mais informais e moderninhas. Esse tipo de exagero não só passa a impressão de tempo livre como de um temperamento mais "obsessivo".

Atenção, autônomos e freelancers!

Marketing pessoal não é um conceito batido nem uma estratégia que deva ser subestimada. Lembre-se que em meio ao público-alvo de seus posts podem estar futuros clientes. Antes de postar, avalie se vai atrair ou repelir algum trabalho em potencial com suas ideias e se está preparada para lidar com possíveis conflitos.

Vai fazer textão para defender um ponto de vista ou criticar algo?

Antes, reveja o seu nível de conhecimento e propriedade sobre o assunto para não pagar mico. E, se seu post tiver como base o compartilhamento de alguma notícia, assegure-se antes de que a fonte é idônea para não correr o risco de divulgar fake news.

Lição para a vida: o tom que é dado ao texto sempre importa. Em uma escala de zero a 100 de intensidade ou agressividade, possivelmente se você parar no zero, vai passar a impressão de não ter opinião própria, já próximo ao 100, passará a impressão de ser radical. Equilíbrio, portanto, é tudo.

FONTES: Alexandre Scherrer, coordenador da pós-graduação em Gestão de Mídias Digitais da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), em São Bernardo do Campo (SP); César Vilaça, professor do curso de Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo (SP); Claudia Melo, psicóloga do Rio de Janeiro (RJ); Giselle Franco, gerente executiva da filial Rio de Janeiro da Thomas Case & Associados: Transição de Carreira e Recolocação; Janaina Manfredini, especialista em estratégia e gestão da Effecta Coaching, de Blumenau (SC); Luciano Salamacha, doutor em Administração de Empresas, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em programas de pós-graduação, professor do "Quadro de Honra de Docentes" da FGV Management e coordenador do MBA de Neurociências da ESIC - Business & Marketing School Internacional; Nyna Gomes, especialista em Marketing Digital e Mídias Sociais, de Poços de Caldas (MG); Paulo Saphi, coach e mentor de negócios, do Rio de Janeiro (RJ) e Reinaldo Passadori, fundador e CEO da Passadori Comunicação - Liderança e Negociação, em São Paulo (SP), mestre em neuromarketing pela Florida Christian University (FCU-USA) e palestrante.