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Alice Wegmann: "Mostrar o meu corpo sem edições hoje é um ato político"

Anna Olívia Duarte
Imagem: Anna Olívia Duarte

Gustavo Frank

De Universa, em São Paulo

24/09/2019 16h01

Alice Wegmann apareceu na televisão pela primeira vez aos 15 anos, como Andréia na décima oitava temporada de Malhação. Atualmente, a atriz é um dos nomes mais promissores da Rede Globo para a nova geração de atores - e não à toa. A carioca, de 23 anos, vai além e usa sua visibilidade, tanto nas telinhas como nas redes sociais, em que acumula milhões de seguidores, para tratar de discussões atuais.

"Antes de fazer 15 anos, eu tinha um blog em que eu já escrevia coisas políticas, sem perceber. Já reclamava do governo e falava de coisas absurdas que aconteciam por aí sem saber muito bem o porquê. Era uma insatisfação com essas coisas, com as injustiças. Eu me considero uma pessoa justa, com um senso de justiça que não me permite ficar calada. Se eu tenho um canal para usar isso, não faz sentido ficar quieta", opina em entrevista a Universa durante a campanha de Inverno 2020 da Eva.

Alice argumenta ainda sobre a conexão entre a arte e a política no seu trabalho: "Antes de ser atriz, eu sou uma cidadã. Então eu tenho o direito de me manifestar, de me colocar, exercer minhas ideias, meus valores, meus ideais. Eu não tenho medo disso, isso é quem eu sou, é a minha verdade, é o que eu acredito, é por isso que eu luto, que vou atrás. Acho que o mundo tem muita coisa para mudar, enquanto isso não acontecer não tem porque ficarmos parados. Eu acho que quem está incomodado tem que ver seus problemas. Esse é o meu jeito de ser, minha verdade, minha essência".

Em uma era filtros, a atriz reflete sobre a exposição do que é real, como quando posou ao natural para a capa da revista Marie Claire.

"Eu acho que colocar o nosso corpo sem edições hoje em dia também é um ato político, digamos assim. Acho que a gente está rolando o feed o tempo todo, vendo tudo irreal, de uma forma que não parece de verdade, editada. Acho que durante muito tempo da minha vida, na verdade, eu vivi dessa forma. Tenho gostado cada vez mais de mostrar a minha vida real, a minha vulnerabilidade. Estar ali naquele momento foi muito importante porque condizia muito com o que estava sentindo, com o meu momento. Estava muito à vontade, não foi uma grande questão. Foi tudo muito natural e mais simples do que teria sido dois anos atrás. Eu não estaria confortável antes. Desta vez, para mim, era só mais uma foto, e ao mesmo tempo um motivo de orgulho".

O fim de Dalila, o começo de uma nova Alice

Alice - Anna Olívia Duarte - Anna Olívia Duarte
Imagem: Anna Olívia Duarte

Nesta sexta-feira (27), Alice se despede de sua primeira vilã Dalila, de "Órfãos da Terra", em que pôde retratar temas sociais e abrir discussões sobre o feminicídio, o machismo e a crise humanitária ao redor do mundo, envolvendo refugiados.

"Não foi uma novela fácil, mas foi muito boa e significativa. Está terminando e acho que estou fechando com chave de ouro, com sensação de dever cumprido e muito orgulhosa. Não é fácil separar o psicológico da personagem do psicológico da minha vida", opina.

"Algumas vezes, eu ia para casa chorando, dirigindo com aquela sensação que vivia dentro do estúdio. Não é fácil de trabalhar, não é uma profissão que a gente tem que pensar só no glamour, precisamos pensar nas consequências dessas cenas de choro, por mais que seja uma lagriminha ou outra, o que isso nos causa, o que faz a gente sentir de verdade, quais são os efeitos. Nós somos sensíveis, o artista tende a ser muito sensível, a gente sente na pele isso o tempo todo. Então, foi muito importante para eu ver o quanto precisava me cuidar em todos os campos", relembra. "Pratiquei exercício físico, fiz minhas terapias holísticas, análise. Estava em todos os campos fazendo de tudo para me manter forte, para não deixar a personagem me derrubar. Acho que foi isso que me manteve ativa e vibrante todo o tempo".

Alice Wegmann para a campanha de Inverno 20 da Eva no interior do Rio de Janeiro - Anna Olívia Duarte - Anna Olívia Duarte
Alice Wegmann para a campanha de Inverno 20 da Eva no interior do Rio de Janeiro
Imagem: Anna Olívia Duarte

Foi nos bastidores da produção que a carioca encontrou com outras atrizes de sua geração, algo visto com empolgação por ela — que começou na televisão ao lado de Agatha Moreira, a também vilã Josiane em "A Dona do Pedaço", e agora compartilha com ela o sucesso estrondoso de suas personagens em suas respectivas tramas.

"Eu felizmente divido meu trabalho com muitas mulheres legais. Digo isso com o maior prazer. Fiz a novela agora com meninas próximas da minha idade, um elenco recheado de garotas da minha geração e todas cumpriram seu papel brilhantemente. Todas aproveitaram tudo o que podiam. É tão bacana ver isso, e viver em um ambiente harmonioso que tem troca, olho no olho, verdade, e que você pode acreditar e confiar nas pessoas. É um bom momento para ser mulher nesse sentido porque a gente pode se apoiar muito. Eu nunca me senti tão confortável em um camarim de novela. Claro que nas outras tive grandes encontros, mas nessa foi tão especial, estamos neste processo de libertação, então esta fase está sendo muito importante."