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"Meu ex me perseguiu na igreja e os pastores se negaram a me ajudar"

D.M. deixou de frequentar a igreja depois que o ex foi atrás dela em um culto - Getty Images/iStockphoto
D.M. deixou de frequentar a igreja depois que o ex foi atrás dela em um culto Imagem: Getty Images/iStockphoto

Camila Brandalise

De Universa

17/09/2019 04h00

A dentista mineira D. M.*, 42 anos, se separou do marido um mês após a filha do casal nascer, em 2017. Durante trocas de mensagens em que discutiam sobre a guarda da criança, o ex escreveu: "Vou te matar. Domingo vou na igreja e te acho".

Após as ameaças, D. foi à delegacia registrar um boletim de ocorrência e conseguiu uma medida protetiva, exigindo que o ex não se aproximasse dela nem estivesse no mesmo ambiente.

Mas, em um domingo de culto, ele apareceu na igreja neopentecostal que D. frequentava, em Sacramento (a 400 km de Belo Horizonte). "Entrei em desespero." A dentista procurou o casal de pastores para chamar a polícia, uma vez que a medida protetiva havia sido descumprida. "Eles simplesmente disseram que não era para chamar a polícia", diz. , "Fui embora aos prantos." Depois, em uma troca de mensagens com o pastor, ela pediu ajuda para impedir que o ex frequentasse o culto. "Deus irá nos ajudar a resolver tudo isso", foi a resposta.

Leia o relato completo:


"Conheci meu ex pelo Facebook em 2014. Já tinha visto ele na cidade, mas nossas primeiras conversas foram pelo Face. Marcamos um encontro e logo começamos a namorar. Mas, já nessa época, ele começou a falar coisas ruins sobre mim. Falava que eu fedia, que era gorda. Hoje, percebo que era dependente emocional dele, achava que ele estava certo, que o problema era comigo.

Depois que fiquei grávida, os abusos emocionais pioraram. Eram ainda mais xingamentos, ele sumia aos finais de semana. Comecei a fazer terapia e consegui me separar em maio de 2016, quando a bebê tinha um mês. Ele dizia que ia mudar, deixava flores no meu carro, cartas... Tivemos algumas reconciliações. Tive uma maternidade solo, muito difícil. Dei uma chance. Mas a situação após a fase de lua de mel foi pior do que a das outras vezes. Ele me ignorava, ficava em casa, como se tivesse nojo de mim. Até que ele saiu de casa e nos separamos de vez.

Ele começou a sumir e aparecia depois dando um escândalo porque queria ver a menina, dizendo que eu não deixava ele encontrá-la. Dizia coisas como: 'Você vai ver minha raiva sobre você'. Contei que tinha procurado um advogado por causa das ameaças dele, que ele poderia ser preso. Fiz um boletim de ocorrência e consegui uma medida protetiva, que ele descumpriu. Ficou preso por três meses e, depois que saiu, ficou um tempo sumido.

Em março de 2019, ele me procurou e foi visitar a bebê. Mas continuava me ofendendo. Um dia me chamou de filha da puta e disse que eu largava a filha dele com os outros para sair. Me chamou de desgraçada, puta, porca, biscate e falou que no domingo ia à igreja atrás de mim. Era uma madrugada e, no outro dia, decidi fazer outro boletim de ocorrência e consegui a segunda medida protetiva.

Em um domingo de maio, eu estava assistindo ao culto normalmente e vi ele entrar. Um irmão da igreja foi até ele e conversaram. Chamei esse irmão e disse que ele não poderia ficar por causa da medida, e essa pessoa disse que meu ex não ia sair de lá. Fui falar com o pastor e a pastora, nisso já estava desesperada e chorando. Mostrei a medida protetiva — carrego uma cópia do documento comigo —, e simplesmente disseram que não era para chamar a polícia. Desamparada, fui embora com minha bebê.

Meu ex passou a chegar antes de mim à igreja porque sabia que eu não entraria. Mandei uma mensagem para os pastores novamente para que fizessem algo, falassem com ele, pedissem que ele não fosse aos cultos. 'Deus irá nos ajudar a resolver tudo isso', me disseram. Nada aconteceu.

Fazia parte do grupo da igreja no Whatsapp e nas redes sociais e sempre via fotos das pessoas da igreja em eventos com ele, como se nada tivesse acontecido. Eu frequentava os cultos antes mesmo de conhecê-lo, mas parei de ir à igreja porque estava me fazendo muito mal. Nunca tive apoio e todos sabiam da agressividade dele.

O delegado me orientou a bloquear ele em tudo. Foi o que fiz e, por enquanto, não sei dele. Entrei com um processo de regularização de visitas à nossa filha, mas ainda não teve conclusão."

*O nome foi ocultado para proteger a entrevistada.

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