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CE: suicídio de empresária passa a ser tratado como feminicídio após vídeos

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/09/2019 22h00

Imagens de câmeras de segurança de um prédio levaram a Polícia Civil do Ceará a investigar a morte de uma empresária de 46 anos em Fortaleza. Tratado inicialmente como suicídio, o caso está sendo investigado agora como um possível feminicídio praticado pelo companheiro dela, com quem morava havia quatro meses. O suspeito nega o crime.

Jamile de Oliveira Correia e o advogado Aldemir Pessoa Júnior moravam juntos em um condomínio de luxo no bairro do Meireles. Na noite do dia 29, eles tiveram uma discussão, e a empresária levou um tiro no peito. Ela foi levada para o Instituto Doutor José Frota, onde foi socorrida e passou por cirurgia na madrugada do dia 30. Dois dias após o tiro, ela não resistiu e morreu.

O principal ponto a levar à investigação do caso foi a apreensão dos dois vídeos gravados por câmeras do circuito interno do prédio onde morava o casal.

O UOL teve acesso aos dois vídeos. O primeiro deles mostra uma suposta discussão entre Jamile e o companheiro no carro, na garagem do prédio onde moravam. Em seguida, ela sobe primeiro para o apartamento e no elevador ainda tira um anel (aparentemente uma aliança) e tenta amassá-lo. Em seguida, é ele quem chega aparentando certo nervosismo, chama o elevador e sobe para o apartamento.

O segundo vídeo mostra Jamile já ferida, com um aparente hematoma no olho e uma mancha de sangue na região do tórax provocada pelo tiro. As imagens ainda mostram que Jamile foi socorrida pelo advogado e pelo filho dela, de 14 anos, que aparece inicialmente dentro do elevador arrastando a mãe.

Hoje, o menor prestou depoimento à polícia, mas o caso é tratado em segredo pelas autoridades. O menor perdera o pai, ex-marido de Jamile, em um acidente em 2017.

Na versão dada pelo suspeito, ele e Jamile teriam discutido e, após isso, ela teria ido ao closet do apartamento, pegado a arma de propriedade do advogado e disparado contra o próprio peito. Imediatamente depois, ela foi socorrida. O menor estava no apartamento no momento do tiro.

Segundo suspeita a polícia, o tiro pode ter sido disparado por Aldemir, e não pela própria vítima. A Polícia Civil do Ceará disse que o caso está em investigação e não irá se pronunciar até a conclusão da apuração.

Eu a amava, diz suspeito

O suspeito do crime conversou com o UOL nesta noite e afirmou ser inocente. "Eu a amava e não tinha qualquer motivo para fazer o que injustamente dizem de mim. A verdade prevalecerá", disse.

O advogado alegou estar profundamente abalado com a suspeita sobre ele e disse que não gostaria de se alongar na entrevista. Ele enviou à reportagem uma cópia do termo de depoimento do médico que atendeu Jamile na hora em que ela deu entrada no hospital, prestado hoje à Polícia Civil.

No termo, o médico afirmou que Jamile chegou com aparente tranquilidade e consciente à unidade e ainda respondeu, quando perguntada sobre o que teria causado o ferimento, que "isso foi um tiro que dei em mim mesma".

O médico ainda disse à polícia que viu a marca do tiro no tórax direito e um hematoma na região frontal esquerda. Em seguida, a paciente foi encaminhada para exames e cirurgia.

Ainda segundo o depoimento, Aldemir foi questionado pelo médico e confirmou que houve uma discussão entre o casal, mas disse que ela mesma atirou.

"Nesse sentido, [o depoimento] colabora com toda a minha verdade dos fatos. Não preciso falar mais nada", alegou.

O advogado não respondeu se teria agredido Jamile antes do disparo que a matou.