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Você decidiu perdoar a traição. E agora, como retomar o sexo numa boa?

Como retomar a relação? - iStock
Como retomar a relação? Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

09/09/2019 04h00

Uma traição sempre acaba abalando a estrutura de um casal. É comum que a decisão de perdoar ou não se mostre mais difícil conforme os dias vão passando -- e, mesmo depois que a pessoa traída escolheu confiar e continuar ao lado par, seja complicado retomar a vida sexual. Trata-se de uma situação complexa, mas que deve e pode ser enfrentada se os dois querem mesmo seguir juntos.

Segundo o psicoterapeuta e terapeuta de casal Luciano Passianotto, de São Paulo (SP), primeiramente é preciso separar o perdoar do confiar. "O perdão normalmente ocorre pela análise de uma série de fatores, como o tempo que estão juntos, todos os momentos felizes que compartilharam, o quanto construíram, se têm filhos etc., e que, somados, representam mais do que a traição", afirma.

Isso não quer dizer, entretanto, que quando há perdão os problemas automaticamente se resolvem. Não é por aí. É necessário identificar o que levou à infidelidade para, a partir daí, conversar e traçar combinados para que a traição não se repita. E é preciso lembrar que a reconstrução gradual da confiança é um processo difícil e doloroso, já que, ao voltar a transar depois que tudo veio à tona, é comum que o casal se depare com alguns obstáculos. "Mesmo se os fatores que levaram à traição são entendidos, é inevitável surgirem sentimentos de que algo na vida sexual do casal não ia bem e que precisa ser trabalhado, seja a frequência do sexo, a performance ou a realização de fantasias. Começar a aplicar essas mudanças pode gerar estresse e ansiedade", diz Luciano, que comenta também que quem traiu também fica em uma posição desconfortável, de certa "dívida" com o par.

Pode mexer com o sexo...

O baque na autoestima de quem sofreu a traição precisa ser trabalhado, pois afeta a sexualidade. Ser traído impacta a autoconfiança, portanto, comparações acabam sendo inevitáveis. "Há uma quebra da idealização de si mesma e do outro, que abala a autoimagem e a imagem que ela imagina que o par faz dela. A infidelidade quebra essa representação interna de que se é amada, desejada e especial. E ainda põe por terra a idealização do par", observa Carmen Cerqueira Cesar, psicoterapeuta e terapeuta de casais, de São Paulo (SP). "A traição machuca a alma, fere o orgulho e muda completamente a percepção de alguém sobre si mesmo e os outros. A certeza de ser uma pessoa amada e especial vai por água abaixo, dando margem para novos medos, insegurança e a angústia de não saber mais em quem ou no que acreditar", endossa Raquel Fernandes Marques, psicóloga da Clínica Anime, na capital paulista.

É por isso que a dor da descoberta vai e volta. "Parece que a pessoa traída superou e dali a pouco, pronto, está sofrendo de novo! Quem passa por essa decepção costuma ter momentos de baixa e precisa ser acolhida em sua dor, muitas vezes durante a transa mesmo", fala Carmen.

Na hora H, surge a armadilha de ficar imaginando o que a "outra" tinha de melhor ou o que faziam na cama de tão fantástico. A pessoa traída tende a ficar muito insegura com sua performance e pode se sentir inibida ou exagerar na performance, tentando agradar o par de uma maneira que vai acabar parecendo artificial.

Comunicação é a resposta

O melhor caminho é a conversa franca sobre a relação e a redescoberta da intimidade sexual e amorosa, aos poucos. É preciso falar muito sobre o assunto, de uma forma honesta, profunda e respeitosa. A comunicação é a chave para colocar o relacionamento em ordem. "No entanto, deve-se evitar pedir detalhes sobre como foi, com quem foi, onde, de que forma, etc. Toda informação que você tiver sobre a traição é material para criar fantasmas e neuroses sobre o que aconteceu e assim não permitirá que vire a página. Conhecer os detalhes não vai fazer você se sentir melhor. O ideal é focar no seu par e viver o momento atual", sugere Raquel.

Como tudo na vida, dá para tirar algum aprendizado da experiência. Para Luciano, trata-se de uma oportunidade para abandonar a fantasia de que a estabilidade do casal é suficiente para que a vida a dois possa ser deixada em segundo plano. "Uma traição pode ser o alerta que faz o casal despertar e rever suas prioridades e a forma como estão conduzindo suas vidas", declara. Se uma pessoa é infiel por sentir falta de algo no relacionamento, o outro precisa saber o que é que está faltando. Cabe a cada um a responsabilidade de revelar o que está sentindo, no que está insatisfeito, o que desejaria mudar. "De nada adianta simplesmente culpar o outro, a rotina, o tempo de relação, a qualidade do sexo e tantas outras coisas que acabam servindo de argumento para a infidelidade. Se há um problema, é preciso compartilhá-lo com o outro, para então solucioná-lo a dois", diz Raquel.

É por essa razão que, em determinadas circunstâncias, só o perdão não basta. É preciso que ambos avaliem tudo o que aconteceu e resolvam, juntos, se realmente poderão superar e retomar o relacionamento. "Claro que a pessoa que traiu precisa se responsabilizar pela dificuldade de trazer para dentro da relação os incômodos dela, mas quem foi traído também precisa se abrir para ouvir o que não estava bom dentro da relação", observa Claudia Puntel, professora e supervisora da pós-graduação em Gestalt-Terapia na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e especialista em constelações familiares. Conforme Claudia, uma das estratégias é trabalhar a autoestima em relação à comparação e competição de uma maneira geral. "Uma coisa que pode ajudar é conversar sobre como cada um se vê, o que um gosta no outro e se concentrar no que o outro gosta em você", sugere.

Não se pode simplesmente perdoar e achar que está tudo bem, pois ao menor conflito ou desentendimento a questão mal resolvida virá à tona com força total reacendendo todos os sentimentos negativos vividos. "O perdão precisa ser genuíno. O tempo ajuda muito a melhorar a confiança, mas nada vai mudar se isso não for honesto. Não adianta perdoar, manter a relação e este assunto se tornar um fantasma eterno entre o casal, mesmo que não haja reincidência", conclui Juliana Bonetti, psicóloga e terapeuta sexual, de São Paulo (SP).

O perdão faz com que a entrega na transa também seja de verdade. "Por isso acredito que o ideal é só rolar sexo quando ambos estiverem preparados para a entrega total, assim os dois terão prazer. Vale lembrar que sexo é a expressão de maior intimidade dentro de um relacionamento, é o medidor e é o que faz, inclusive, uma relação afetiva ser caracterizada como tal, caso contrário seria amizade", fala Juliana.