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"Black Barbie": jovem cria agência de moda para exaltar beleza negra no Sul

Desiree do Valle criou "Black Barbie" ainda na faculdade de Moda - Reprodução/Instagram
Desiree do Valle criou "Black Barbie" ainda na faculdade de Moda Imagem: Reprodução/Instagram

Nathália Geraldo

De Universa

08/09/2019 04h00

A estudante e produtora de moda Desiree Do Valle, 25 anos, vive em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um estado em que pouco mais de 16% da população, de acordo com IBGE de 2010, se autodeclara preta ou parda.

Para mostrar que ali "há pretos produzindo sua própria narrativa", ela se uniu a amigos como o fotógrafo Rafael Bittencourt, para criar a primeira agência negra de moda do estado.

A Black Barbie, lançada a partir de um editorial de moda de mesmo nome feito pelo time no início de 2019, tem o papel de descentralizar o mercado, acabar com o estereótipo sobre pessoas negras e, de quebra, ajudar na identificação e na representatividade de quem almeja um lugar nessa área.

Atualmente, a empresa faz editorais de moda para marcas pequenas e sustentáveis. Mas Desiree ainda quer divulgar conteúdo de moda em mídias digitais e prestar consultoria para afroempreendedores.

Black Barbie

A proposta da agência surgiu no momento em que Desiree estava desanimada por trabalhar em um shopping. A estudante, então, resolveu ressignificar uma das imagens mais icônicas de sua infância para dar cara à sua marca: a Barbie.

"Sempre gostei muito de Barbie, de rosa. Quando era criança, ganhava muitas do meu pai e todas eram loiras; eu só tinha uma [boneca] negra que usava franja e cabelo liso. Essas coisas sempre me incomodaram", conta ela.

"Mulheres negras são rainhas, deusas, Barbies e tudo o que a gente quiser ser de mais maravilhoso. Não queremos estar sempre representando guerreiras, lutar o tempo todo cansa", escreveu em seu Instagram.

A idealização de uma Barbie negra não aconteceu só na cabeça de Desiree. Um vídeo nas redes sociais mostra uma boneca, negra, com o cabelo em transição capilar, um processo muito comum entre mulheres negras e de cabelos cacheados ou crespos que faziam alisamento químico.

No Instagram, a hashtag "BarbieBlack" é uma lição de empoderamento estético: mulheres negras do mundo inteiro publicam selfies ressaltando sua própria beleza, algo pouco comum por conta do racismo.

No primeiro ensaio da agência, foram escolhidas modelos negras profissionais. Magras. No segundo, chamado "Imersão", a Black Barbie quis "mostrar a diversidade de pessoas negras, pois há muitos corpos negros que têm que ser mostrados". Dessa vez foram chamadas uma modelo trans e uma gorda.

"Não é só estético"

"Preta periférica em ascensão", como se define no Instagram, Desiree mora no bairro Rubem Berta, um dos mais violentos da capital. Para ela, a Black Barbie é um trabalho na moda com uma "questão política por trás, não é só estético", ao reunir uma equipe com mulheres na maioria (atualmente, além dela, trabalham uma maquiadora, uma fotógrafa e um assistente de produção) e dar visibilidade à periferia.

"Queria me enxergar, porque não me sentia representada. Eu não achava meus trabalhos bons porque não tinha muitas referências, por exemplo. Evoluímos nesse sentido, mas ainda é muito recente, muito pouco", avalia, em entrevista para Universa.

Primeira agência negra de moda no RS

O casting negro, como explica a estudante, é apenas uma das partes do trabalho da agência.

"Nossa intenção é ter pretas e periféricas em todos os cargos, na criação, na execução. Criar a primeira agência negra de moda no estado, um dos mais racistas do país, serve para isso: mostrar que tem preto no Sul, que as pessoas podem produzir suas próprias narrativas. E estar à frente de algo que muita gente já falou que é referência, enquanto mulher negra, com 25 anos, é contar uma história de vitória."