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Provocar ciúme no par faz bem ao relacionamento?

A pulga atrás da orelha faz bem? - iStock
A pulga atrás da orelha faz bem? Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

07/09/2019 04h00

Não são poucas as pessoas que enxergam o ciúme como uma prova de amor. E é justamente por causa dessa crença equivocada que tantos homens e mulheres se metem na armadilha de tentar provocá-lo no par a fim de comprovar: são ou não amados? Esse tipo de joguinho até pode funcionar bem entre adolescentes, já que estão na fase de experimentar como funcionam as relações. Para adultos, porém, os resultados não costumam ser nada bons.

Para Joselene L. Alvim, psicóloga clínica de Presidente Prudente (SP) e especialista em Neuropsicologia pelo setor de Neurologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), as pessoas geralmente consideram que o ciúme é o tempero do amor, uma demonstração imprescindível numa relação afetiva. "Sua ausência significaria falta de interesse e de carinho. Assim, forjar ou alimentar uma situação para deixar o par com 'a pulga atrás da orelha' é uma forma de fazer com que ele redobre a atenção diante da provocação. Quem faz isso, na verdade, não vem se sentindo importante na relação, mas tentar obtê-la desse jeito não é a solução mais adequada", comenta.

De acordo com Alexandre Bez, psicólogo especializado em relacionamentos, de São Paulo (SP), o ciúme é uma condição normal a qualquer relação. "Entretanto, não pode ultrapassar a linha tênue entre viver confortavelmente com segurança e viver com desconfiança e desconforto emocional. Ciúmes tem que ser moderado, jamais controlador, porque aí significa uma sensação antagonicamente ao amor", afirma. "É por isso que incentivar o ciúme nunca é saudável numa relação a dois, pois, em vez de 'esquentar', ele só provoca fragilidade e fragmentação. Para ser saudável, um relacionamento tem que ser desprovido de elementos desconcertantes", complementa.

Há o risco de os dois se acostumarem a esse tipo de interação que, em médio e longo prazo, pode se revelar tóxica. "Aquilo que no início é visto como forma de cuidado, de carinho, de valor, aos poucos acaba se transformando em excesso. Isso tornará a relação um verdadeiro inferno, um veneno que mata aos poucos o sentimento daquele que convive com um parceiro que constantemente ultrapassa a linha do bom senso com acusações irracionais de traição tornando, assim, o ciúme uma doença", alerta Joselene.

É válido ressaltar que, de modo geral, quem provoca ciúmes está inseguro quanto a si mesmo e tem baixa autoestima - ao ver o outro enciumado, sente que é alvo de amor e atenção. É um jeito disfuncional de se relacionar. "Pessoas bem resolvidas psicologicamente não lançam mão desse artifício, porque, além de não precisarem, sabem que se trata de algo que pode acarretar brigas desnecessárias, podendo haver o risco de uma ruptura", avisa Alexandre.

O ideal, quando surge algum tipo de carência ou dúvida, é dialogar sobre o assunto e abrir o jogo sobre como tem se sentido nessa relação, relatar se percebe alguma falta de atenção e, ainda, conversar sobre as expectativas que cada um tem do relacionamento. "Quem provoca ciúmes quer exclusividade do par e não entende que o outro tem um mundo à sua volta e que dar atenção a este mundo não significa falta de afeto", diz Joselene.

Para Yuri Busin, psicólogo e diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental Equilíbrio), na capital paulista, provocar o ciúme no outro não necessariamente irá gerar uma "prova de amor". "Então, muito cuidado com o que você deseja e o que está fazendo para obter isso. Pense sempre que se você quer uma prova de amor isso deve vir de forma natural e verdadeira, e não pelo medo. Sendo assim, sempre tente agregar sentimentos positivos no relacionamento e converse sobre suas inseguranças com o parceiro. Não precisa bombardeá-lo todos os dias com isso, mas sim conversar com objetivos e, principalmente, buscando soluções para os seus receios", pontua Yuri, que aconselha: "Desvincular o ciúme do amor é algo importante para o que o relacionamento melhore."