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Por que a capacidade de se escutar é importante nos relacionamentos

Ouvir a própria intuição é uma habilidade que não deve ser subestimada - Getty Images
Ouvir a própria intuição é uma habilidade que não deve ser subestimada Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

03/09/2019 04h00

Uma pessoa que parece mal humorada, chata ou metida à primeira vista pode simplesmente estar num dia ruim ou com algum problema. Será que a vibe ruim não vem da gente, mesmo?

De qualquer forma, ouvir a própria intuição é uma habilidade que não deve ser subestimada nessas circunstâncias. Para se relacionar bem com os demais, a capacidade de se escutar precisa ser desenvolvida. "A comunicação entre as pessoas é um grande desafio. Ela normalmente está baseada em uma postura reativa, onde atribuímos juízos de valor baseados em nossas crenças. Um dos recursos que podem nos ajudar a nos relacionar de maneira mais verdadeira e clara é desenvolver a escuta da nossa intuição", declara a psicoterapeuta Mônica Pantarotto, de São Paulo (SP).

Segundo Pollyana Esteves, especialista em psicologia positiva e constelações familiares, de São Paulo (SP), antes de qualquer conexão consciente o nosso inconsciente faz uma espécie de "leitura" da outra pessoa. "A maior parte da nossa comunicação é não verbal e observa desde como alguém anda e se veste até suas microexpressões. Nosso inconsciente faz essa leitura e vê se essa pessoa é compatível conosco e com nossos gostos. Em geral, nosso 'mundo' é baseado nessa leitura que agrega o sentimento que chamamos de intuição. Por isso, é extremamente válido levar em conta essa voz, já que é muito difícil que ela esteja errada", afirma Pollyana.

Deixar de se ouvir, subestimando sentimentos e impressões e negligenciando sintomas como cansaço, pode atrapalhar a vida. Conforme Pollyana, quando não ouvimos essa voz interna, ou fingimos que não a escutamos e fazemos o oposto do que sentimos que devemos fazer, a tendência é experimentar uma série de sentimentos negativos. Exemplos? Incongruência, frustração, infelicidade independentemente do que se faça e até mesmo a chamada "síndrome do impostor". "Todos esse sintomas surgem porque você está indo contra o que realmente quer e contra quem você é. Muitas pessoas se sentem perdidas, sem conseguir identificar direito o que gostam ou não, com uma sensação ruim de que não há luz no fim do túnel", diz Pollyana.

É preciso prestar atenção em sinais como o cansaço, alertando para diminuir o ritmo, ou a gripe, indicando que sua vida anda muito congestionada e que, portanto, é bom parar um pouco. Não ouvir esses recados podem comprometer seriamente sua saúde. Quando a escuta interior não se desenvolve de maneira adequada, os estímulos do mundo exterior passam a influenciar a psique humana de forma muito mais intensa, conforme Mônica. "A vida atribulada, principalmente nas grandes metrópoles, gera uma rotina que, na maioria das vezes, é extenuante e incorporada inconscientemente como um hábito 'normal'. Dessa forma, a avaliação interna fica prejudicada e sintomas como fadiga e insônia passam a fazer parte do dia a dia, prejudicando a qualidade de vida e a saúde dos nossos relacionamentos", completa a psicoterapeuta.

Como aprimorar a intuição?

A capacidade de se escutar, ou seja, de prestar atenção nos próprios pensamentos e sentimentos, nos impede de passar por cima dos próprios desejos e valores. "Quanto mais eu me escuto, maior coerência existe entre o pensamento, o sentimento e as ações", afirma Mônica.

Às vezes, o diálogo interno também tem uma faceta sabotadora. Se você sente seus pensamentos tomados por frases como "isso vai dar errado" ou "você não vai conseguir", pare e reflita: essa voz é mesmo sua? Ou repete algo que alguém lhe falou um dia e você está somente reproduzindo? Se a voz não for sua, não valide o conteúdo.

Para a psicóloga Aline Saramago, do Rio de Janeiro (RJ), se atentar à intuição faz com que as pessoas possam questionar os outros e a si mesmas e a ter ideias mais esclarecedoras para lidar com problemas, principalmente os de relacionamento. "A intuição é um mecanismo que nos protege de situações que possam vir a ser perigosas ou desconfortáveis, mas não é só isso. É preciso aprender também a perceber o lado bom dela, a energia boa, e potencializar isso", diz.

Investir na autoconsciência e praticar a técnica mindfulness, concentrando-se no momento presente, são passos importantes. "A pessoa precisa buscar saber exatamente o que ela está vendo, sentindo, ouvindo. As pessoas estão comendo sem nem lembrar depois do que comeram, sem sentir o gosto direito, sem perceber o próprio peso na cadeira. É preciso buscar o seu melhor a todo momento e isso não significa ser o melhor ser humano do mundo. É ser o melhor que você possa ser. É preciso ter a humildade de aceitar as próprias imperfeições. Certos pensamentos estão engessados e precisamos nos dar conta de que podemos quebrar certos pensamentos. Os benefícios disso serão inúmeros, em todos os campos da vida", afirma Aline.