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Detonar o ex após o rompimento diz mais sobre você do que sobre ele, sabia?

Melhor evitar falar mal do outro - iStock
Melhor evitar falar mal do outro Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

12/08/2019 04h00

Não são poucas as pessoas que se dizem apaixonadas e vivem enchendo o par de elogios, inclusive publicamente e nas redes sociais, se transformarem completamente depois que o namoro ou casamento acaba, partindo para críticas, comentários pejorativos, indiretas e até chacotas sobre o ex.

Só que essa tentativa de chamar a atenção para os defeitos do antigo amor volta e meia acaba provocando um efeito contrário ao desejando, transformando o papel de vítima em mala e acabando com a própria imagem, não a do outro. Aliás, uma das frases mais emblemáticas do psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939) tem muito a ver com essa situação comum: "Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo".

Mas o que há por trás desse comportamento? Segundo a psicanalista Gisele Gomes, de São Paulo (SP), muitos podem ser os gatilhos que levam alguém a detonar o ex após o término de uma relação. "De uma forma bem simplista, sem considerar a vivência de cada indivíduo, há uma boa dose de narcisismo e dificuldade em lidar com frustrações. Ambas as questões estão bem ligadas à educação na infância, fase em que adquirimos efetivamente os valores com os quais lidaremos com todos os desafios que se apresentarem ao longo das nossas vidas", afirma Gisele.

Dificuldade em lidar com o não

A psicanalista também comenta que hoje as pessoas, em especial as das novas gerações, têm muita dificuldade em lidar com o "não". "Elas não aprenderam a esperar ou a entender que nem sempre é possível ter o que se deseja. Rodeadas de confortos e de todos os desejos atendidos, falta-lhes o que Freud chamava de 'Princípio da Realidade'. Nesse cenário, em que o sujeito quer o prazer a qualquer custo, como que o 'pseudo' ser amado ousa desprezá-lo? Se ele é perfeito conforme os pais lhe disseram a vida inteira, como alguém pode desafiá-lo e não o amar?", observa Gisele.

Partir para ofensas e chacotas contra o ex na internet é um passo. "Só que, ao fazer um marketing tão ruim do seu ex, está fazendo o mesmo com uma parte da sua vida também", avisa a psicóloga Marina Simas Lima, sócia-diretora do Instituto do Casal, em São Paulo (SP). "A pessoa coloca para fora tudo o que é negativo sem considerar o lado positivo e o que deu certo. Quando pensamos de forma racional, sabemos que ninguém é perfeito e mesmo assim podemos amá-lo. Muitas vezes, na raiva, só surge o impulso e a emoção que toma conta do processo e é onde podem ocorrer situação desastrosas e estressantes", fala Marina.

A psicanalista Andréa Ladislau, do Rio de Janeiro (RJ), lembra que romper um relacionamento, independentemente do tempo de duração, não é uma tarefa fácil. "Mesmo que não tenha acabado em uma briga, existem sentimentos envolvidos nesse processo com os quais cada pessoa vai lidar do seu jeito, de acordo com suas experiências passadas e sua bagagem de vida. Esses sentimentos podem ser de raiva, decepção, tristeza, mágoa e revolta, entre outros", explica.

O quadro de luto pode influenciar

Após uma separação, diferentes fases compõem um quadro de luto. A primeira é o choque, o impacto. Muitas vezes a pessoa não aceita o término ou não acredita nele. Em seguida vem a negação da perda: o indivíduo tem a consciência do que perdeu, mas continua não aceitando. "Aqui a mente vai buscando alternativas para tentar digerir essa perda, tomando consciência das mudanças", diz Andrea.

Na terceira etapa, a tristeza profunda, a perda é vivenciada de forma real no dia a dia. A fase mais difícil de superar é a da culpa, que conduz a pensamentos sobre o que teria feito de diferente para que o romance não acabasse. E, por fim, temos a raiva, uma fase fundamental: se não conseguimos passar por ela, ficamos presos à tristeza profunda e à culpa e o processo torna-se um ciclo vicioso em que não conseguimos nos desligar.

"O problema é que, em muitos casos, a raiva desencadeia um processo de agressão e de exposição da separação, com comentários indesejáveis em relação ao ex. Isso só demonstra que não se conseguiu superar o processo de separação e que, no fundo, existe uma grande esperança de retomar a relação. Essa atitude indica que a raiva não foi vivida adequadamente, se distanciando da situação, e impede de seguir para a fase da superação, que permite ver o ocorrido como uma experiência na história da sua vida, com seus pontos negativos e positivos", descreve Andrea.

Na etapa da aceitação as pessoas começam a assumir o que aconteceu, a pensar em si mesmas e a direcionar a mente para o futuro, e não para o passado ou a perda. Finalmente, é importante ter em mente que as fases do luto no término de um relacionamento não são lineares ou correlativas, algo que é especialmente notável no início do luto.

Se coloque no lugar do outro

Na opinião da psicóloga e coach Sandra Tambara, de Sorocaba (SP), em geral a reação calcada na raiva está presente em outras situações e não somente nos problemas amorosos. "Imagine como essa pessoa se comporta no trânsito, na fila do supermercado, diante de um diagnóstico de doença, uma injustiça social, etc. Ela acredita que se esbravejar a dor que está sentindo será aliviada com sabor da vingança. Porém, sentimentos, pensamentos e emoções negativas vão prejudicar primeiramente a própria saúde, as relações e o ambiente em que vive", pontua. Ela aconselha, antes de explodir, ponderar: "O que eu pensaria se visse alguém agindo dessa forma?".

Ainda conforma Sandra, as pessoas tendem a encontrar parceiros com modelos de relacionamento semelhantes, ou seja, nos sentimos atraídos por quem pensa relativamente parecido conosco. "Partindo desse pressuposto, pessoas agressivas tendem a atrair novas relações que permitam essas mesmas reações. Isso é muito comum e é visto em vários casos. São pessoas que se veem envolvidas em escândalos e confusões atraídas pelas suas próprias escolhas", salienta.

Assim, é possível afirmar que com esse tipo de atitude é muito provável que a pessoa afaste, sim, possíveis novos amores. Quebrar o ciclo de negatividade é imprescindível para que possa se relacionar saudavelmente. Uma das formas é, segundo Andrea, fazer um exercício de autoconhecimento de suas ações e sentimentos para se perceber melhor e entender que o mais importante no processo de um fim de relacionamento é fazer o luto dele corretamente.

E, ainda, guardar os bons momentos na memória, avaliar os pontos em que possa ter agido de forma errada para corrigir em futuros romance. Além disso, também deve-se virar a página dessa relação para receber de braços abertos, sem rancores, amarguras e sem qualquer peso ou culpas, um novo amor. "Todo relacionamento é aprendizado. Quando assumimos a responsabilidade pelos nossos sentimentos, adquirimos o poder de superá-los. É o início de qualquer processo de recuperação e evolução", conta.