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Mais que amigas, moram juntas. Dicas para dividir casa com amiga sem tretas

Elisa Soupin

Colaboração para Universa

27/07/2019 04h00

Os motivos são muitos para tomar a decisão de ir morar com uma amiga. Pode ser a distância ou o clima em casa, a falta de grana, ou a escolha de dividir a rotina com alguém de quem se gosta. Seja qual for o caso, a convivência nem sempre é como no seriado americano Friends. Muitos fatores devem ser levados em consideração antes de assinar um contrato de aluguel e fazer a troca das chaves.

"Ter uma conversa de alinhamentos de expectativas é primordial. É preciso entender o que aquela pessoa espera e ver se é compatível com o que você busca e tem a oferecer. Fale tudo, mesmo se achar que é óbvio: o óbvio é relativo", explica Allesandra Canuto, coaching e professora especializada em gestão de conflito.

A terapeuta de família Denise Figueiredo endossa a opinião. "É preciso estabelecer limites pessoais e não ver regras como algo ruim. As regras servem para dar liberdade. Dentro do combinado, você pode ficar confortável. É muito importante não contar com o 'bom-senso' porque essa é uma ideia subjetiva. Não deixe nada implícito", aconselha.

Universa conta casos sem final feliz e dá dicas para não cometer os mesmos erros.

Suspeita quanto aos gastos e amizade suspensa

"Em 2013, eu queria morar sozinha e resolvi sublocar um quarto da casa de uma amiga, a M. Eu e mais dois amigos nos mudamos para lá sem nunca olhar o contrato, na base da confiança mesmo. A ideia era ter um lar: dividir afazeres, contas e convivência. Éramos cinco: nós quatro e o filho pequeno dela, que era fofo e a gente se dava muito bem, mas, com o tempo, ela adotou uma postura de síndica e passou a implicar com o fato de uma das meninas levar caras para dormirem lá e da minha namorada ficar o fim de semana -- coisas que não eram problema para mais ninguém.

Ela começou a querer cobrar a mais pelas visitas. Eu não achei justo porque ela tinha uma criança, que gastava luz, água, comida todos os dias. Era como uma visita fixa. Pedi numa boa para ver os cálculos da casa para vermos o que poderia ser feito quanto às contas e ela se esquivou. Falamos várias vezes, e ela nunca mostrou. Começou a rolar desconfiança de que o valor estava sendo dividido por três -- e não por quatro. Saí de lá nove meses depois e não nos falamos mais desde então. A amizade acabou", lembra a pedagoga Leticia Cardoso, que hoje mora com um amigo com quem se dá super bem.

Maternidade de pet compulsória

"A N., minha amiga, insistiu muito para eu morar com ela, mas, logo depois de fazermos a mudança, ela começou a namorar e foi ficando cada vez menos em casa. Acontece que ela tem dois bichos e eu nunca quis ser dona de pet. O problema é que ela os deixou em casa e eu fiquei com as obrigações -- tipo dar comida, trocar a água, trocar o jornal do xixi. Recentemente, ela decidiu se mudar para a casa do namorado e, como o apartamento novo dela é pequeno, deixou os bichos comigo! Ela continua pagando o aluguel e disse que será provisório. Já tivemos brigas homéricas por conta disso, mas eu simplesmente não tenho coragem de largar os bichinhos, que não têm culpa de nada. E ela bateu o pé de que não vai levá-los. Eu me decepcionei muito com ela", diz a produtora Joana*, que pediu para ter o nome trocado por ainda gostar muito dessa amiga, apesar dessa situação.

Casa desorganizada, amizade indo pelo ralo

"Eu comecei a alugar um quarto em um apartamento no Humaitá, Zona Sul do Rio, ano passado e, alguns meses depois, a S. entrou. Pouco tempo depois, entrou a Carol e nós três ficamos muito amigas, sempre juntas. Só que a S. era muito bagunceira. Eu estou longe de ser neurótica com arrumação, mas acho que a casa precisa do básico organizado e ficou meio caótica. Não era só o quarto dela, a mesa da sala ficava cheia de coisas, o banheiro muito sujo, roupas pelo chão, louça há dias no fogão, comida no chão. Ela usava a casa como se fosse só dela, sem respeito pelas outras pessoas que moravam. Nós três conversamos muitas vezes sobre essa situação, mas ela ficava na defensiva, realmente não parecia perceber as coisas que fazia. A gente brigou feio e parou de se falar, mesmo morando juntas. Um dia, ela saiu da casa de madrugada, meio fugida, sem avisar. A casa estragou a nossa relação. Ela era uma boa pessoa, incrível, mas a convivência não rolou. Se a tivesse conhecido em outro contexto, as coisas teriam sido diferentes", conta a bartender Vitoria Barros, de 24 anos.

Universa identificou pontos de atrito comuns no convívio e dá dicas de especialista para evitar as tretas e preservar a amizade

1. Analise o que você espera da experiência de morar com seu amigo.

Se você não estiver em uma situação de urgência, pense bastante em quais são as suas motivações e expectativas. "Um bom método é escrever tudo que você quer e o que não quer e pedir para a outra pessoa fazer o mesmo. Com tudo isso claro para cada um, sentem para conversar -- e negociar", explica Denise Figueiredo, especialista em terapia familiar.

2. Pets

Você pode adorar o cachorro da sua amiga, mas precisa pesar qual vai ser a sua relação com o doguinho se vocês forem morar juntas.

"É preciso deixar claro qual é o seu limite nisso e se sentir confortável para dizer. Se sua amiga for viajar, por exemplo, você pode dizer 'não vou ficar com o seu cachorro, não quero ou não posso', ou ficar mediante um pagamento, ou ficar com ele e depois ela te retribuir com outro favor caso você precise. Toda situação é possível desde que você tenha como referência seus próprios limites. Eu desejo um animal? Eu estou disposta a cuidar do de outro?", explica Denise.

Se você é a dona do bichinho, tenha em mente a máxima: é meu e é minha responsabilidade. "O pet é seu, a obrigação e a responsabilidade também são suas. Se você precisar viajar ou sair e não voltar, tem que conversar e ter em mente que a outra pessoa está te fazendo um favor, isso não é parte da obrigação dela", ressalta.

3. Organização e limpeza

Esse é o motivo campeão no quesito tretas. "É a principal razão das desavenças domésticas e pode impactar muito mesmo nas relações. É preciso logo no início estabelecer um cronograma. Cada um tem uma ideia mental de organização da casa e a expectativa para o lugar concreto é isso que você traz na sua cabeça. Para funcionar, tem que ser explicado. Regras são fundamentais, inclusive escritas, com divisão de tarefas. Rodízio de funções também pode ser uma boa ideia. Há lugares em que quem não faz sua parte paga uma multa, por exemplo. Sistematizar é preciso", recomenda a terapeuta.

4. Grana

"Vejo duas possibilidades mais óbvias: tudo dividido, cada um comprando suas coisas, tudo exatamente separado. Cada um com seu açúcar, seu pão, sua manteiga. Pode parecer radical, mas esse jeito tende a evitar problemas e recomendo principalmente para os mais inexperientes, começando a dividir casa. A outra forma é realmente sentar, anotar os gastos em comum e negociar a divisão. Essa maneira exige mais maturidade e intimidade entre as partes também", sugere Denise.

5. Frequência da casa

"O combinado não sai caro. É preciso realmente estabelecer uma dinâmica: seja que uma leva visitas segundas e quartas e a outra terças e quintas ou que visitas só aos fins de semana. Tem casos em que o acordado é não levar ninguém. Se alguém for ficar por algum tempo, é preciso saber quando a pessoa vai embora, se vai ajudar nas tarefas e contas durante o tempo em que permanecer. Tratar os detalhes evita problemas", aconselha a terapeuta de família.

6. Tenha um plano B

A especialista em gestão de crise Allessandra Canuto afirma que é preciso pensar de forma estratégica no que fazer caso a experiência não dê certo. "Claro que ninguém espera se mudar para dar errado, mas se acontecer, é preciso pensar no que será feito e até combinar com o outro como sair, ter um plano financeiro e criar alternativas no caso de algum imprevisto", sugere.