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Blogueira plus size fez bariátrica por saúde: "Autoestima é minha causa"

Apesar de ser influenciadora de autoestima, Paula decidiu por causa de sua saúde - Arquivo Pessoal
Apesar de ser influenciadora de autoestima, Paula decidiu por causa de sua saúde Imagem: Arquivo Pessoal

Camila Brunelli

Colaboração para Universa

21/07/2019 04h00

No final de 2009, a social media e influencer de moda plus size Paula Bastos criou um portal de notícias para mulheres fora do padrão estético como projeto de conclusão do seu curso de Jornalismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp). A ideia veio porque ela não via sentido no fato de revistas femininas só mostrarem mulheres supermagras, que ela considerava muito distante do padrão de corpo da mulher real.

Um ano depois, resolveu transformar o site em um blog apresentando seus medos e dilemas. Buscava trazer alguma representatividade para mulheres que não se sentiam acolhidas pela grande mídia. Ela julga que foi isso que fez o blog crescer: "As pessoas começaram a se identificar, e eu fui vendo que muitos medos que eu tinha, não eram só meus. Por exemplo, eu tinha medo de sentar em cadeiras de plástico. Vi que muitas pessoas tinham esse medo."

Em outubro do ano passado, aos 35 anos, quando já tinha mais de 100 mil seguidores no Instagram, e 128 kg em 1,80m, Paula fez uma cirurgia de redução de estômago para perder peso. O motivo era sua saúde: estava pré-diabética, com problemas de coluna, teve de tirar a vesícula por conta de uma pedra e hipertesa, essa última, segundo ela, a 'gota d'água'.

Hoje, aos 36 anos, morando em São Paulo há dois meses e 35 kg mais magra, ela assegura que sua história com a moda plus size não ficou para trás e que sempre vai batalhar contra a gordofobia. "Mesmo que eu fique magra, eu nunca vou deixar de pensar nas pessoas gordas, no que elas passam, o que elas sofrem, porque foi a minha vida por 35 anos, então como vou deixar de me importar com isso? Minha batalha é pela autoestima"

Veja seu relato:

"Eu brinco que nunca fui magra, nem por 30 segundos. Eu era estudante de Jornalismo e ficava revoltada de olhar para as revistas femininas e ter representatividade zero. Eu queria saber por que ninguém nunca dava uma dica de moda para uma mulher com um corpo diferente, que não fosse uma tábua. Eu pensava 'as mulheres da vida real não eram assim, porque as das revistas estão tão longe da realidade?' Isso para mim nunca fez sentido. Então, no final de 2009, eu criei o 'Grandes Mulheres' como projeto de conclusão de curso. Ainda não era um blog, era um site jornalístico, um portal feminino.

Um ano depois, transformei o GM em um blog e passei a escrever sobre os meus dilemas em primeira pessoa. Deixei de ser a jornalista imparcial para ser jornalista totalmente autoral -- e foi aí que decolou. As pessoas começaram a se identificar. Fui vendo que muita gente pensava coisas que eu achava que estavam só na minha cabeça.

Paula perdeu 35 quilos após fazer a cirúrgia bariátrica - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Paula perdeu 35 quilos após fazer a cirúrgia bariátrica
Imagem: Arquivo Pessoal

Aceitação

Eu demorei muito para me aceitar... Já tive 136 kg. Foi um processo muito difícil e longo para mim. Comecei meu blog com 27 anos, e foi assim que comecei a repensar a minha relação com a minha aparência e com o meu próprio corpo. Mesmo assim, foi só por volta dos 31 anos que me aceitei. Demorou para começar a entender que ser gorda não era o fim do mundo, a minha vida inteira eu fui muito massacrada por causa da minha aparência. Eu sofri principalmente em relação a homens, porque tinha autoestima zero, era bem insegura, então os caras faziam o que queriam comigo, sabe? Passei por vários abusos emocionais.

Obesidade e Militância

Nunca gostei do termo 'militância', porque se tornou meio pejorativo. Eu fui umas das primeiras desse segmento, então levantei muita polêmica, comprei muita briga grande, dei a cara a tapa para muita coisa... acho que dá para dizer que sou militante.

Sempre me preocupei muito com a minha saúde. Tentava controlar a minha alimentação, fazia atividade física, terapia, exames médicos frequentemente -- tanto que foi assim que eu acabei descobrindo que eu estava ficando doente. Eu fazia tudo isso para não deixar as coisas saírem do trilho, mas mesmo assim, saíram.

A influenciadora pesava 128 quilos antes de fazer a cirúrgia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A influenciadora pesava 128 quilos antes de fazer a cirúrgia
Imagem: Arquivo Pessoal

Eu acho que eu ainda sou dependente da comida, mas eu estou em um processo. Hoje em dia, quando eu sinto que estou comendo algo muito doce e que eu vou passar mal [quem fez bariátrica pode sofrer com a síndrome de dumping, um mal-estar que costuma durar cerca de 30 ou 40 minutos, quando ingere grandes quantidades de açúcares ou gorduras], eu paro. Hoje eu consigo ter esse controle.

O que eu tenho mais problema é de comer sem prestar muita atenção. Mas minha psicóloga sempre diz que eu estou num processo de mudança -- afinal um hábito de 35 anos não se muda em seis meses. Estou superbem, caminhando para essa mudança.

Vejo que comia as minhas emoções: se eu estava feliz, eu queria comer para comemorar, se eu estava triste, queria comer para me confortar, se eu estava nervosa, também. Hoje eu tenho total consciência disso, mas antes da cirurgia nunca tive.

Plus Size

Muita gente acha que estou magra demais para o segmento plus size, mas para o convencional, eu ainda estou gorda. Gosto de pensar que eu sou uma mulher que fala sobre seus dilemas pessoais para outras mulheres.

Mesmo que eu venha a ficar magra futuramente, eu tenho uma história de 35 anos com a obesidade, isso não vai sair da minha vida. Essa experiência faz parte de mim, ela me moldou, ela é a minha história. Mesmo que eu mude, é uma raiz minha -- talvez a maior de todas.

Eu vou ser sempre uma influenciadora voltada para a questão da autoestima, do amor próprio, porque a gente tem que se amar com a gente é. A gente emagrece, mas não fica uma mulher padrão -- vai ter flacidez, por exemplo. É ilusão achar que se vai emagrecer e virar uma Barbie, não vai! Você tem que se amar, que se cuidar, é o seu corpo e seu corpo é o seu templo!

A minha vida inteira eu fui gorda e [apesar de ter emagrecido] ainda não sou uma mulher padrão. Luto pelo respeito, amor próprio, aceitação -- porque a gordofobia existe, sim.

Saúde

Quando revelei que fiz a bariátrica, recebi muito apoio das minhas seguidoras. Uma ou outra pessoa me disse que ficou chateada porque tinha perdido a referência, mas ninguém me xingou ou criticou abertamente. Meus seguidores sabiam que eu estava com problema de saúde muitos sérios.

Antes de eu operar, algumas pessoas sugeriram a bariátrica e pediam para eu pelo menos cogitar a possibilidade. E fui resistente a essa ideia durante muito tempo. Achava que fazer a cirurgia seria como assinar um atestado de fracassada, que eu não tinha força de vontade suficiente para emagrecer naturalmente. Meu pensamento só mudou no começo do ano passado, porque encontrei uma amiga que tinha feito bariátrica e ela estava muito bem e feliz. Aí eu comecei a pesquisar e acabei operando com o mesmo médico que ela havia feito.

Me deu muito medo de enfrentar as pessoas, do julgamento, de me chamarem de hipócrita, de não entenderem o real motivo. Para minha saúde, foi excelente. Eu acho que foi a melhor coisa que eu fiz e faria tudo de novo."