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"Era manicure. Hoje, tiro R$ 5,5 mi por ano, com pigmento para sobrancelha"

Renata Barcelli é dona da RBKollors, principal produtora de pigmentos para sobrancelhas no Brasil - Divulgação
Renata Barcelli é dona da RBKollors, principal produtora de pigmentos para sobrancelhas no Brasil Imagem: Divulgação

Talyta Vespa

De Universa

11/07/2019 04h00

O fim de um casamento de 12 anos foi decisivo, tanto na vida pessoal, como na profissional, da empresária Renata Barcelli, de 46 anos. A paulista de Sorocaba, interior de São Paulo, dividia a gestão de um supermercado com o marido e, quando resolveu se separar, viu-se, além de sozinha, sem emprego e com dois filhos para criar. Foi ser manicure. E hoje, depois de 18 anos, ela é dona da maior empresa de pigmentos para sobrancelhas do Brasil, a RBKollors, que fatura R$ 5,5 milhões por ano.

Assim que se separou, Renata pediu emprego em um salão de beleza "de bairro", ou seja, pequeno. Com o salário de R$ 1 mil, conta que pagava o aluguel da casa e sustentava os filhos. "As clientes elogiavam minha habilidade de fazer desenhos nas unhas. Eu tinha um traço perfeito e fazia muito rápido", diz ela. O talento fez com que, em menos de um ano, Renata fosse contratada por um salão maior, onde passou a receber R$ 2 mil mensais.

"Nesse salão, conheci uma cliente que trabalhava com micropigmentação. Ela vivia dizendo que eu devia fazer um curso porque minha 'mão era boa para desenhos'. Mas eu via os procedimentos que ela fazia e achava tão feio, que não me empolgava. Além disso, o curso e os materiais eram muito caros. Eu não tinha como pagar", conta Renata.

"Foram dez anos sem clientes fixas e vendendo sanduíches para completar a renda"

Até que, depois de uma decisão judicial, o ex-marido de Renata teve de pagar a ela uma diferença no valor da pensão dos filhos. "O total foi de R$ 4 mil. Eu peguei o dinheiro e paguei o curso", conta. O ano era 2002. Apesar de ter se especializado, Renata não conseguia captar clientes para colocar a micropigmentação em prática. "Foram dez anos até que eu vingasse. Fazia uma cliente aqui, outra ali, e ao mesmo tempo vendia sanduíche natural e trufa para completar a renda. Em 2012, fui chamada para dar um curso de design de sobrancelhas em um salão em Sorocaba. Foi aí que tudo mudou".

Em vez de usar o paquímetro (instrumento utilizado para medir a distância entre dois lados simetricamente opostos em um objeto) para precisar informações sobre as sobrancelhas, Renata inventou uma régua, "mais precisa e específica, uma vez que ela leva em consideração a curvatura das sobrancelhas", ela explica. Renata fez várias delas e distribuiu para suas alunas. No começo do Facebook, as aulas foram divulgadas entre as moradoras de Sorocaba e começou a renuir cada vez mais clientes. Então, além do curso de design, ela passou a lecionar micropigmentação. E foi ficando conhecida.

Régua criada por Renata mede com precisão as sobrancelhas das clientes - Divulgação - Divulgação
Régua criada por Renata mede com precisão as sobrancelhas das clientes
Imagem: Divulgação

Dois anos depois, em 2014, houve o primeiro congresso brasileiro de micropigmentação, no Rio de Janeiro. Durante o evento, além de palestras, os participantes poderiam desembolsar R$ 1,6 mil para fazer workshops. "Eu não tinha dinheiro para pagá-los, então, uma colega me emprestou o dinheiro. Dividimos um quarto de hotel na tentativa de economizar. Durante a estada, não tínhamos dinheiro nem para comprar água. Compramos uma e, quando acabou, passamos a abastecer a garrafa com água da pia", conta.

E foi durante o café da manhã, no primeiro dia de congresso, que Renata descobriu que estava mais famosa do que imaginava. "Muitas mulheres me procuraram dizendo que conheciam meu trabalho. Aquilo foi surpreendente. No mesmo dia, o organizador me convidou para palestrar na edição do ano seguinte", conta.

Renata teve problemas pessoais nos dois anos seguintes de congresso, uma morte em família e, depois, dengue. Por sugestão do organizador, gravou um vídeo, em que conversava com as participantes e contava o que havia acontecido com ela. "Depois disso, a busca pelos meus cursos aumentou tanto, que consegui verba para convidar o maior especialista em micropigmentação da Sérvia para ensinar uma nova técnica, mais moderna e duradoura".

Da micropigmentação ao pigmento

"Quando ele chegou, me disse que não conseguiria ensinar a técnica utilizando os pigmentos desenvolvidos no Brasil, já que eles eram muito diluídos e, para um bom resultado, deveriam ser mais concentrados. Percebi que existia uma falha no nosso mercado, então, corri para tentar criar minhas próprias tintas", conta.

Foram noites em casa misturando pigmentos na tentativa de chegar a um resultado que, com o tempo, não ficasse acinzentado e nem transparente. "A cada mistura, eu fazia um teste na minha perna. Depois de algumas combinações, descobri que, para um resultado decente, eu precisava misturar pigmentos de tons quentes, como laranja e amarelo", explica Renata.

Ela passou a produzir os pigmentos em casa, manualmente, e vender às alunas dos cursos que ministrava. Em um ano, ela já dava conta de criar os produtos. "Entrei em contato com uma indústria em Uberaba (Minas Gerais), que topou fazer uma parceria a longo prazo. No começo, eu não tinha como pagar. Fiquei com uma dívida de R$ 500 mil. Em um ano, a dívida estava paga".

Em 2015, Renata conseguiu a autorização da Anvisa para produzir os pigmentos e viu seu negócio deslanchar. A RBKollors é, hoje, líder de mercado no Brasil e já exporta pigmento para 10 países. Renata conta que está montando escritórios em Miami e Barcelona e a previsão de faturamento para 2020 é de R$ 8 milhões. A empresa tem representantes em Portugal, no Peru e na Colômbia. No Egito, são mais de 40 profissionais que só usam RBKollors.

Os filhos, hoje com 23 e 30 anos, trabalham com Renata, assim com o atual marido dela, a mãe, genros e irmãos. Ela garante que trabalhar com família é bom, sim. "Sempre que trabalho com outras pessoas, valorizo meus familiares. Talvez seja sorte, mas todo mundo fica muito feliz pelo meu sucesso. E me casei novamente. Eu gosto de estar casada, porque tenho com quem dividir a criatividade".

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do informado no texto, a cidade de Uberaba fica em Minas Gerais e não em São Paulo. O erro já foi corrigido.