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Ela capacita refugiadas para fazerem as joias de Laila, em Órfãos da Terra

Julia Davila, a Laila da novela: suas joias são feitas por refugiadas reais - Paulo Belote / TV Globo/Divulgação
Julia Davila, a Laila da novela: suas joias são feitas por refugiadas reais Imagem: Paulo Belote / TV Globo/Divulgação

Roseane Santos

Colaboração para Universa

08/07/2019 04h00

Nem todos sabem que as bijuterias de Laila (Julia Dalavia), na novela Órfãos da Terra, foram confeccionadas por mulheres que estiveram em situação bem parecidas com a da personagem. Vivendo uma refugiada na novela das 18h da TV Globo, a atriz exibe modelos delicados feitos por mulheres do projeto Arte de Transformar -- Refazendo Vidas.

Tudo partiu de uma iniciativa da designer de joias Rosane Lopes que trabalhava em missões da ONU e viu despertar o desejo de capacitar mulheres, aumentando suas fontes de renda pelo mundo.

Rosane nasceu no Rio Grande do Sul, mas se considera uma cidadã do mundo e seu primeiro trabalho de sororidade foi desenvolvido na Baixada Fluminense, em 2014. "Após a enchente de Xerém naquele ano, fizemos um projeto para moradoras do entorno de Nova Iguaçu e Duque de Caxias que se encontravam em situação de risco. Na época, fizemos um trabalho de reciclagem de cápsulas de café para a confecção de bijus, biojoias e acessórios, organizando canais de vendas destes itens para geração de uma economia criativa -- e proporcionando renda complementar para estas mulheres e suas famílias", recorda.

Rosane Lopes faz joias e capacita refugiados para também gerarem renda - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rosane Lopes faz joias e capacita refugiados para também gerarem renda
Imagem: Arquivo Pessoal

Ela lembra que tudo começou de forma voluntária. "Acho que o empoderamento da mulher não deve ficar só no discurso, mas também deve ser na prática. Queria que elas tivessem uma forma de aumentar a renda e ter uma autonomia financeira. Além de ensinar a confeccionar bijuterias, eu também procurava pontos de venda. Procurava abrir mercado para elas", diz. Rosane ainda levou a oficina para a sede de uma ONG que atendia mulheres vítimas de violência.

No Oriente Médio

Em 2015, a agência da ONU onde trabalhou durante quinze anos na área de comunicação a reservou para uma missão no Iraque. "Eu fui para ficar três meses, mas amei aquele país e fiquei quase um ano e meio. O Oriente Médio tem uma cultura muito rica. Lá visitei um acampamento que era fronteira com Irã, Turquia e Síria. Conheci um grupo de mulheres e comecei a trabalhar com elas, durante as minhas folgas. Consegui materiais da região, como correntes, cristais e pérolas para fazer peças minimalistas, assim como essa que Laila usa na novela", lembra.

Quando voltou, em 2017, ela já estava com o pensamento firme de montar um ponto de venda e dar continuidade às oficinas. Ela conseguiu um espaço no Jardim Botânico, zona Sul do Rio de Janeiro. Para comercializar tantas criações desenvolvidas, surgiu o Atelier BZZ. Neste espaço, continentes são conectados por meio de mercadorias com inspirações étnicas e orientais, confeccionadas com materiais garimpados pelo mundo.

Dona de um olhar ampliado, Rosane aposta no reaproveitamento e maleabilidade nas peças criadas, permitindo múltiplos usos, como colares que viram pulseiras ou lenços que se transformam em turbantes e túnicas. Hoje, ela já conta com pontos de venda até na França. "Nosso objetivo maior é a expansão do projeto para outros acampamentos na região do Iraque, abrangendo cada vez mais refugiadas e comercializando globalmente", planeja.

De volta ao Iraque

Ela está de malas prontas para voltar ao Iraque em agosto e ampliar seu projeto, que dessa vez deixará de ser voluntário e se tornará profissional, comercializando os produtos produzidos pelas refugiadas do país. Contudo, restabelecer ou criar uma estrutura social é uma tarefa que não será esquecida. "Oferecemos fortalecimento psicológico e econômico às mulheres que sofreram abusos, estimulando uma existência nova e independente", ressalta Rosane, que planeja também abrir cursos de bijuterias em uma igreja na zona sul do Rio.

A designer cita dados da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). "Uma em cada três mulheres na América Latina não tem renda própria. E para cada 100 homens que vivem na pobreza, existem 117 mulheres. Objetivamos apoiar iniciativas protagonizadas por moradoras de áreas de risco através da economia solidária, estimulando o desenvolvimento econômico. Do mesmo modo, queremos a participação das mesmas na construção de uma sociedade mais resiliente", finaliza.

Serviço: Quem desejar participar do projeto pode ter mais informações pelo site: www.discipline4dignity.com