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"Eu sou bem eco-chata sem medo de ser feliz", diz Giovanna Nader

Consultora de branding e marketing, Giovanna Nader ajuda marcas a se posicionarem - Reprodução/Instagram
Consultora de branding e marketing, Giovanna Nader ajuda marcas a se posicionarem Imagem: Reprodução/Instagram

Laura Reif

Colaboração para Universa

28/04/2019 04h00

Giovanna Nader é conhecida pelos grandes olhos claros, pelos looks que impressionam pela criatividade e por seus questionamentos em relação ao mercado de moda. Defensora dos brechós, ela frequentemente cobra transparência de redes fast fashion como a Zara, marca que foi objeto de estudo de sua pós-graduação concluída em 2011, na Espanha.

Consultora de branding e marketing, Giovanna se dedica hoje a orientar marcas de moda a se posicionarem de maneira consistente no mercado. Desde 2013, ela também toca o projeto Gaveta, que organiza trocas de roupa e de ideias em eventos de moda sustentável.

O Gaveta nasceu em São Paulo, mas já chegou ao Rio, onde deve acontecer a próxima edição em junho deste ano. "Nas nossas mesas de bate-papo, temos pessoas que tocam a questão da representatividade, como a necessidade de incluir na moda corpos negros e gordos", conta ela durante conversa com a Universa, em que também refletiu sobre sustentabilidade dentro e fora do mercado fashion, greenwashing e sobre como a moda pode ser uma experiência de libertação pessoal.

"Meu grande despertar para uma moda consciente aconteceu quando decidi criar o Gaveta e separava as roupas para o projeto. Eu tinha morado um ano em Barcelona, onde todas as lojas de fast fashion estavam praticamente no quintal de casa, mas quando voltei para o Brasil, não trouxe nenhuma de volta porque tinham estragado. Só sobraram as roupas que comprei em brechó.

Depois veio o Fashion Revolution [movimento global que faz campanha pela reforma sistêmica da indústria da moda, com foco na transparência na cadeia produtiva]. Foi quando descobrimos o que estava por trás da indústria e coloquei a mão na consciência sobre quem produzia as peças que eu tinha e quanto essas pessoas eram pagas para isso.

O único caminho do mundo, agora, é o da sustentabilidade, senão a gente -- quem concorda e quem não concorda -- não vai estar mais aqui. Existem cada vez mais leis sendo revogadas por uma pressão da sociedade, por um ativismo, ou um escândalo. As redes sociais ajudam muito nisso, por maximizar a maldade, digamos assim. Se a marca contamina um rio, por exemplo, ou se está fazendo um mal para o mundo, a gente tem que divulgar.

Eu tenho bode de tendência

Ela massifica todo mundo, não traz nada de autêntico. É sempre aquele paninho, aquela blusinha. Todo mundo tem a mesma coleção, porque é a tal da 'tendência'. Eu tenho bode de tendência. Lembro que uma amiga me levou a uma loja de fast fashion e pensei que fosse sofrer [com vontade de comprar]. Quando entrei, não senti nada, pelo contrário. Olhava e achava que não fazia mais sentido.

Há as que se dizem sustentáveis, como a Zara, que fez recentemente com 'ações de upcycling' [processo de transformação de produtos em novos materiais com maior valor ambiental]. Isso faz uma marca pequena, que está nascendo, não uma Zara, que é o maior grupo de moda do mundo e tem condições de plantar algodão orgânico para a produção inteira. É, mais uma vez, um discurso para não perder sua parte no mercado. Mas que diferença efetiva está fazendo no mundo? Uma marca grande pode, mas eu não posso fazer a diferença sozinha. Aí que acho que entra o greenwashing [apropriação de atitudes ambientalistas por marketing]. Eu sou bem eco-chata sem medo de ser feliz.

Achava que a moda não era para mim, por anos eu andei me achando feia. A moda é muito excludente, então tem gente que acredita que não é para ela, mas quando gostamos de moda é muito prazeroso se vestir. Como é prazeroso sair na rua com uma roupa com a qual nos sentimos bem! Muitas pessoas não sabem disso porque acham que a moda não é para elas. Tem muita coisa para mudar e estamos em um caminho lindo. A mudança vem aos poucos e acho que está começando.

Meu vestido me encontrou

Para meu casamento com o Gregório, ia fazer um look com as camisolas que a minha mãe usou na lua de mel dela, mas não estava rolando. Aí falei: 'Ah, quer saber? Vou ali no brechó'. Veio uma luz. Cheguei lá e falei que ia casar no dia seguinte. O cara falou: 'Como assim você vai casar amanhã?' e veio com um vestido que era realmente perfeito. Foi amor à primeira vista.

Vesti e serviu, foi um daqueles achados. Sempre digo que as peças nos encontram. Esse vestido me encontrou, não tive que fazer nenhum ajuste. A pedraria estava um pouco danificada em alguns lugares, mas depois a gente arruma, né? Não gosto daquela coisa de 'Ai, porque a bainha tem que estar perfeita'. Cada vez mais há marcas surgindo com essa imperfeição e é isso que torna uma roupa bonita. Uma manchinha é a história da peça.

Moda é libertação

Uma roupa tem poder sobre a sua personalidade, ela faz com que você possa expressar sua autenticidade. O estilo vai desde a cor e o corte do seu cabelo, à maneira como você passa o delineador, tudo isso é moda. É uma maneira de saber quem você é e querer passar sua imagem para o mundo.

A partir do momento que você entende isso, você se liberta. Você é único, sua moda é única, ela não é de mais ninguém."