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Atitudes que mulheres tomam para proteger desconhecidas e você não sabia

Ingrid Astasio protege mulheres que nem conhece - Reprodução/Instagram
Ingrid Astasio protege mulheres que nem conhece Imagem: Reprodução/Instagram

Laura Reif

Colaboração para a Universa

25/03/2019 04h00

Se você é mulher e anda bastante sozinha, especialmente se mora em uma cidade grande, sabe como é aquele medo de caminhar até o metrô ou do ponto de ônibus para casa, mesmo durante o dia. Mais do que medo de sofrer um assalto, é de sofrer assédio, importunação sexual ou uma violência maior. Frequentar alguns espaços como bares e baladas sem estar acompanhada de um homem também pode gerar alguns desconfortos.

Por isso, mulheres tendem a usar a criatividade para desenvolver as mais variadas técnicas para evitar passar perrengue ou até violência. Uma das mais conhecidas é o movimento feminista "Vamos Juntas?". Criado em 2015 pela jornalista Babi Souza, a ideia é unir mulheres em situações de risco. Sentiu medo andando na rua à noite? Se estiver próxima de outra mulher na mesma situação, convide-a para caminharem juntas.

Com mais de 450 mil curtidas no Facebook, a página do Vamos Juntas é sobre sororidade. "O movimento é pautado nessa força da irmandade. Nenhum outro falava sobre o que fazer para me sentir menos desesperada", explica a criadora. A ideia surgiu quando voltava do trabalho à noite e notou que sentia medo toda vez que fazia o trajeto. Ela olhou ao redor e viu outras mulheres, porém todas sozinhas. "Sororidade é fundamental, é uma questão de inteligência, de segurança", completa.

Ela frisa que "andar juntas" não é só sobre caminhar lado a lado na calçada, mas desenvolver a ideia de sororidade em todas as situações e ajudar mulheres em situações de risco, quando possível. É o caso da publicitária Ingrid Astasio, 24, que mora na rua Augusta, em São Paulo. Ela conta que frequentemente vê casos nos quais mulheres estão vulneráveis e não hesita em fingir ser amiga de uma desconhecida para tirá-la de um momento de risco.

No Carnaval, voltando de um bloco na Estação República, ela encontrou uma menina encostada na parede acompanhada de um homem que gritava e se comportava de maneira agressiva. "Fiquei atenta e ouvi que o nome dela era Isa. Por pouco tempo, ele se afastou. Eu a chamei pelo nome e perguntei se ela precisava de alguma coisa", relata. Ingrid conta que o rapaz estava nervoso porque o celular da garota havia parado de funcionar.

"Ele saiu andando, ela começou a chorar e pediu um abraço. Abracei e ela chorou muito. Ele voltou e bloqueei a passagem para ela chorar o que tinha que chorar. Perguntei se não gostaria de voltar comigo e ela disse que não. Eu vou até meu máximo, nem sempre a história é de sucesso. Sei que ela se afastou dele, que estava claramente muito bêbado, e tentou ir embora", conta Ingrid.

Ela diz que quando não consegue descobrir o nome da mulher, chama de "miga". E traz vários relatos. De uma garota na porta de uma balada na rua Augusta dizendo que não queria ficar com um cara. Ele insistia sem parar e só foi embora quando a publicitária interferiu.

Ela também conta ter separado a briga de um casal, na mesma rua, fingindo ser amiga da mulher, que a acompanhou até um bar. Contou que era casada e havia separado há duas semanas porque o ex-marido batia nela. "Quero trazer esse ambiente seguro para a gente. Várias vezes fiquei vulnerável e gostaria de ter sido protegida por outra mulher", conta Ingrid.

A estudante de química de Santo André Larissa Martins, 23, revela que desde os 14 anos já possui técnicas que criou com as amigas para se proteger quando sai. Uma delas foi comprar um anel dourado para fingir ser uma aliança. "Era instintivo. Não sei de onde surgiu o anel, mas desde que começamos a sair, uns caras nada a ver começaram a dar em cima e eu comecei a fazer isso", explica.

Larissa Martins - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Larissa Martins
Imagem: Reprodução/Instagram

Ela diz que optou pelo anel porque quando dizia que não queria conversa, pediam uma aliança para confirmação. Porque o único motivo pelo qual ela e as amigas não dariam atenção para um grupo de estranhos era se namorassem. "Ignoravam tudo que eu falava", afirma.

Quem também tem história para contar é a contadora Thamiris Quaglio, 28, moradora de Santo André. "Estávamos em um grupo de umas seis mulheres. Um homem nitidamente bêbado estava com o filho abordando mulheres para 'conversarem' com o rapaz", conta. Segundo Thamiris, ele estava inquieto e perguntou se o bar era de lésbicas porque ninguém dava atenção para o filho. "Respondi que era porque ninguém era obrigado", diz.

O homem se irritou e foi abordar outra mulher que estava sozinha mexendo no celular. "Vendo a situação, cheguei nela e falei: 'Vem aqui, miga.' Ela veio sorrindo e agradeceu. Nessa hora, ele pegou o filho e foi embora", conta.

A criadora do Vamos Juntas explica que é justamente nesse tipo de contexto que vemos a importância da sororidade. O conceito aparecia timidamente na consciência das pessoas em 2015, quando surgiu o movimento, mas, de acordo com ela, tem notado que está sendo cada vez mais praticado. "Tenho certeza que mais meninas buscam espalhar a sororidade. É uma questão de sobrevivência para a maioria", afirma.