'Pedi sexo agressivo, ele chorou': e quando o par não curte suas fantasias?

Fetiches existem para todos os gostos. Mas o que fazer quando seu par não quer botar as fantasias em prática ou simplesmente não as curte? Esse foi o dilema de Ingrid*, 30, de Campinas (SP): casada há oito anos com Guilherme*, 50, ela conta que sua vida sexual entrou em crise, e descobriu no sadomasoquismo uma forma de recuperar o tesão —mas o marido não gostou.

Pedi para ele fazer um sexo mais agressivo, puxar meu cabelo, me comandar. Mas isso fazia muito mal a ele, a crise piorou. Ele chorou um dia e confessou que não conseguia fazer isso, a gente quase se divorciou.

A solução que ambos encontraram foi abrir o relacionamento para que Ingrid pudesse viver o BDSM e Guilherme tivesse a chance de curtir o sexo tradicional com outras mulheres.

O paulista Marcos*, 43, também passa por uma situação parecida: ele é dominador, e sua namorada é baunilha —não curte BDSM. Ambos sabiam disso quando decidiram ficar juntos.

A gente conversa muito sobre isso. Ela até disse que resolveu 'me dar' um dia especial para que a gente pudesse fazer uma sessão. Mas é preciso se preparar psicologicamente antes. O medo dela desse mundo ainda é grande. Só que não adianta, amo minha baunilhazinha.

Eles têm um relacionamento monogâmico, mas Marcos acredita que a parceira não teria problemas se ele praticasse o que tem vontade com outras pessoas, desde que ela esteja junto para ver.

Cuidado com a forma de abordar o assunto

Marcos conta que se enganou na abordagem quando foi falar de seus fetiches com a namorada.

Mostrei uma foto de uma mulher amarrada e suspensa em uma caverna. Acho que eu cometi um erro grande de mostrar aquela foto para ela, porque ela ficou assustada e falou que não faria aquilo de jeito nenhum.

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Antes do sexo, o melhor é engatilhar o assunto de forma suave: com uma brincadeira respeitosa, fazendo um comentário despretensioso durante o papo ou mostrar uma foto ou vídeo "leve" daquele fetiche —de forma a não criar alvoroço ou assustar a pessoa com uma imagem chocante.

Sugira formas mais 'suaves'

Após a conversa, Ingrid sugere que a prática seja introduzida na vida sexual do par sem pressão. "Por exemplo, você pode pedir para bater na bunda com as mãos mesmo, e ver se a pessoa se sente bem com isso", diz.

Marcos conta que, ao propor uma versão suave de seus fetiches, a parceira ficou mais confortável em experimentar. "Ela se dispôs a tenta uma amarração simples e um spanking (apanhar) leve. Também ficou interessada no uso de velas (wax play, quando se pinga vela derretida no parceiro)".

Se a pessoa gostar, avance o sinal

"Se o outro tiver uma reação positiva à primeira tentativa do fetiche, aí dá para introduzir jeitos novos de praticar: se seu fetiche for apanhar, pode propor que o outro use um cinto para bater, depois mencionar um chicote, por aí vai. Se, na medida em que o fetiche for avançando, a pessoa realmente não gostar, é preciso respeitar", afirma Ingrid.

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Não force a barra

Ela diz que é essencial respeitar os limites do par. "Acho muito importante não forçar a barra. Da mesma forma que tem gente que gosta de coisas mais extremas, como escatologia, pode ser igualmente repulsivo para outras pessoas —não adianta pressionar para fazer. Eu não tenho mais como pedir para meu marido puxar meu cabelo se isso vai ferir os sentimentos dele".

Se não der certo, tem de pensar se vale a pena continuar

Taís*, 25, de Marília (SP), afirma que foi muito incompreendida por seus prazeres. Ela diz que não consegue fazer sexo "tradicional", e que foi frustrante quando tentou fazer dar certo com parceiros que não gostavam da coisa.

Para quem curte tanto o BDSM quanto o baunilha, não há problema algum em introduzir as práticas aos poucos, de forma sutil. Agora eu não tenho interesse no sexo baunilha. Nesse caso é importante conversar sobre o assunto logo nos primeiros contatos, de forma mais direta, e identificar se a pessoa realmente gosta daquilo.

Para quem não quer terminar o relacionamento, especialmente se já tem sentimentos envolvidos ou uma vida conjunta construída, Taís acha que propor uma abertura na relação é uma boa saída. Do contrário, fica complicado. "Não vale a pena investir numa relação onde haverá sempre uma insatisfação", pensa.

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*Com matéria publicada em 22/03/2019

**Os nomes foram trocados para proteger as identidades das pessoas

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