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"Só não sou machão": por que Danrley, do BBB, precisa dizer que não é gay?

Danrley participa do "Mais Você" - Reprodução/Globo
Danrley participa do "Mais Você" Imagem: Reprodução/Globo

Ana Bardella

Colaboração para Universa

22/03/2019 04h00

Após ser eliminado do Big Brother Brasil, Danrley Ferreira rapidamente se transformou em um dos assuntos mais comentados da internet. Com seus recém-completados 20 anos, o carioca é morador da favela da Rocinha, faz faculdade de Biologia e, aos finais de semana, vendia picolé na praia.

Logo no início do programa, revelou que não só foi o primeiro membro da família a ingressar na faculdade como também foi pioneiro ao concluir o Ensino Médio. No entanto, entre tantas histórias, outro ângulo da sua vida despertou a curiosidade do público e ganhou destaque na mídia: sua orientação sexual.

Assim que entrou na casa, Danrley deixou claro que namorava uma garota. Larissa Celestino participou ativamente da campanha para sua permanência na casa foi uma das primeiras a abraçá-lo após sua saída, com direito a beijo na boca em rede nacional.

Apesar disso, Danrley, que já havia sido alvo de debates nas redes sociais, foi obrigado a esclarecer em um bate-papo com Fernanda Keulla que não é homossexual. O motivo? Além de brincar sobre o assunto na casa, também apresentou um comportamento considerado "afeminado" pelo público.

Como resposta, o participante garantiu não se enquadrar no estereótipo do "machão". Pelo contrário: disse que "dança e rebola até o chão" e que não sofre com uma "masculinidade frágil". A namorada, presente na conversa, opinou: "Ele dança, se diverte, brinca, é carinhoso. E hoje em dia temos essa coisa de que hétero tem que ser durão, escroto. Ele não é assim e isso me encantou. É o que me faz ficar cada vez mais apaixonada". Em outra ocasião, a irmã do participante também precisou se manifestar sua orientação sexual. Afinal, por que esse assunto desperta tanta curiosidade?

Sexualidade vigiada

Na opinião de Fernando Calderan, psiquiatra e voluntario do Núcleo Trans Unifesp, somos criados vigiando a sexualidade alheia. "Aprendemos ao longo da vida a reparar se as pessoas estão transgredindo comportamentos. As religiões, a escola e a própria família acabam reforçando esse hábito: algumas de forma mais liberal, outras de maneira conservadora", explica. Katyanne Segalla, psicóloga especializada em psicoterapia junguiana, relembra que, no caso das pessoas públicas, o assunto pode ganhar ainda mais força. "Quando se trata das celebridades, até as coisas mais básicas, como o que vestem ou comem, nos chamam a atenção. Isso acontece porque, dessa maneira, conseguimos aproximá-las da nossa realidade", esclarece.

Fugir do esperado

Paulo Henrique Nunes, psicólogo clínico e analista bioenergético, relembra que na sociedade existem papéis esperados para cada um dos gêneros. "Isso é apresentado para as crianças desde cedo, quando presenteamos meninos com carrinhos, que simbolizam a aventura, e garotas com panelinhas, que simbolizam o cuidado", exemplifica. "Na opinião de uma parcela grande da sociedade, homem não chora, não tem fraqueza, parte para cima. Por isso aqueles que são dóceis, sensíveis ou amorosos podem ser tidos como gays, ainda que sua preferência sexual seja somente por mulheres", diz.

"Essa Coca é Fanta" por quê?

Na internet, comentários com o objetivo de alfinetar o comportamento de Danrley são recorrentes. Entre ele a expressão "Essa Coca é Fanta", popularmente utilizada para se referir a homossexuais que não se assumiram perante a sociedade. "Dependendo da maneira como é utilizada, a frase pode ter uma conotação negativa, dando a entender que existe um disfarce por parte da pessoa. E se algo está sendo disfarçado, é porque é errado. Logo, pode parecer uma brincadeira, mas é uma forma de perpetuar o preconceito", aponta Calderan.

Os três profissionais ouvidos na reportagem ressaltam que a maneira como uma pessoa se expressa não interfere na sua orientação sexual. "O risco que corremos é de encaixarmos as pessoas em estereótipos. Às vezes um homem criado só por mulheres pode incorporar hábitos e trejeitos femininos, sem que isso interfira na sua vida afetiva. O contrário também pode acontecer", pontua Nunes.

Para finalizar, Katianne relembra: "Para os homens, por conta da repressão social, pode ser mais penoso entrar em contato com os próprios sentimentos. Por conta disso, muitos acabam tentando reprimi-los, acreditando que assim estão reforçando sua hombridade. Mas o hábito é prejudicial e pode resultar em doenças como ansiedade e depressão", alerta.