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Advogada agredida em delegacia na BA: "Se fosse homem, não agiriam assim"

Thalita Coelho Duram, de 30 anos - Arquivo pessoal
Thalita Coelho Duram, de 30 anos Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Gonzalez

Da Universa, em São Paulo

07/02/2019 12h15

Na noite de sábado (2), a advogada Thalita Coelho Duram, de 30 anos, foi chamada para acompanhar o flagrante de quatro rapazes detidos sob suspeita de tráfico de drogas, na 23ª Delegacia, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador (BA). O que ela não esperava, no entanto, era que ela mesma prestaria queixa contra o delegado Giovani Paranhos dos Santos e um dos policiais da unidade, identificado como soldado Luís Paulo. 

Em entrevista à Universa, Thalita relatou que teria sido impedida de ler o depoimento dos rapazes antes que eles assinassem e, depois de insistir, teria sido agredida verbal e fisicamente pela dupla de plantão, que teria tomado seu celular, dado um empurrão e ameaçado prendê-la.

"Ele estava conduzindo o flagrante de forma arbitrária. Fiz meu papel de advogada e não permiti. A partir daí começaram os xingamentos. Decidi filmar, tomaram meu celular, me empurraram e começaram a insinuar que deveriam me prender", contou. 

A advogada chegou à delegacia às 23h de sábado (2), acompanhada do noivo, que não é da área jurídica e permaneceu do lado de fora enquanto ela trabalhava. 

Quando ouviu a gritaria, por volta das 2h, ele teria aparecido na porta do local para ver o que estava acontecendo -- foi quando a advogada teria decidido sair correndo. "Acabei não assinando nada. Decidi fugir dali porque, se ficasse mais, não sei o que teria acontecido", disse ela. 

"Acho que, se eu fosse um homem, não teriam agido dessa forma, com tanta violência. Eles foram mais abusados porque eu sou mulher", acredita.

Thalita é advogada criminal há oito anos e garante que nunca viveu uma situação como essa. Normalmente, ela trabalha ao lado do sócio -- que não pôde acompanhar o flagrante no sábado porque estava em um compromisso familiar -- mas já havia feito o mesmo procedimento sozinha outras vezes. 

"Ainda não voltei a uma delegacia depois do que aconteceu. Só vou saber [como vou reagir] nos próximos dias, mas por enquanto só volto a acompanhar flagrantes, principalmente à noite, acompanhada do meu sócio ou do meu noivo", disse. 

Consequências

No domingo (3), Thalita reportou as agressões à OAB e ao Ministério Público da Bahia. "Eu só gostaria que se retratassem e não voltassem a tratar outra pessoa dessa forma", pede. 

A OAB informou, em nota, que "casos como este não podem acontecer" e que está tomando as providências para que a dupla responda pelas agressões. Na terça-feira (5), a entidade promoveu uma audiência para discutir o caso. Estiveram presentes o comandante-geral da Polícia Miliar da Bahia, coronel Anselmo Brandão, o presidente seccional da OAB, Fabrício Castro, o tesoureiro da OAB-BA, Hermes Hilarião, o presidente da Caixa dos Advogados (CAAB), Luiz Coutinho, e o advogado Saulo Guimarães. 

O caso está sendo apurado pela Corregedoria Geral da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Universa tentou ouvir o delegado Paranhos e o soldado Luis Paulo, mas foi informada pela assessoria de imprensa que os dois não devem se manifestar até o fim do processo. Caso as agressões sejam atestadas, os dois podem receber advertências formais ou até serem afastados dos cargos.