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Professor faz pedido de casamento na UTI após morte cerebral da namorada

Ralide Mourão e Ana Grazielle  - Acervo pessoal
Ralide Mourão e Ana Grazielle Imagem: Acervo pessoal

Mariana Araújo

da Universa, em São Paulo

06/02/2019 11h56

Na terça-feira (29), a acreana Ana Grazielle da Silva, de 17 anos, tomava banho em casa quando a estrutura do banheiro desmoronou sobre ela. Desde então, a estudante permanece internada no hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, onde ela teve morte encefálica três dias depois, na sexta-feira (1).

Diante do estado grave da namorada, o professor Ralide Mourão, de 30 anos, decidiu antecipar um sonho do casal: pediu a namorada em casamento, mesmo na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do centro médico.

À Universa, Ralide contou que o casal namorava havia quatro meses, mas já planejava que o noivado e o casamento acontecessem até o final de 2019.

"O que sentimos um pelo outro é um verdadeiro amor, estávamos todos os dias juntos. Tanto que, quando o acidente aconteceu, a primeira pessoa que ela pediu para chamar fui eu. Nos conhecemos há dois anos, mas começamos a namorar só em outubro do ano passado, com permissão dos pais dela. A mãe dela trabalha na mesma escola em que sou professor. Todos os finais de tarde, ela ia ajudar a mãe, e começamos a nos paquerar. Quando a vi pela primeira vez já me apaixonei."

"No início, não chamei a atenção dela, mas, com o passar do tempo, eu não desisti e pedi que ela me desse apenas uma chance. A mãe tinha um pouco de receio pelo fato de eu ser mais experiente do que ela, existia um certo medo de que eu 'apenas brincasse com o sentimento dela'. Então, comecei a "conquistar a mãe" para que ela também pudesse me dar uma força, porque ela já me conhecia e sabia do meu caráter. Mas com a ajuda das pessoas da família que me conhecem e sabem do meu caráter, ela se convenceu de que poderia me dar uma oportunidade."

A união, ainda segundo ele, era o assunto sobre o que mais conversavam -- mas os planos foram interrompidos pelo acidente, que aconteceu por por volta do meio-dia .

"Depois de uns três minutos, o suporte de alvenaria do banheiro, que não é fixado no chão, desmoronou e causou este ferimento no braço, o mais grave, e uma pequena pancada na cabeça. Ela foi encaminhada até o pronto-socorro ainda consciente e falando, porque essa pancada na cabeça não provocou nenhuma lesão, [mostrou] a tomografia. Como foi superficial, ela atingiu apenas o couro cabeludo, onde ela levou 10 pontos. Mas a Ana Grazielle entrou na sala de cirurgia para um procedimento no braço esquerdo e teve três paradas cardíacas. Uma delas durou dez minutos. Não tem cérebro que aguente isso."

O par de alianças de Ralide e Ana Grazielle - Acervo pessoal - Acervo pessoal
O par de alianças de Ralide e Ana Grazielle
Imagem: Acervo pessoal

Ao deixar o centro cirúrgico do hospital do Juruá, onde está internada há uma semana, Ana Grazielle já estava em coma profundo e respirando com a ajuda de aparelhos.

"A minha rotina desde então parou. Eu estou dilacerado, eu estou acabado. Estou sem reação e sem ação nenhuma. Depois disso, todos os sonhos, todos os planejamentos, foram arrancados de forma brutal."

Dias depois, Ralide recebeu da equipe médica a informação de que Ana Grazielle havia tido morte encefálica, mas decidiu prosseguir mesmo assim com os planos do casal. 

"Quando recebi [a notícia], tive a ideia de realizar o nosso sonho antes que, Deus me livre, que ela pudesse falecer. Quero que ela, ainda viva, possa curtir sentimentalmente esse momento do nosso noivado. Por isso, com a autorização da família, me dirigi até o hospital com um pastor para abençoar o momento. Lá, eu levei a música que irá tocar no nosso casamento, Rosa Azul, da Banda Novo Som, coloquei o fone de ouvido nela, outro em mim, e escutamos a música do cerimonial. Ao ouvirmos, senti seu coração acelerar. Isso foi uma prova de sua resposta, o 'sim' naquele momento em que fiz", acredita.

O noivo já usa sua aliança, mas para Ana Grazielle, ele entregou um símbolo do momento do noivado. 

"Nela foi usada uma fitinha para representar a aliança, porque ela não pode usar nenhum metal no hospital. A dela está guardada com a mãe, esperando ela voltar. Eu disse no ouvido dela que eu estava antecipando nosso sonho. Naquele momento, queria que ela fosse minha esposa, como sempre sonhei. Os pais acharam um momento muito emocionante, sincero e verdadeiro. [Ninguém me desaconselhou], todos acharam um gesto lindo e uma verdadeira história de amor."

Ralide deu uma fita a Ana Grazielle para simbolizar a aliança de noivado do casal - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Ralide deu uma fita a Ana Grazielle para simbolizar a aliança de noivado do casal
Imagem: Acervo pessoal

Mesmo diante do diagnóstico grave, Ralide não perde a fé de que a estudante possa se recuperar de alguma forma.

"Tenho muita esperança de que ela acorde. Oramos todos os dias, toda hora, e temos certeza que haverá um milagre proporcionado por Deus. No hospital, todos estão comovidos com o acidente e com a minha decisão. Estarei com a Ana Grazielle até o último segundo de nossas vidas. Se ela voltar sem sequelas, estarei com ela. Se ela voltar em cima de uma cama, estarei com ela. Até que Deus nos separe. É muita dor no coração. Mas o que me sustenta é saber que ela ainda está viva e que estamos vivendo o melhor momento das nossas vidas."