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Passei uma semana no Tinder dando match com casais a fim de sexo a três

Repórter do UOL entra no Tinder para conversar com casais que buscam uma pessoa para "curtir" - iStock
Repórter do UOL entra no Tinder para conversar com casais que buscam uma pessoa para "curtir" Imagem: iStock

Jacqueline Elise

Da Universa

11/12/2018 04h00

Sempre tive a cabeça aberta com relacionamentos. Não vejo problemas com relações abertas, só para sexo casual, ou poliamor --desde que os envolvidos estejam de acordo e felizes, acho que tudo é válido. Ao mesmo tempo, prefiro me relacionar com gente que já conheço pessoalmente. Mesmo na minha época de solteira, nunca tinha baixado o Tinder por achar o processo todo de "selecionar" quem eu queria e iniciar uma conversa por mensagem muito esquisito. Mas, quando comecei a escrever mais sobre sexualidade e comportamento, passei a ouvir com frequência os comentários de pessoas que usavam o aplicativo e que sempre trombavam com casais nele.

Apesar de haver alternativas como o Feeld, que foi criado especificamente para unir casais e potenciais "terceiros elementos" para um sexo a três (ou mais, vai saber?) e até mesmo um poliamor, tem quem prefira o Tinder por causa da sua popularidade. Então resolvi baixar o aplicativo pela primeira vez e, por uma semana, ver se seria fácil encontrar casais dispostos a uma aventura, e o que os levou a procurar o Tinder para achar um "terceiro elemento".

Primeiro, precisava montar meu perfil: coloquei uma foto minha e optei por deixar minha descrição em branco. Achei melhor dar "match" com os casais sem falar que estava fazendo uma reportagem, para ver se era possível engatar uma conversa mais natural e sem aquele ar de entrevista. Nas configurações, coloquei uma distância máxima considerável de 80 km e deixei o perfil aberto para me sugerir homens e mulheres, na faixa etária de 18 a 40 anos. Com tudo pronto, fui à caça.

Achar casais é mais fácil do que parece

Se teve algo que me surpreendeu logo de cara foi a facilidade com que consegui encontrar os casais no Tinder. O quinto perfil que apareceu para mim foi de uma dupla que já se apresentava como "Casal" no nome (depois percebi que isso é bem comum), muito próximo de onde eu estava, no Grande ABC, em São Paulo.

Eles não divulgavam seus nomes, mas diziam a idade: ela tinha 24; ele, 28 anos. Dei um "like" e, minutos depois, demos match. Eles mandaram mensagem primeiro, já pedindo meu número do Whatsapp, sem nem perguntar mais informações. Acabei não passando. Tentei puxar conversa, mas insistiram em continuar o papo no outro aplicativo. Deixei quieto.

Cheguei a dar mais de 20 matches com casais. Destes, só um par me deixou a ver navios no bate-papo e ignorou minha mensagem. Com os outros, boa parte não passou do famoso "oi, tudo bem?". Vários casais insistiram em ir para o Whatsapp ou já passar logo de cara minha localização para um encontro no motel. Foi difícil ter uma conversa completa.

Dos casais com quem tive um papo mais aprofundado, percebi que a maioria era novata nisso: um deles, Ana* e Marcos*, estava em busca de seu primeiro sexo a três. Ana me passou as regras: eu teria que transar com ela, mas não com Marcos. Ele só transaria com a namorada, mesmo. Ana disse que está descobrindo "seu lado bi", em suas palavras. Eles disseram que gostam "de tudo um pouco", especialmente sexo oral, mas sem pressão, segundo a moça.

A outra dupla, Luis* e Julia*, disse que se conheceu no Tinder e que estavam de volta ao aplicativo há um mês, à procura de uma garota com quem pudessem curtir. Eles ainda não tinham achado uma pessoa que topasse a aventura. Já Carla* e Jonas* tinham conseguido um encontro pelo app: eles contam que foi maravilhoso e que gostariam de repetir a experiência com outras mulheres. O casal também falou que gosta de criar uma amizade com a pessoa primeiro, para depois pensar em algo a mais.

Mariana* e Silas* são só "amigos com benefícios" (ou seja, não têm uma relação oficial), mas estão no Tinder para achar outra menina a fim de ter "momentos incríveis a três", como dizia a descrição. Eles preferem encontrar a pessoa em lugares públicos, como cafés e bares, para trocar ideia e, se tiver química, ir para um motel. Mariana disse que eles gostam de tudo: anal, oral, "muito beijo na boca" e ela diz que adora beijo triplo.

Qual o perfil dos casais?

Depois deles, encontrei vários outros perfis de duplas, sem nem precisar pesquisar tanto. Logo percebi que a maioria deixa claro que se trata de casais em busca de uma terceira pessoa. Com menos de uma semana de experimento, chegou em um ponto que eu não precisava aguardar o "like" dos casais: eles já tinham me "curtido", o match era instantâneo e a conversa vinha logo de cara. Eu nem precisava mandar mensagem primeiro.

E parece que há tantos deles no Tinder que, entrando no perfil das pessoas solteiras, percebi que já existe uma necessidade, principalmente de algumas mulheres solteiras, em deixar claro que não estão interessadas em ter encontros com casais. Meninas lésbicas já avisam que duplas não têm chance: "Não vou transar com seu namorado, não insista", dizia uma. Os homens solteiros preferem falar que estão buscando só "uma namorada" ou "uma amiga", o que me faz pensar que há poucas ofertas de ménage à trois para eles e mais para elas.

Com a exceção de um casal que estava em busca de tanto homens quanto mulheres, todos que encontrei no Tinder procuravam somente uma menina para curtir com eles, informação que já era dada na descrição do perfil. Não achei pares mais interessados em homens. Outra tendência que notei foi que todos os casais eram compostos por um homem e uma mulher, na maioria das vezes o cara era mais velho do que sua parceira. Não achei casal de mulheres não-monogâmico.

Só dois perfis com quem dei match usavam o perfil de um dos membros do casal para encontrar pessoas, e um casal falou que quem respondia ao bate-papo eram os dois, todos os outros foram as meninas que conversaram comigo. Somente dois casais não mostravam o rosto da dupla. O foco do álbum de fotos de boa parte dos casais era maior nas garotas. 

E aí, rolou?

Não "avancei o sinal" para nenhum dos casais. Apesar de serem simpáticos, a necessidade de levar a conversa para o Whatsapp acabou esfriando as coisas com a maioria, e o interesse em manter a conversa foi morrendo fácil. Talvez também seja assim com pessoas solteiras que estão procurando alguém na internet, mas minha falta de experiência não me permite opinar neste departamento.

No fim, confirmei que realmente não levo jeito para essa coisa de paquera online: tudo parece um pouco distante demais para mim, que gosto de um papo animado, quando um assunto puxa o outro. Mas, para quem quiser se envolver com um casal, o Tinder é tiro e queda: tem muito mais do que a gente imagina e todos bem dispostos a curtir e experimentar coisas novas.

*Os nomes foram trocados para garantir anonimato

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