Topo

Sugar Mommy já bancou três babies: "Deu novo sentido à minha vida"

Ana Claudia Cruz viu a vida mudar após se tornar uma Sugar Mommy - Acervo pessoal
Ana Claudia Cruz viu a vida mudar após se tornar uma Sugar Mommy Imagem: Acervo pessoal

Claudia Dias

Colaboração para Universa

25/11/2018 04h00

De um lado, uma mulher autoconfiante, madura e bem-sucedida. Do outro, um homem com menos idade, experiência e dinheiro. Juntos, um casal quebrando padrões e estabelecendo novas formas de relacionamento. 

Fugindo ainda mais do estereótipo, é ela quem banca todas as contas e decide os passos e o dia a dia da relação, seguindo o acordo definido previamente entre os dois numa rede social, onde se conheceram. Parece enredo de novela? Não é. 

Veja também

Ana Cláudia Cruz, arquiteta de 52 anos, é uma das 14 mil mulheres inscritas como mommy na plataforma Meu Patrocínio que une endinheirados mais velhos a moças e rapazes bonitos, interessados numa relação em que os mais novos não precisam se preocupar com a questão financeira. 

Ao contrário, o estilo de vida dessa turma, conhecido como sugar, é recheado de viagens frequentes, jantares em restaurantes sofisticados, presentes caros e despesas quitadas por quem assume o papel de provedor, entre outros "mimos". 

A arquiteta faz parte do grupo que tem crescido dentro da rede social exclusiva. Inscrita no serviço há pouco mais de um ano, foi ali que ela encontrou o atual par, um sugar baby de 30 anos, com quem vive uma relação com intenções e objetivos bem claros. 

O histórico de Ana Cláudia não é diferente de muita gente: casou-se cedo e depois de quase 20 anos, a exemplo de tantos outros, viu seu relacionamento cair na mesmice, transformando marido e mulher em companheiros, quase irmãos. 

Com um filho praticamente adulto, Ana Cláudia acreditava que ainda tinha muito a experimentar. Dona de uma autoestima lá em cima, resolveu que era hora de dar aquela guinada na rotina e foi à luta, em busca de emoções. 

Desde que se divorciou, há sete anos, experimentou alguns relacionamentos, a maioria com homens mais velhos, até que se deparou com uma reportagem sobre a rede social de propósito bem peculiar. "Como sou uma pessoa que gosta de arriscar, resolvi experimentar esta modalidade de relacionamento", diz ela, que sempre teve certa queda por homens jovens. 

Para Ana Cláudia, eles trazem "frescor, um sabor de aventura, novos sonhos" para a relação, o que nem sempre se encontra na convivência com alguém de idade parecida. "Parece que os homens, a partir de um certo momento, se acomodam e não esperam mais nada da vida", avalia.

Ao contrário, os mais jovens despertam vitalidade e afastam qualquer marasmo, motivo que a levou a entrar para o seleto grupo. "Ser uma mommy fez a minha vida ser mais leve e emocionante e deu um novo sentido à minha vida. Estou adorando!", garante.

A arquiteta lembra que, quando criou o perfil, os primeiros contatos vieram rapidamente, o que lhe permitiu selecionar bastante. Criteriosa, optou por aqueles que escreviam corretamente e pareciam ter bom nível cultural. Mesmo assim, não conseguiu fugir de algumas surpresas. 

"Estava trocando mensagem com um cara bonito e atraente. Ao vivo, era mais lindo ainda! Mas foi uma decepção quando começou a falar: totalmente sem conteúdo. Só tinha beleza! Para mim, é importante ter alguém com quem conversar, trocar ideias, o que não foi o caso", lamenta.

Desde o cadastro, a arquiteta se relacionou com três babies. As duas primeiras experiências "deram certo enquanto duraram", como ela mesma define. "Não estou ali procurando casamento, quero aproveitar a vida ao lado de pessoas que me tragam novas emoções", pontua. 

Tão verdade que uma das relações desandou porque ela se viu na posição de "mãe", o que foi crucial para  a relação. "Não era uma troca de experiências de vida, era um 'cuidar' constante. Também não estou ali procurando outro filho", ri.

Uma relação sem rótulos 

O terceiro baby que apareceu em sua vida tem se revelado mais promissor. É um artista plástico de 30 anos, com que ela está há quatro meses. Em comum, compartilham os interesses e a paixão pela arte. "Gostar das mesmas coisas facilita muito a nossa relação. Existe uma ótima química entre nós e temos uma relação de troca de ideias e experiências. Fico feliz porque sei que acrescento à vida dele", comenta.

Sem rotular o que vivem, eles se encontram com frequência, como qualquer casal. Mês passado, viajaram para a Europa, onde visitaram algumas exposições em Paris e esticaram para alguns dias de descanso no norte da Itália. A viagem, é claro, foi toda patrocinada pela mulher. 

A exemplo de todo relacionamento que começa numa rede social como essa, o "acordo" entre eles prevê que a arquiteta custeie alguns cursos para o sugar e as despesas quando os dois saem. "Por ser artista, ele não é uma pessoa muito ambiciosa e exigente e quem acaba sugerindo as coisas sou eu. Sei que posso impulsioná-lo na carreira e isso me faz bem, me dá satisfação", afirma.

A mommy frisa que não se trata de uma relação baseada apenas em aspectos financeiros. Segundo Ana Cláudia, existe sentimento de companheirismo, atração e interesses comuns. "Para mim, se não houver sentimento, química, não rola!", garante.

Felicidade gera felicidade

Mas ela não nega que gosta de mimar seu baby: se descobre um curso interessante, sugere que ele o faça; se passeiam no shopping, saem de lá com algumas "comprinhas"; se vai jantar no apartamento dele, leva presentes deliciosos que o par não teria condições de comprar. "Sempre gostei de proporcionar pequenas felicidades, porque isso também me faz feliz", afirma.

A mommy diz que o artista plástico odeia o termo "mesada", por isso, faz alguns depósitos na conta do outro e procura atender todos os desejos materiais que tem. "Para não tirar o prazer dele, deixo que pague alguns cafés", brinca.

Ana Claudia revela não ter ideia de quanto já desembolsou com o atual sugar, já que não tem o hábito de controlar as despesas. "Vou fazendo aos poucos e tudo depende da evolução da relação", desconversa. A saber, a renda média das mommies cadastradas no Meu Patrocínio é R$ 80 mil, enquanto a dos homens patrocinadores (chamados de sugar daddies), é de R$ 100 mil.

O relacionamento atual que ela experimenta é "fechado", ou seja, nenhum dos dois saem com outras pessoas, até porque se encontram com bastante frequência. "'Estamos' em uma relação a dois, exclusiva. Somos como qualquer casal. A diferença é que eu sou a provedora", resume.

Quando o assunto é sexo, não existe nenhum tipo de acordo prévio. "Sem regras! Sexo com regras é muito chato! Tudo flui naturalmente entre nós. Estamos juntos quando desejamos e, na cama, não há comandante, nem comandado. A 'hierarquia' se alterna!", diz.

Ana Claudia conta que alguns amigos já conhecem seu par, mas não sabem que se trata de um relacionamento sugar. Para todos, trata-se apenas de um envolvimento com uma pessoa mais jovem. "Dispenso comentários do tipo 'é só por dinheiro'. Tenho plena consciência de que sou uma mulher bonita , interessante e inteligente", comenta.

Apenas algumas amigas mais íntimas sabem sobre o acordo estabelecido. Duas delas, inspiradas na experiência da arquiteta, já se cadastraram e estão buscando um baby como o dela.

Tudo às claras 

Para Ana Cláudia, a principal vantagem desse tipo de relacionamento é a clareza de objetivos, sem joguinhos, com todas as intenções bem colocadas, uma espécie de "acordo de namoro". 

"Além disso, sinto que estou no comando da relação. Passei muitos anos sendo 'comandada', me submetendo aos compromissos e às vontades do meu ex-marido, muitas vezes fazendo algo somente por obrigação", argumenta. 

Agora, é ela quem decide quando sair para jantar, o local em que vão, a hora e para onde viajam. "Quem sugere os compromissos sou eu, o que não quer dizer que sou autoritária e obrigo o meu baby a fazer tudo o que quero. Mas devo confessar que é muito bom estar no controle dos rumos da relação", admite.

Tal visão vale, inclusive, para a hora de encerrar o vínculo. "Acho que as relações são válidas enquanto forem satisfatórias para ambas as partes. Sei que, para ele, é confortável, é financeiramente seguro ter uma parceira como eu, mas deixamos claro que só estaremos juntos pelo período que a relação for agradável para os dois", comenta. Nas duas experiências anteriores, foi ela quem colocou o ponto final.

Ana Cláudia se diz feliz e acredita que deixará uma "boa memória de relacionamento" para o baby. "Gosto desta sensação. Me dá prazer o fato de ser importante para alguém", afirma. A conexão deles está perto do fim? Longe disso! Ela só não acredita mais em relações eternas. "O amor e a paixão têm o seu tempo de validade. A gente precisa saber a hora de partir para outra. Que tudo seja infinito enquanto dure!", defende.

Uma comunidade gigante

Ana Claudia é uma das 750 mil pessoas inscritas no site. Desse total, há 655 mil babies (597 mil moças e 76 mil rapazes), 81 mil daddies e 14 mil mommies. Ou seja, para cada mulher no papel de provedora, há quase 6 homens que pagam todas as contas. A média de idade dos sugar babies é 26 anos; das mommies, 43 anos; e dos daddies, 42 anos. 

A tímida presença feminina, entretanto, tem mudado. "Há três anos, quando fundei a plataforma, me baseei inicialmente na figura do provedor masculino, o sugar daddy. Para a minha surpresa e satisfação, comecei a receber mensagens de mulheres que também queriam ter o direito de encontrar os seus babies. Achei ótima a reivindicação! Fico feliz quando vejo as mulheres lutando por direitos iguais, principalmente nas relações!", avalia Jennifer Lobo, CEO e fundadora da rede Meu Patrocínio.

As mommies, entretanto, são mais reservadas e até tímidas, com mais receio de se expor que os daddies. "O que mais ouvimos delas é que ainda há preconceito com relação ao relacionamento sugar. As mulheres, apesar de empoderadas e donas das próprias vontades, temem o julgamento alheio e só compartilham sua experiências com as amigas mais íntimas, o que é bem diferente do comportamento masculino", argumenta Jennifer.

O cadastro de babies é gratuito, mas diante de tanta procura, há fila de espera para novos usuários. Já os daddies e mommies precisam aderir a um dos planos - membro premium (R$ 199/ mês) ou membro elite (R$ 999/ mês), voltado para os "mais ricos e poderosos", que inclui até consultoria individual e canal de atendimento exclusivo, entre outros benefícios.  

Para se cadastrar, cada futuro membro da rede deve responder às mesmas informações: formação acadêmica e profissão, estado civil, altura, tipo de corpo, tom de pele, cor de cabelo e olhos, se é fumante ou se bebe, se tem filhos, se gosta de viajar, que tipo de relacionamento está buscando e qual expectativa de estilo de vida. Daddies e mommies também devem informar renda mensal e patrimônio.