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"Fugi do ex que me apontou uma arma e casei com outro que também me bateu"

Elaine foi ameaçada com uma arma pelo ex-companheiro e passou quatro meses sendo perseguida por ele - Reprodução/Instagram
Elaine foi ameaçada com uma arma pelo ex-companheiro e passou quatro meses sendo perseguida por ele Imagem: Reprodução/Instagram

Camila Brandalise

Da Universa

04/11/2018 04h00

A professora Elaine Cristina Alves, 42 anos, teve que mudar de casa e se esconder de amigos e conhecidos depois de ser ameaçada com uma arma pelo ex-namorado, com quem se relacionou por nove anos. “Fui tão humilhada por ele, por tanto tempo, que cheguei a pensar que morrer seria a única saída.”

No relato abaixo, Elaine fala sobre como viveu por quatro meses com o medo de morrer. "Ele me perseguia no trabalho, no transporte público... foram meses de horror." E, depois, lidou com a decepção no novo relacionamento: foi agredida pelo marido na frente do filho. "Hoje percebo que esses homens me viam como propriedade."

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“Fiquei nove anos com meu ex-namorado. Ele sempre teve muito ciúme, fazia escândalo achando que estava sendo infiel, me vigiava quando eu saía de casa. Decidi terminar, mas o comportamento dele ficou ainda pior. Ele ia na porta da casa da minha mãe e gritava: “Pilantra, sem vergonha, você vai morrer”. Tinha que ligar para o meu irmão ir me ajudar. Via que ele estava sempre em volta da minha casa, subia e descia a rua. Me sentia uma prisioneira. Saía de casa com medo, ficava olhando para os lados. Não queria encontrá-lo. Mas ele sempre me encontrava.

Trabalhava como promotora de vendas e tinha que visitar lojas no centro de São Paulo. Ele entrava atrás de mim e me mandava sair para conversarmos. “Sai agora ou vou fazer um escândalo”, falava. Eu morria de vergonha e ficava apavorada. Um dia, ele colocou o braço em volta do meu pescoço e apertou: “Se você gritar, vai morrer”. Me falava coisas horrorosas, que ia pendurar minha cabeça na avenida Paulista, que se me visse com outro me mataria. Ele me deixava na porta de casa, mas nunca entrava.

No fundo, eu sabia que ele poderia me matar. Não denunciei justamente por isso: se ele soubesse que procurei a polícia, ia acabar comigo. Foram quatro meses de terror. Até que um dia ele apareceu na minha janela. Estava em casa com uma sobrinha de 7 anos. Ele entrou na minha casa, parou na minha frente, puxou uma arma e mirou na minha cabeça. Já tinha sido tão humilhada, vivia com tanto pavor, que cheguei a cogitar que morrer seria a única saída. Dei um tapa no rosto dele e pensei: “É o meu fim”.

Minha sobrinha saiu correndo assim que ele chegou e chamou minha irmã, que era vizinha. Enquanto isso ele gritava e me chamava de louca. Quando ela chegou, ele guardou a arma e começou a gritar. Disse para minha irmã me levar a uma igreja. Mudei de casa, sumi do mapa, só pessoas da minha família sabiam onde eu estava. Tinha pesadelos, andava com medo, estava sempre alerta. Foi assim por muito tempo. Soube que a mãe dele morreu, a família vendeu a casa e foram embora da cidade. Foi quando me acalmei.

Novo relacionamento, mais uma agressão

Depois disso, conheci um homem, me casei e tive um filho. Ficamos juntos também por nove anos. Depois que meu filho nasceu, já não nos gostávamos mais, o casamento tinha acabado. Mas continuamos juntos. Decidi pedir o divórcio depois de ele me agredir enquanto eu dirigia. Me deu socos na frente do meu filho. Disse que nosso casamento tinha acabado e procurei uma delegacia da mulher para fazer o boletim de ocorrência.

Ele soube da minha denúncia e ainda me xingou, ficou furioso. Não queria sair de casa. Dormíamos em quartos separados, mas eu tinha medo. Trancava a porta. Como já tinha passado por uma situação de ameaça, ficava achando que ele ia me matar. Passei noites em claro. Um dia, cheguei em casa e ele estava de malas prontas.

Hoje, há seis anos separada do meu segundo parceiro, penso que esses homens me viam como uma propriedade, como se eu fosse obrigada a suportar seus abusos e fingir que nada tinha acontecido. Depois de ter vivido isso, consigo entender a importância de encorajar outras mulheres e de alertá-las sobre o comportamento de homens violentos. Eles não mudam, e a culpa não é nossa, é deles. Passar por isso sozinha é ruim, por isso, é importante contar com alguém, buscar ajuda e recomeçar. Os recomeços são difíceis, mas necessários. 

*Se você vive uma situação de violência doméstica ou conhece alguém que passe por isso, ligue para o número 180, canal da Central de Atendimento da Mulher do governo federal, para pedir ajuda e receber orientações.