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GenExit: a geração que quer vida mais analógica sem sair da internet

Meninas da geração Z são mais engajadas, mas estão cansadas de "filtros" das redes sociais - iStock Images
Meninas da geração Z são mais engajadas, mas estão cansadas de "filtros" das redes sociais Imagem: iStock Images

Natália Eiras

Da Universa

29/10/2018 04h00

A geração Snapchat, como é conhecida as pessoas nascidas dos meados dos anos 1990 até 2010, não quer mais saber de ser influenciador digital. De acordo com levantamento da agência de pesquisas de tendências Aurora3, garotas dos 12 até os 23 anos estão mudando a relação com as redes sociais e buscando um estilo de vida mais “fora da caixa”. E a razão disso seria a ansiedade causada pela vontade de se incluir em um grupo maior, seja na internet ou na vida real.

“Elas estão cansadas de usar recursos emocionais para manter uma plataforma de marketing para elas mesmas”, explica Sophie Secaf, chefe de estratégia da Aurora3 e uma das autoras da pesquisa. Ou seja, elas estão fatigadas de manter o Facebook organizado, uma paleta de cores e marca pessoal. “É uma ressaca do mundo digital”.

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Contraditoriamente, a GenExit, como a geração foi apelidada por Secaf, tem a disposição de manter on-line duas personas diferentes. “Eles têm duas contas nas redes sociais: uma em que tudo é lindo e outra que eles chamam de conta ‘zoada’, onde publicam fotos despreocupadas e apenas para amigos mais próximos”, fala Sabina Deweik, pesquisadora de comportamento e caçadora de tendências. “Se por um lado eles ainda procuram a validação, por outro, eles já se permitem, em uma realidade paralela, não serem tão perfeitos”.

De acordo com uma pesquisa da Royal Society for Public Health (Sociedade Real pela Saúde Pública, em tradução literal), redes sociais causam ansiedade, depressão e baixa autoestima em jovens dos 14 aos 24 anos. Por isso, a tendência é que as pessoas desta faixa etária sejam mais privados nas redes. Isso não significa, no entanto, o fim dos sites de relacionamento, uma vez que a geração Z nem sabe onde fica o limite entre o que é digital e a vida real. “Eles, inclusive, se conectam melhor pela tecnologia”, afirma Sabina.

“Elas criaram grupos de apoio, comunidades onde compartilham situações”, fala Deweik. Mostrar este lado “imperfeito” de suas vidas em depoimentos em Facebook foi a forma que as mulheres desta faixa etária encontraram para oferecer e encontrar mais conexão humana.

Busca pela autenticidade

Ter a possibilidade de se mostrar em sua autenticidade é muito valioso para as meninas da GenExit. É por isso que elas procuram aceitar e exaltar as próprias características e imperfeições. “As nativas digitais usam a moda e a beleza como forma de expressão pessoal, rejeitando as normas sociais”, fala Nina Giglio, executiva de Marketing da América Latina da consultoria de tendências WGSN.

Natureba, gótica ou fitness? Não importa. As mulheres da geração Z não querem se limitar a uma “tribo”, transitando muito mais facilmente entre os vários grupos. “Os Z são o grupo geracional mais diverso já visto, e desafiam estereótipos, odeiam rótulos e têm uma noção mais fluida do ser”, diz Giglio.

Esta fluidez e busca pela autenticidade influenciam desde aspectos simples da vida até as mais complexas. “Elas são experimentais, gostam de experiências novas. Elas não estão a fim de solidificar uma identidade. Elas querem tudo. Seja sexualidade, gostos, como se vestir”, afirma Sophie Secaf.

Clicktivismo

O levantamento da agência Aurora3 diz que as meninas dos 12 aos 23 anos são muito engajadas e estão preocupadíssimas com o impacto que deixarão no planeta. Elas são, ainda, superfeministas. “Elas cuidam as mulheres com muito vigor”, explica Sabina Deweik. Para aprender mais sobre militância e apoiar outras mulheres, elas voltam ao ambiente digital. “É, como a WGSN chama, clicktivismo. Ou seja, o ativismo digital”, especifica Nina Giglio.

De acordo com Secaf, as meninas da GenExit descobriram que o ativismo em rede, consolidado em uma hashtag, as tornam muito mais fortes. “Porque você descentraliza a voz das mulheres e, assim, torna muito mais difícil calá-la. Não existe um rosto, uma pessoa que podem silenciar”, comenta a especialista, que cita o caso do #metoo e #elenão. Por isso, elas lançam mão dessas ferramentas com tanta paixão que estão mudando, aos poucos, o mundo ao seu redor. “Uma hashtag está conseguindo derrubar gente graúda como Harvey Weinstein”, exemplifica Sophie.

Para as meninas dos 12 até os 24 anos, o ambiente digital é apenas mais uma ferramenta que elas usam para criar conexões e conquistar mudanças no mundo real. Sophie Secaf, no entanto, entende que não podemos ser tão categóricos sobre esta parcela da população, já que estes comportamentos podem ser tão fluidos e mutáveis quanto a geração que a pesquisa retrata. “Eles ainda estão se descobrindo, crescendo”, diz.