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Introversão, timidez e ansiedade social: o que são e como lidar com elas

Falar em público ou fazer um discurso são situações que causam muito stress para a maior parte das pessoas - Getty Images
Falar em público ou fazer um discurso são situações que causam muito stress para a maior parte das pessoas Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

15/10/2018 04h00

Apresentar um projeto para uma audiência considerável ou fazer um discurso em um grande evento são situações que causam muito estresse para a maior parte das pessoas. No entanto, para muitas delas, essas circunstâncias provocam uma apreensão atroz e até mesmo consequências físicas como taquicardia e sudorese –às vezes, semanas antes de o evento acontecer.

Timidez, introversão e transtorno de ansiedade social podem estar por trás dessas reações exacerbadas.

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É importante mencionar que, para quem não é da área de saúde mental, nem sempre é fácil distingui-las ou diagnosticá-las –até mesmo os profissionais precisam recorrer ao DSM (Diagnostic and  Statistical Manual of Mental Disorders), uma espécie de "manual" clínico, para traçar um diagnóstico preciso. São três conceitos diferentes entre si, embora possam ocorrer associações. A grosso modo, porém, traçamos as diferenças mais significativas com a ajuda de especialistas. Se você identificar algum comportamento e estiver percebendo um impacto negativo na sua vida, vale procurar auxílio.

Timidez

A timidez é um traço de personalidade que inclui o sentimento de medo diante de pessoas ou situações novas. Ela traz um certo grau de sofrimento e ansiedade à pessoa que dificulta seu desempenho social, limitando suas conquistas profissionais, afetivas ou sociais. Não se trata de uma patologia, mas, dependendo do impacto na rotina da pessoa, é fundamental trabalhá-la. Exercitar a autocrítica, planejar o que vai fazer ou falar sem submeter-se tanto ao julgamento alheio, tentar relaxar, investir em um hobby e praticar atividades físicas são algumas ações que a pessoa tímida pode tentar para melhorar a autoestima e driblar a insegurança.

Introversão

Também é um traço de personalidade --assim como o seu oposto, a extroversão-- que foi popularizado na psicologia pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) em 1921. O termo é popularmente atribuído às pessoas tímidas, mas são conceitos diferentes. Um introvertido nem sempre sente vergonha --aliás, pode não ter vergonha nenhuma, pois não é tomado pelo embaraço e pela tensão ao precisar interagir com os outros. A introversão é um movimento interno em que a pessoa fica mais ligada em si mesma do que no que ou quem está à sua volta.

Segundo Jung, os introvertidos se relacionam com o mundo através de sua subjetividade, ou seja, de dentro para fora, e muitos simplesmente se aceitam como são e não veem o menor problema em ser assim. São pessoas quietas, reservadas, que adoram atividades que podem realizar sozinhas e, ao se relacionar com um grupo, preferem que seja um grupo conhecido. Caso contrário, primeiro observam bem os demais para só depois ter uma participação mais efetiva.

Seu contraponto, o extrovertido, relaciona-se primeiro com o "externo" e depois é que se põe a pensar sobre o que viveu e tirar suas conclusões. De forma geral, os introvertidos gostam de ficar sozinhos, precisam de menos estímulos para sentir prazer, têm maior capacidade de concentração, fazer uma tarefa por vez, preferem se aprofundar nas conversas a falar mais superficialmente e são bons ouvintes. Importante: as pessoas que são introvertidas geralmente descrevem a si mesmas ou são descritas como tímidas, mas a timidez e a introversão não são a mesma coisa. Introversão e timidez podem se sobrepor, mas pode haver extrovertidos tímidos --aqueles que apreciam o estímulo da multidão e, ao mesmo tempo, temem estar no centro de sua atenção. A introversão é uma característica estável, já a timidez é melhor entendida como uma reação.

Transtorno de ansiedade social

O TAS, antes chamado de fobia social, é um medo muito intenso e desproporcional de ser ou se sentir humilhado na frente dos outros. Diferente da timidez e da introversão, trata-se de um transtorno psiquiátrico, da esfera da ansiedade, no qual o medo de situações em que a pessoa se sente exposta é muito exacerbado. Até ações simples, como comer em público ou falar com um atendente de loja, podem ser paralisantes. O corpo todo reage, o que só aumenta o nível de aflição: rubor, tremores, taquicardia, sudorese e náuseas são comuns. Eventos sociais costumam causar grande desconforto várias semanas antes de sua data efetiva, mas em geral o medo ou a ansiedade são desproporcionais ao peso do acontecimento. É uma patalogia que causa grande sofrimento e atrapalha bastante a vida da pessoa. Pode acontecer desde a infância, sendo que as crianças manifestam o transtorno com irritabilidade e choro. Para lidar com o problema, o melhor a fazer é buscar tratamento psiquiátrico e psicológico. Além da psicoterapia, medicações como antidepressivos, beta-bloqueadores e ansiolíticos podem ser indicados.

FONTES:
Adriano Segal, doutor em Medicina pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretor do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica); Gabriela Malzyner, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP (Pontifícia Universidade de São Paulo) e psicanalista pelo Instituto Sedes Sapientiae, em
São Paulo (SP), e Luiz Scocca, psiquiatra pelo IPq-HCFMUSP, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Americana e Psiquiatria (APA)