Um barulhinho bem suave de cafuné. O ruído quase imperceptível de alisar uma bolsa ou de afofar um travesseiro. Esses sons têm algo em comum e por trás deles está a russa Maria, de 32 anos. Ela ganha a vida sussurrando, em inglês, no YouTube - seu canal GentleWhispering (sussurro gentil, em português) soma quase 1,5 milhões de seguidores.

Maria, que prefere não divulgar o sobrenome para evitar stalkers e colocar em evidência o nome de seu canal, é a estrela de um fenômeno chamado ASMR (a sigla, em inglês, quer dizer resposta sensorial autônoma do meridiano). Esse é o nome dado ao efeito causado por alguns sons - um formigamento que começa no couro cabeludo e se espalha pelo corpo, que também é conhecido como orgasmo mental.

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O lucro dela vem dos anúncios no seu canal e de conteúdo patrocinado. Maria acumula o maior número de visualizações entre a produção de ASMR no YouTube. São mais de 300 milhões em quase 400 vídeos. Um estudo da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, afirma que na internet são mais de 13 milhões de vídeos inspirados no tema. Ou seja: tem muita gente sussurrando e ouvindo sussuros por aí.

Quem gosta da sensação diz que ouve para relaxar e dormir. Mas tem quem fique agoniado ou se irrite. Quer saber qual é o seu caso? Então conheça Maria:

Rainha do sussurro

Maria se mudou da Rússia para os Estados Unidos em 2006 para estudar inglês. Em 2009, com crises de ansiedade e um casamento falindo, procurou vídeos de meditação no YouTube e caiu em um com a sigla ASMR.

Ouviu uma pessoa sussurrando, sentiu o orgasmo mental e gostou da sensação de relaxamento. Dois anos depois, pensou: "também posso fazer isso". Foi quando criou seu próprio canal, sem muita pretensão, mais porque todos elogiavam sua voz aveludada.

Se dedica exclusivamente ao ASMR há três anos, quando deixou seu emprego. "Queria proporcionar a outras pessoas o mesmo prazer que eu tinha", disse, em entrevista à Universa.

Em seu canal, já se passou por massagista, cabeleireira e médica. Em outros vídeos, mostra só suas mãos alisando tecidos ou batendo as unhas na mesa ou em caixas. Também aparece tendo uma conversa imaginária com o interlocutor, sempre sussurrando. "Olá, é muito bom ver você de novo", diz em um deles, que dura 40 minutos. Mas pode passar meia hora apenas mastigando, como quando provou pratos típicos russos.

A brincadeira funciona por causa do microfone binaural, com dois lados, para que o som chegue em uma ou outra orelha, dependendo do lado em que ela falar. A sensação, para quem ouve com fones de ouvido, é de estar muito próximo dela.

Uma amiga muito gentil

A maioria dos seus fãs são mulheres (62%) de 25 a 35 anos (40%) e dos Estados Unidos (48%). 4% das visualizações são do Brasil. Ela acha que atrai mais o público feminino porque tem uma postura amigável. "Falo de um jeito maternal, como uma amiga", diz Maria.

A intenção, segundo ela, não é ser sensual. Mas não tem jeito, os comentários assanhados estão lá. Os que mais a assustam são de homens achando que são namorados dela. "Tem os obcecados, que escrevem várias mensagens, não entendem que o que vêem é uma personagem. Tenho que ignorar", diz.

Ela diz ler cerca de 90% dos comentários para saber o que sua audiência quer ver. Os mais pedidos são aqueles em que ela aparece batendo unhas e alisando objetos como bolsas e roupas.

Também são sucesso os que ela simula ser cabeleireira ou massagista e finge que o cliente é quem a está assistindo.

De onde vem tanto sucesso? Na opinião de Maria, os vídeos ASMR viraram um fenômeno porque tiram a pessoa do caos em que vive. "Muitos de nós vivemos em grandes cidades e recebemos estímulos o tempo todo. Se concentrar em sons específicos é mais uma ferramenta para relaxar."

No caso dela, serviu também para encontrar um novo amor. Seu atual marido tinha um canal de ASMR no YouTube, e eles se conheceram em uma conversa no Facebook trocando dicas sobre o tema.

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