Contos eróticos têm leitoras fiéis em grupos fechados na rede social
O best-seller “Cinquenta Tons de Cinza”, o primeiro da trilogia erótica assinada por E.L. James, foi uma mudança importante para o gênero de romance feminino. Mostrou que livros escritos para mulheres, e com apelo sexual, podem quebrar todos os recordes editoriais (foram mais de 100 milhões de cópias vendidas). E também que publicar textos on-line nessa categoria é viável --a história de Anastasia Steele e Christian Grey nasceu de uma fan fiction. Se antes as mulheres liam romances apimentadas escondendo a capa do livro, hoje elas ficam confortáveis com a leitura no smartphone, tablet ou computador.
Autoras de histórias eróticas não estão mais só nas livrarias físicas e digitais. Elas desabrocharam nas redes sociais. A moderadora do grupo fechado no Facebook, "Palitas indelicadas +18", com mais de 100 mil membros (apenas mulheres), Patricia, 33, conta que as postagens de contos têm grande interação das leitoras e chegam a ser compartilhadas outros grupos, já que a maior parte das participantes nunca está em apenas uma comunidade.
“A temática mais comum aos contos é sexo com estranhos”, fala. Thaynara, 24, recentemente, começou a escrever os próprios contos e publicar na comunidade moderada por Patricia. “Tenho um retorno enorme das meninas que leem, muitas me adicionam, me chamam por inbox pedindo mais, pressionam para postar mais capítulos por dia. Meu celular não para o dia inteiro!”, conta ela, que publica, em média, cinco capítulos de suas histórias por dia, para aguçar a curiosidade das leitoras.
“Faço um de cada vez. Quando começo não sei ao certo quantos farei, a história caminha sozinha. Eu foco em sexo, amor e confusão. E nos detalhes da transa, que as meninas gostam”, fala.
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A moderadora de um grupo menor, o Share Your Venus, com 600 membros formado por mulheres entre 20 e 30 anos, Bia, 25 anos, conta que criou a página para ter um lugar seguro para mulheres expressarem sua sexualidade. No ar desde dezembro de 2017, o grupo compartilha contos, poesias, músicas, ilustrações e qualquer tipo de expressão artística voltada para o erotismo. “As narrativas mais realistas são as mais curtidas, tipo fazer uma surpresa sensual para o namorado ou transar em um lugar diferente, mas as mais fetichistas têm mais comentários, as leitoras marcam umas às outras, dizendo que têm o sonho de realizar aquela fantasia”, fala a moderadora.
Discrição faz parte
A maior parte das autoras que escreve prefere não divulgar sua identidade para os outros membros. “São mulheres que, de alguma forma, foram reprimidas, mas têm criatividade e o gosto pelo erotismo e precisam se libertar, porém, têm vergonha de fazer isso”, fala. Elas podem postar diretamente no mural do grupo, mas preferem falar com a moderadora para que poste o conteúdo de forma anônima. “Por enquanto, fazemos esse contato por inbox, mas vamos começar a usar um formulário on-line para tornar tudo mais prático e acessível às mulheres que têm vergonha de se mostrar”, diz Bia.
A designer que escreve sob o pseudônimo de BRodrigues, 25, é uma dessas autoras. “Eu sempre gostei de escrever textos eróticos, mas tinha vergonha de mostrar para qualquer pessoa, eu não me sentia bem por gostar do tema. Até que, um dia, tive coragem de mostrar um conto ao meu parceiro. Para minha surpresa, não fui reprimida, mas incentivada e elogiada. Só levei broncas por manter os meus textos escondidos”, fala.
Ela aproveitou a aprovação do par e mostrou o texto para uma amiga, que também a incentivou. “Foi quando tive coragem de publicar um conto pela primeira vez na internet. O apoio que recebi das minhas leitoras me fez perceber que valeu a pena ter divulgado meus textos”, conta a jovem, que ainda reflete sobre revelar ou não sua identidade ao escrever. “Eu não saberia lidar com repreensões vindas da minha família. Espero algum dia ser forte o suficiente para enfrentar a sociedade conservadora.”
O processo de criação de Rosa passa por sonhos eróticos, que ela afirma ter frequentemente. “Eu acordo e tento romantizar aquele sonho na minha cabeça, para transformá-lo em uma narrativa. E também me inspiro em práticas curiosas, que ainda não realizei, como o shibari [técnica de amarração do BDSM], uso de brinquedos diferentes e até sexo no avião”, conta.
“Eu pesquiso sobre esses fetiches e escrevo uma cena considerando como eu gostaria de estar em cada uma dessas situações. Só depois de imaginar tudo, começo a digitar em um documento”, fala. Escrever, além de ser uma atividade prazerosa para ela, movimentou a vida a dois. “Meu parceiro é muito aberto a novas experiências, então, cada vez que eu apareço com um conto novo ou uma ideia nova, ele me instiga para testarmos. Posso dizer que escrever contos tem ajudado a minha relação a estar sempre dinâmica”, diz.
Prazer na leitura e na cama
Tamara, 21, é formada em Turismo designer e toda semana lê contos eróticos em grupo do qual faz parte no Facebook. “Me atrai em um conto a intensidade dos personagens, o desejo um pelo outro, a paixão do casal ou amantes que independentemente de brigas ou discussões têm o mesmo fogo”, fala. “Eu sinto tesão ao ler, e antes achava estranho isso, mas agora vejo que é normal. Acabo me inspirando nessas histórias durante o sexo. Os contos me ajudaram a me soltar, me mostraram que não devo ter vergonha do meu corpo e sim conhecê-lo e aceitá-lo como é, isso gerou uma mudança maravilhosa também na minha vida sexual com meu namorado”, conta.
A comerciante Daiane, 30, é leitora do gênero há dois anos. “Sempre gostei do tema, mas tinha preguiça por livros grandes, quando conheci os contos em um grupo adorei, porque é uma leitura rápida, mas não menos excitante”, fala. “Eu gosto também porque não parecem ficção, mas algo do mundo real, eu consigo ler e imaginar que alguém fez aquilo e, por consequência, me imagino realizando aquela loucura também”, diz a comerciante, que muitas vezes lê os contos com o marido. “É bom para eu me manter em êxtase na hora do sexo. Já aconteceu de fingirmos que estamos naquela situação do conto. Sinto um enorme tesão”, fala.
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