Amarração e cordas: como técnica japonesa medieval foi da tortura ao sexo

Conhecido atualmente como uma técnica erótica, o shibari pode ser definido como uma brincadeira adulta que os entusiastas de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão e Sadomasoquismo) consideram parte das preliminares do ato sexual.

Mas ela não surgiu apenas para dar prazer, muito pelo contrário.

Suas origens históricas são da época do Japão medieval. A técnica era utilizada para a contenção de prisioneiros comuns e criminosos de guerra. Como havia pouco metal no país, destinado apenas para a confecção de espadas, usavam-se cordas.

Com o tempo, as amarrações foram se aperfeiçoando até se transformarem em uma prática de tortura —os japoneses descobriram que, ao apertar determinados pontos do corpo do inimigo, era possível provocar uma dor tremenda.

Com a diminuição dos conflitos no país, o shibari migrou para o teatro e, depois, para os quartos de casais aventureiros.

As técnicas usadas no BDSM estão muito ligadas ao princípio de encontrar prazer na dor. Com o shibari, não é diferente.

Além da imaginação

A explicação para encontrar prazer na dor está na própria fisiologia e na mente de quem vai ser dominado e amarrado. Primeiro, a pessoa é envolvida pela expectativa do que vai acontecer. Em seguida, o medo, o estresse e a ansiedade se fundem, o que pode propiciar um orgasmo intenso.

São vários sentimentos e sensações diferentes ao mesmo tempo, desde o arrepio na pele até a sensação de ter superado o medo inicial e aprender a expandir os limites do corpo. Por fim, a sensação de aconchego e de calma que vem ao final é o que faz com que os praticantes sejam como devotos do shibari.

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Sensualidade e beleza

No shibari, a estética é valorizada. Os nós devem ficar firmes, seguros, mas também bonitos de se ver. É preciso destreza no manuseio das cordas e muita paciência.

Alguns praticantes, inclusive, preferem não misturar o shibari com o ato sexual. Para eles, as sensações de toque e entrega são ainda mais importantes. "A sensação é indescritível, me sinto entregue e relaxada - não presa. É como se fosse um transe, quando a mente parece sair do corpo. As sensações se intensificam, toques leves parecem explosões na pele", conta Vicky, entusiasta das práticas BDSM.

É necessário cuidado nos nós para a segurança do parceiro amarrado
É necessário cuidado nos nós para a segurança do parceiro amarrado Imagem: Getty Images/iStockphoto

Mãos às cordas

Abaixo, veja algumas dicas para testar a amarração.

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Lembre-se: é importante frisar que cursos específicos sobre o tema são importantes para não colocar o parceiro em risco.

O shibari exige pouco material: cordas, tesoura de ponta romba (usada em primeiros socorros) e água. A água é para que a pessoa beba caso caia a pressão. As cordas de fibras naturais, como juta e algodão, com calibre de 6 a 8 mm, são as mais indicadas.

Por segurança, não é recomendável que a corda seja passada no pescoço ou na cabeça, sob risco de causar algum acidente. Nas mulheres, deve ser passada acima ou abaixo dos seios, nunca em cima deles.

Ao primeiro sinal de que o parceiro dominado está sentindo algum tipo de mal-estar, como formigamento nos membros amarrados ou tontura e sensação de claustrofobia, desate os nós e encerre a prática. É preciso monitorar a cor e a temperatura da pele de quem está sendo amarrado - a pressão constante sobre um membro restringe a circulação de sangue e pode causar danos.

O tempo amarrado pode variar de alguns minutos até uma hora, tudo depende de quantas amarrações e posições a sessão será composta. O descanso é importante para completar o prazer sentido pelos praticantes.

É possível aprender alguns nós em tutoriais na internet e sites especializados (comece pelo nó direito). Em workshops presenciais, porém, o aprendizado é maior. Lá são abordados temas como segurança, anatomia do corpo humano e lugares onde a corda deve ou não passar, além das técnicas de como fazer os nós.

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Quem define os limites da brincadeira é a pessoa a ser amarrada. O casal pode, inclusive, se revezar no jogo erótico. É essencial que haja confiança entre os parceiros, por isso, conversar antes de começar é fundamental.

Fontes: Toshi-San, shibarista e professor da técnica; Luis Ferraz, shibarista e criador do Arte Shibari Brasil, com matéria publicada em 19/08/2018

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