Homens estão começando a dividir a responsabilidade para evitar a gravidez
Todo dia, a enfermeira Ana Paula Medeiros, de 34 anos, e seu marido, Renan Evangelista, de 34 anos, sentam e verificam como está a fertilidade dela. No caso, usam o método Billings, que consiste em analisar a umidade da vagina, o muco vaginal e a temperatura e, com base nisso, entender em que fase do ciclo ela está.
"Como o homem é fértil o tempo todo, temos essa abertura para conhecer a nossa fertilidade através da percepção do meu ciclo. E, toda noite, a gente decide junto se é período favorável para ter ou não relações", explica ela. Os dois já têm duas filhas e, no momento, não querem engravidar.
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A forma como os dois encaram a questão da contracepção é parte de um movimento que vem crescendo aos poucos. Não só pelo para que a mulher possa parar de usar a pílula, mas, também, pela divisão da responsabilidade por não engravidar. "Minimamente, os homens estão mais sensíveis. Acho que é uma compreensão de que a contracepção é um dever do casal. O que inclui a decisão sobre o método, as responsabilidades que ele traz e os custos", explica a médica da família Thais Machado Dias, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.
Ela ressalta, porém, que esse movimento ainda é tímido e tem um recorte, sendo muito mais presente no público de classes mais altas que ela atende. Mas acredita que seja o início de um hábito que tende a crescer.
A ginecologista Desiree Encinas, do Núcleo Cuidar, concorda com ela. "Cada vez mais sinto que a responsabilidade está ficando dividida. Principalmente, porque as mulheres estão querendo se livrar do anticoncepcional".
Divisão dos custos
Uma das primeiras formas de incluir os homens na prevenção da gravidez, mesmo por mulheres que tomam a pílula, está na divisão dos custos do remédio. Mas não só dele. Da camisinha, ao valor de colocar um DIU, tudo pode ser compartilhado.
É o caso da estudante Caroline Winkelman, de 27 anos, e seu companheiro Felipe Ferreira, de 30 anos. Desde o começo da relação, eles decidem juntos quais métodos usar e dividem os gastos. Antes, era pílula e camisinha. Depois, optaram pelo DIU.
"Rachamos os custos da colocação. Ele me acompanhou e cuidou de mim após o procedimento". Hoje, os dois moram juntos e, para não correr riscos, ainda usam camisinha, que é vista como uma das despesas da casa e incluída no orçamento compartilhado.
Vasectomia tem menos riscos do que a laqueadura
Quando se fala em prevenção à gravidez, camisinha e pílula são os principais métodos que vêm à cabeça. Mas existem muitos outros, e a maior parte deles está ligada, no entanto, ao corpo da mulher: DIU, diafragma, laqueadura e "tabelinha". Para eles, sobra a vasectomia.
"É importante falar, porém, que a vasectomia é menos invasiva do que a laqueadura. A trompa fica dentro do abdome. A vasectomia é feita pelo escroto, não é preciso abrir", diz Thais, explicando porque a cirurgia no homem é uma opção com menos risco para os casais que escolhem um método definitivo.
Foi esse o raciocínio da química Ani Marinho, de 35 anos, e de seu marido, quando decidiram que ele faria a cirurgia. "Depois que meu segundo filho nasceu, decidimos que não queríamos mais. Conversamos e, por vários motivos, decidimos que ia fazer a vasectomia. O primeiro foi porque a vasectomia é muito mais simples do que a laqueadura. Além disso, eu já tinha passado por dois partos. Nada mais justo do que ser a vez dele", conta ela.
Responsabilidade dividida no dia a dia
Quando o método não é definitivo ou a longo prazo, porém, a contracepção precisa ser uma preocupação constante. Seja lembrar de tomar a pílula, manter o estoque de camisinha ou acompanhar o ciclo para saber o período fértil, como Ana Paula e Renan. Nesses casos, a responsabilidade também pode ser dividida.
"O parceiro pode ajudar se informando, compreendendo o período fértil ou não fértil da parceira. E tem a discussão sobre o que vai fazer no período fértil, que é uma decisão compartilhada", diz Thais.
Para Ana Paula, "planejar as gestações não é só algo relacionado a mim como mulher, mas a ele, também. Então, a gente não trata o filho como um possível acidente, mas sempre como algo de responsabilidade de nós dois. E isso me traz segurança, um elo de parceria muito grande".
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