"Homens não têm hegemonia no futebol aqui", diz brasileira na Islândia

Quando a Islândia entrar em campo para estrear numa Copa do Mundo hoje (16) contra a Argentina, vai ganhar a torcida dos brasileiros, que amam secar os argentinos. Mas uma brasileira, em especial, quer a vitória islandesa: a jogadora Rilany Aguiar da Silva, 31, há dois anos morando no país considerado o melhor do mundo para ser mulher.
O Relatório Anual de Desigualdade de Gênero, publicado pelo Fórum Econômico Mundial no ano passado, mostra que a Islândia está perto de atingir a igualdade plena entre homens e mulheres. O 2018 islandês começou com a aprovação da lei de igualdade salarial. É o primeiro país do mundo a vigorar esta lei.
Jogadora profissional e nascida em Jacareí (SP), Rilany atua no time da cidade pesqueira de Grindavík. É lateral-esquerda, posição que também ocupa na seleção brasileira. Do poder da mulher à carne "podre" de tubarão, ela conta à Universa os detalhes de sua vida neste país de pouco mais de 350 mil habitantes. Confira:
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“Para nós (brasileiros), é extraordinário que as mulheres sejam tão respeitadas. Aqui isso é algo de berço, que só entrou no papel agora”
Universa: Sua consciência política mudou desde que passou a trabalhar na Islândia?
Rilany: Não digo minha consciência política, até porque não falo nada de islandês e então não acompanho o que falam sobre política na televisão. Mas o comportamento de cada cidadão aqui faz com que eu pense e deseje que o Brasil seja melhor e que nós possamos um dia ter o mesmo comportamento, respeito e planejamento que eles têm aqui.
Como foi a transição entre sair do Brasil para ir morar na Islândia?
Morar em um país quente como o Brasil e chegar num país frio como a Islândia é uma mudança drástica, mas a adaptação foi rápida e tranquila. Aqui existe muita estrutura para suportar o frio, então não foi muito difícil para mim.
Neste ano entrou em vigor a lei que torna ilegal que as mulheres recebam salários inferiores aos dos homens, inclusive nas seleções nacionais de futebol...
É um país pequeno, então não é tão difícil conseguir fazer com que exista essa igualdade. Os homens e as mulheres têm a mesma proporção história dentro do esporte, o futebol não tem hegemonia masculina por aqui.
Quais diferenças você percebe na relação com o futebol entre brasileiros e islandeses?
Eles são apaixonados por futebol. Não é um país com história de glórias na modalidade, mas fazem tudo com muito profissionalismo e amor como se fossem grandes. O futebol feminino aqui é profissional, mulheres e homens usam a mesma estrutura do clube e têm as mesmas condições de trabalho. Isso ainda não vemos no Brasil.
E a barreira do idioma?
É impossível falar islandês. É uma língua extremamente difícil. Mas todos no país falam inglês, então facilita no diálogo. E dentro de campo a linguagem é universal. Não tem erro.
Tem amizades por aí?
Tenho minhas companheiras de time, os meninos do time masculino e o pessoal que trabalha no clube. Meu time é muito jovem, as meninas ainda estão terminando o segundo grau. Tem também a Vivi [a goleira Viviane Domingues], que é a outra brasileira que joga aqui. A convivência é saudável nesse aspecto, todos são bem queridos e me tratam muito bem.
O que você gosta fazer quando não está treinando ou jogando?
Sou bem caseira. Gosto de ficar em casa vendo filmes, séries e estudando inglês. Às vezes vou até a capital fazer um passeio e conhecer os lugares incríveis daqui.
Que lugar você recomendaria para um viajante brasileiro por aí?
Não diria um lugar, mas sim a coisa mais incrível: a "aurora Boreal". É algo surreal. Inacreditável.
A alimentação deve ser um capítulo à parte na adaptação...
Tenho praticamente tudo o que tinha no Brasil. Não é algo que atrapalhe. Pelo contrário, me alimento muito bem aqui. Não falta nada e a comida é tão boa quanto a do Brasil. É óbvio que os temperos e as comidas típicas brasileiras são incomparáveis, mas não tenho nada para reclamar.
Já provou alguma iguaria curiosa, como o tal "tubarão podre", tradicional no país?
Já experimentei a carne de tubarão e é horrível (risos). Não sei como definir o gosto e o cheiro, mas é algo peculiar. E é "oito ou oitenta", não tem quem goste mais ou menos, ou você ama ou você odeia. É um tipo de carne que jamais seria bem quista no Brasil!
Você voltaria a morar no Brasil mesmo estando num país tão democrático?
Essa é minha segunda temporada aqui e não sei até quando vou ficar. É um país adorável e agradável de se viver. Mas eu tenho meu país que, mesmo com todos os problemas políticos, ainda é o meu melhor lugar. Não pretendo morar em outro lugar que não seja lá, com minha família e o carinho das pessoas que amo.
Quais as expectativas na Islândia em relação à participação do time masculino na Copa da Rússia?
Eles estão confiantes e desconfiados ao mesmo tempo. Confiantes que farão uma boa Copa, que chegarão às oitavas de final, devido ao bom desempenho na Eurocopa, mas desconfiados de perder do Peru num amistoso. O clima está bom e o país vai parar. Vai ser uma experiência única para eles. Na Eurocopa Feminina de 2016, por exemplo, o país parou para acompanhar a seleção das mulheres, com outdoors espalhados pelo país, comerciais de tevê o tempo todo sobre elas. Isso é algo que enche os olhos.
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