As fotos de Camila Falcão e as possibilidades do feminino nos corpos trans
“Uma mulher transgênero não precisa colocar silicone, tirar a barba ou sequer tomar hormônio para ser considerada mulher; basta que ela se diga mulher --ou pelo menos deveria bastar.” A frase é da fotógrafa paulistana Camila Falcão, que, há pouco mais de um ano, se propôs a retratar mulheres trans e travestis a fim de explorar a pluralidade de seus corpos e identidades.
Assim como existe diversidade entre os corpos das mulheres cisgêneros [que se identificam com o gênero que lhes foi determinado no nascimento], existe no das mulheres que transicionaram de gênero.
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Camila, que tem 40 anos e fotografa há 17, “desde a faculdade de Artes Plásticas” é fã da norte-americana Nan Goldin, também fotógrafa, conhecida por registrar a comunidade LGBTQ em seu trabalho. Foi nas imagens de Goldin, e nos filmes de Pedro Almodóvar, que a paulistana se inspirou para a série “Abaixa Que é Tiro”, que até então conta com 35 fotografadas entre 16 e 34 anos, de diferentes profissões e origens.
“Tem menina prostituta, mas também tem Doutora e artista. Tem menina do Sudeste e do Norte do país. Isso faz parte da diversidade que quero mostrar.” Até o fim deste ano, Camila pretende fechar a série em 50 mulheres.
“Quero colaborar com uma percepção mais realista dessas mulheres e menos caricata e pejorativa. As pessoas, principalmente no Brasil, têm um estereótipo errado delas. Aquela ideia de que travesti é apenas a mulher que trabalha na rua, que fez um monte de cirurgia plástica e busca uma super passabilidade [esse é um termo usado para o quanto uma mulher trans pode se passar, esteticamente, por uma cis] não pode ser encarada como padrão."
Camila fala em "passabilidade", essa palavra que aprendeu ao fotografar “Abaixa Que é Tiro”, porque o termo importa de verdade para a comunidade transgênero. “Quanto mais 'passável' é uma mulher trans, mais tranquilidade de andar na rua ela tem. Ela não vai receber tantos olhares preconceituosos, nem ser alvo de violência. Então, hoje, como as coisas estão, a passabilidade pode ser até uma proteção para elas. Gostaria que minha série ajudasse na desconstrução dessa ideia, que todas pudessem ir e vir, da forma que quiserem ser, sem sofrer”, explica.
O primeiro contato de Camila com a comunidade trans foi em um trabalho voluntário no Centro de Referência e Defesa da Diversidade, uma ONG em São Paulo que dá apoio a mulheres trans e travestis. Isso foi em maio de 2016, quando ela documentou uma ação de distribuição de preservativos e lubrificantes para as mulheres que trabalham na rua à noite.
Sobre as mulheres do ensaio aqui mostrado, Camila conheceu algumas pela internet e outras em eventos ou debates sobre gênero. Foi assim com Onika (foto abaixo). "Brinco que quando a vi pela primeira vez ouvi violinos tocarem de tão encantada que fiquei", lembra a fotógrafa que encontrou sua modelo em um sarau. Onika acabou entrando para a série, mas também ganhou um espaço próprio no portfólio da artista, que passou a registrar cada passo da transição de gênero de sua personagem. Você pode acompanhar essas imagens neste link.
Amara Moira, importante ativista transgênero e autora do livro "E se eu fosse puta", também foi clicada para a "Abaixa Que é Tiro", que a partir de 14 maio será exposta no Museu Histórico do Estado do Pará, em Belém.
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