Em ato no Rio pela morte de Marielle, mulheres falam em luta e resistência

Quase em frente um do outro, dois prédios históricos do Rio de Janeiro estão mais diferentes do que nunca: enquanto o Theatro Municipal permanece com as paredes intactas, a Câmara do Vereadores foi coberta de pichações, colagens e estêncils (técnica usada para aplicar desenhos). A maioria tem o nome de Marielle Franco, vereadora carioca (PSOL) executada a tiros, na região central da cidade, na quarta-feira (14).
"É um símbolo, e está assim porque aqui é onde estão algumas das piores pessoas do Rio. Marielle lutava aqui, militava aqui e morreu por isso", diz Virginia Fragoso, 25, que participou do ato de protesto pelo assassinato da vereadora, na Cinelândia, na quinta-feira (15).
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Sentada na escadaria do edifício, já no fim da manifestação, a estudante foi uma das poucas pessoas que concordou em mostrar o rosto para a reportagem de Universa. Mulher e negra, ela disse que, depois da execução de Marielle, sente-se ainda mais "um alvo".
Sozinha na lateral do prédio, a editora Larissa, 33, empunhava uma lata de spray para gravar nos muros da câmara a frase "Marielle Presente". Ela esteve com a vereadora horas antes da execução da vereadora, em um evento sobre ativismo e empreendedorismo para mulheres negras.
"Fui dar oi e um abraço nela", afirmou, com os olhos cheios d'água. Falou que fez o estêncil de improviso, usando uma radiografia antiga e um estilete que tinha em casa.
No alto da escadaria, uma mulher enrolada em um pano lilás, sem nenhuma roupa por baixo, puxava um coro: "Marielle e Anderson presentes! Hoje e sempre!". Foi seguida por centenas de jovens, que continuaram na Cinelândia, mesmo depois que a maioria dos manifestantes já tinha ido embora.
Conhecida na cidade como Dilminha, Waleska Adami é uma veterana de protestos. O apelido vem da bandeira que costuma empunhar nos atos, com o rosto da ex-presidenta Dilma Rousseff.
"Fui companheira pelo Partido dos Trabalhadores, no Rio Grande do Sul, da Dilma e da Luciana Genro [ex-deputada federal]", explicou. Ela também disse que foi a "primeira mulher libertária a se expor nua no PT".
Como quase todas as outras entrevistadas, Waleska se emocionou ao falar de Marielle. As duas se conheciam pela militância feminista e de direitos humanos.
"Ela era doce e, ao mesmo tempo, resistente. Uma vez, cheguei na Comissão de Direitos Humanos de braço quebrado. Ela se assustou e veio logo perguntar o que tinha acontecido. Expliquei que tinha escorregado e só assim ela se tranquilizou."
Um outro grito começa na boca dos manifestantes. Esse é motivado pela passagem de carros da polícia pela região. "Não acabou, tem de acabar. Quero o fim da Polícia Militar!" Todas as pessoas ouvidas pela reportagem afirmaram ser contra a intervenção militar em curso no Rio de Janeiro.
Laura, 25, e Gabriela Rodrigues, 23, acendiam velas em um altar montado para Marielle. "A execução dela foi um recado. Está na hora de ter cuidado, mas resistir", disse Laura, uma das que preferiu não mostrar o rosto.
Para as estudantes Janaina Pessoa Alves, 23, e Flávia Trindade, 19, o ato foi mais de resistência do que de luto. "É muito difícil para nós, mulheres negras, perdermos essa representatividade da Marielle. É muito difícil alguém chegar onde ela chegou vindo de onde ela veio. Mas a gente vai continuar resistindo. O jeito é esse", fala Flávia.
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