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Após quase ficar tetraplégica, mulher vira fisioterapeuta e atleta amadora

Cíntia Lessa Lima Cancellier, que quase ficou tetraplégica na infância, pratica jiu-jítsu - Arquivo Pessoal
Cíntia Lessa Lima Cancellier, que quase ficou tetraplégica na infância, pratica jiu-jítsu Imagem: Arquivo Pessoal

Janaína Nunes

Colaboração para o UOL

07/03/2018 04h00

Cíntia Lessa Lima Cancellier começou a praticar ginástica olímpica aos quatro anos. Em casa, aproveitava todos os móveis como trampolins para os seus saltos. Um dia, então com seis anos, usou um banquinho para alcançar a pia. De lá, resolveu dar um pulo. Só que a manobra foi malsucedida. Ela caiu e bateu a cabeça no chão da cozinha.

No hospital próximo de casa, os pais da menina chegaram a ouvir que, como eles não tinham neurologista na instituição e ela estava "aparentemente bem", seria dispensada. Só que Cíntia começou a passar mal e foi transferida de ambulância para a BP (antigo Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo).

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"Cheguei ao hospital com os braços flexionados, as mãos fechadas e as pernas esticadas, o que indicava que a lesão tinha sido muito grave", conta Cíntia, que passou por uma cirurgia no cérebro com seis horas de duração. Foram 11 dias em coma e mais 28 na UTI. A menina ainda precisou fazer uma traqueostomia.

Ao acordar, a família foi informada que ela teria sequelas nos quatro membros para o resto da vida e sua fala havia sido prejudicada.

"Apesar de tudo, o neurologista que me operou estava otimista. Percebeu que o lado cognitivo não havia sido afetado. Recomendou aos meus pais que me colocassem em uma escola regular. Nunca em uma especial", fala.

O conselho do médico foi seguido à risca. Apesar das limitações físicas, Cíntia teve uma infância normal.

A fisioterapeuta praticando uma versão do stand up paddle Cíntia Lessa Lima Cancellier, personagem de matéria de UOL Estilo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A fisioterapeuta praticando uma versão do stand up paddle
Imagem: Arquivo Pessoal


"Assim que cheguei em casa, vi minha bicicleta e quis andar. Não podia porque não parava em pé. Chorei muito. Fiz muita fisioterapia e fonoaudiologia. Meu pai foi o melhor fisioterapeuta que tive. Aprendia com os profissionais e repetia em casa. Ele também adaptou minha bicicleta e meu kart de pedal. Depois de um tempo, brincava na rua como qualquer criança, apesar das limitações."

Sem equilíbrio, mas briguenta

Na escola, Cíntia foi uma boa aluna. Só era um pouco "briguenta". "Eu batia nas crianças, porque me chamavam de perna de pau [ela consegue andar, mas com auxílio de uma espécie de bengala]. Não tinha equilíbrio, mas tinha força", relembra.

A força não era só física. Bastava alguém dizer que ela não conseguiria fazer algo para logo se arriscar. "Se sou cutucada, aí que me dedico. Fiz dança do ventre dos 17 aos 25 anos."

Também não perdia as domingueiras, as festas típicas da adolescência. "Nas festas, era engraçado, porque me ofereciam bebida alcoólica. Achavam que eu bebia muito por causa da voz um pouco lenta."

Quando chegou a hora de escolher a faculdade, a primeira opção era o curso de história, mas a fisioterapia havia feito tanto por ela, que trocou de carreira.

"Fiquei com limitações nos quatro membros. Tenho dupla hemiparesia, isso é, tenho movimentos só que eles são esquisitos, porque as dificuldades dos membros não são iguais."

Além de dançar, a tal "esquisitice" não a impediu de praticar boxe por quatro anos nem muay thai. Atualmente, ela faz jiu-jítsu duas vezes por semana e musculação (além de stand up paddle, só que em uma versão sentada).

No CER (Centro Especializado em Reabilitação) onde trabalha na capital paulista, Cíntia conta que não tira o jaleco por nada. "Se fico sem ele, pensam que sou paciente", brinca.