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Levou 9 pontos na cabeça: jovem relata ataque homofóbico dentro de shopping

João Pedro Medeiros, 23, contou que foi agredido por desconhecido - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Pedro Medeiros, 23, contou que foi agredido por desconhecido
Imagem: Arquivo pessoal

Denise de Almeida

Do UOL

14/02/2018 22h07

Um jovem aproveitou o feriado de Carnaval para ir a um shopping na zona oeste de São Paulo. De lá, ele teve que sair rumo ao hospital, com uma grande ferida aberta na cabeça -- e precisou de 9 pontos para suturar a lesão.

Tudo ocorreu no Shopping Pátio Higienópolis, na última segunda-feira (12). João Pedro Medeiros, 23, conta que um desconhecido o agrediu com coronhadas na cabeça dentro de um banheiro do empreendimento, enquanto gritava frases homofóbicas, como "Esses viados do c... têm que morrer".

Nesta quarta, o jovem contou o ocorrido em sua página no Facebook, denunciando a agressão, e também fez um Boletim de Ocorrência. "Tentei fazer na mesma hora, mas a delegacia estava no plantão, por causa do Carnaval. Pediram para que fizesse na quarta, depois do almoço, porque tinha um monte de queixas de roubo de celular na frente. E seria impossível eu, com a cabeça estourada, ficar esperando esse tempo todo", contou, em entrevista ao UOL.

O caso agora está sendo investigado pelo 77º DP, no bairro Santa Cecília, segundo a Secretaria de Segurança Pública.

"Olha o que eu tenho para você"

À reportagem, João Pedro diz que, quando estava no mictório, o agressor saiu de uma das cabines, xingando ele e outros homens dentro do espaço. “Ele foi agredindo verbalmente todo mundo que estava ali, chamando todos de viado. Falando 'tem que morrer, esses safados’. Ele ficou olhando para minha cara e eu baixei a cabeça, como se não fosse comigo", conta.

Enquanto João Pedro lavava as mãos, percebeu que o rapaz estava virado, olhando para ele, e já sentiu medo. "Enxuguei as mãos e, quando virei, fiz um gesto com a mão, do tipo 'oi, tudo bem'. Ele simplesmente olhou para mim e falou 'Olha o que eu tenho para você'. Aí pegou uma pistola da cintura, virou ela na mão e me deu uma coronhada. Nisso, a minha cabeça abriu e começou a jorrar muito sangue", relata.

"Achei que fosse morrer"

Ensanguentado, João Pedro saiu correndo do banheiro pelos corredores do shopping, pedindo socorro. "Foi uma sensação horrível, meu corpo desligou, achei que fosse morrer", explica.

"Quando eu coloquei a mão no ferimento e tirei saiu um pedaço da parte de trás da minha cabeça junto com cabelo. Comecei a perder muito sangue pelo chão do shopping. Saí gritando: 'pelo amor de Deus, alguém me ajuda'", conta.

João Pedro ainda acusa o shopping de demora no socorro. Segundo o jovem, nenhum segurança ou funcionário do shopping o auxiliou prontamente. Gritando, ele recebeu ajuda de outros frequentadores do local e foi levado para a porta do empreendimento. De lá, finalmente o grupo conseguiu chamar a atenção dos seguranças, mas João diz que só chegou ao ambulatório entre 25 e 30 minutos após a agressão.

"Falaram para eu pegar um táxi"

A vítima conta que foi primeiro atendida por bombeiros, que o encaminharam ao ambulatório, mas que o empreendimento não queria liberá-lo para ir ao hospital nem sequer fornecer uma ambulância para o socorro.

"Não queriam me liberar. Um médico amigo meu, quando viu o ferimento, falou: ele precisa ir para o hospital agora para fazer essa sutura. O shopping não queria liberar a ambulância. Falaram que era para eu pegar um táxi. Disseram que a ambulância era apenas para casos de emergência. Meu amigo falou: ‘como assim? A cabeça dele está aberta!’. Ele teve que fazer um escândalo até conseguir disponibilizar uma ambulância", acusa João.

Ele quer justiça

O rapaz conta que teve uma reunião com diretores do shopping nesta quarta-feira. "Chorei muito nessa reunião, porque eu estou nervoso, muito assustado, não estou conseguindo dormir há dois dias. Fui (na segunda-feira) para a Santa Casa direto, porque era o mais rápido para fazer a sutura. Não fizeram nem uma radiografia em mim, nada. E o shopping só veio me procurar agora. Estou me sentindo lesado, me sentindo um lixo", disse João.

Ele diz que pretende processar o empreendimento. "(Os diretores) Falaram para mim que eles estavam preocupados com a imagem do shopping". A prioridade de João Pedro, no entanto, é que a Polícia identifique e prenda seu agressor. "Esse cara tem que ser achado e punido. Ele fez para matar".

Na conversa com o shopping, o rapaz afirma que o empreendimento disse não ser possível controlar quem entra ou não armado no local. "Então é normal alguém entrar dentro do cinema e metralhar a cabeça de todo mundo dentro do shopping, como já aconteceu? Vamos supor que esse cara entre numa loja de brinquedos e mate todas as crianças que estão ali dentro. Isso é normal?”, questiona João.

O que diz o shopping

Procurado pela reportagem, o shopping palco da agressão enviou uma nota oficial à imprensa. "O Shopping Center Pátio Higienópolis reitera que não compactua com qualquer tipo de violência. O empreendimento esclarece que o cliente foi imediatamente atendido pela equipe de primeiros socorros e levado para o hospital. O shopping reforça ainda que já encaminhou as imagens para as autoridades competentes e segue colaborando para solução do caso".

Sobre a demora no socorro à vítima, o empreendimento afirma que a informação não procede. "Desde que ele saiu do banheiro, levou cerca de 5 minutos para os bombeiros do shopping atendê-lo. Após a avaliação do médico, em menos de 30 minutos nossa ambulância saiu para levá-lo ao hospital", afirmou o Pátio HIgienóplois à reportagem, por meio de sua assessoria de imprensa.