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Nem sempre é birra: criança pode ter síndrome do pânico

A crise de ansiedade que marca a síndrome do pânico pode ocorrer em qualquer lugar, hora ou situação - Getty Images
A crise de ansiedade que marca a síndrome do pânico pode ocorrer em qualquer lugar, hora ou situação Imagem: Getty Images

Marina Oliveira e Veridiana Mercatelli

Colaboração para o UOL

08/02/2018 04h00

Uma preocupação desproporcional com algo que pode acontecer, agressividade e agitação sem justificativa. A crise de ansiedade que marca a síndrome do pânico pode ocorrer em qualquer lugar, hora ou situação. As crianças apresentam os mesmos sintomas dos adultos: palpitação, boca seca, falta de ar, mãos frias, suor gelado, tontura ou sensação de desmaio. Quem passa por uma crise acredita que vai morrer.

Todo esse desconforto é causado pela região do cérebro que controla as emoções. A área dispara um alarme para o corpo, que se prepara para fugir ou lutar.

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“É como um bug no nosso organismo. Ainda que não tenha uma razão para o medo intenso, a emoção e as sensações são reais e incontroláveis”, explica a psicóloga Rita Calegari, da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo.

Diagnóstico difícil

São cerca de dez minutos de desespero absoluto, que podem parecer muito mais tempo para quem está vivenciando. E se o transtorno não é fácil de diagnosticar em adultos, imagine em crianças, que têm dificuldade para expressar o que sentem.

Não é incomum as crises serem confundidas com birras ou manha. “Mas a alteração de comportamento da criança sempre deve ser avaliada com atenção, porque é a forma que ela tem de demonstrar o que sente. Ela não sabe disfarçar ou engolir emoções como a gente”, diz a psicóloga.

Sinais de alerta

O medo excessivo de alguma coisa é um dos primeiros sinais de alerta. “Depois de ter uma crise de pânico, a criança pode desenvolver fobias das situações em que se encontrava quando aconteceu e começar a evitá-las”, afirma Thyago Azevedo, coordenador técnico da psiquiatria do Prontobaby - Hospital da Criança, no Rio de Janeiro.

Pode ser que ela não queira ir para a escola, sair de casar, dormir na casa de um amigo ou brincar no parquinho, por exemplo. Ela passa a viver insegura e tem a qualidade de vida comprometida. Não é incomum sentir terror noturno e necessidade de ficar grudada nos pais o tempo todo.

Uma inimiga chamada ansiedade

Nos menores de seis anos, o diagnóstico pode demorar a acontecer, por elas não conseguirem descrever o que sentem.

“O diagnóstico pode vir só na adolescência, mas, quando vamos analisar, é comum a criança ter tido uma história de ansiedade intensa desde muito pequena”, diz Fernando Asbahr, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos Ansiosos na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Com e sem causa

As crises podem ou não ser desencadeadas por um estímulo. Talvez ela tenha sido exposta ao bullying ou a cobranças exageradas. Mas o pânico também pode surgir quando estava tranquila e feliz, em um momento de brincadeira.

“Isso é importante para diferenciar o transtorno de uma birra, que geralmente vem seguida de uma frustração, algo que criança não foi permitida de fazer. A birra, muitas vezes, vem depois de um ‘não’. Mas o pânico não precisa ter um fator externo para ser desencadeado”, fala Rita Calegari.

Famílias com histórico de transtornos de ansiedade têm mais chance de os filhos desenvolverem o mesmo problema, diz Fernando Asbahr. “A predisposição genética é o maior fator de risco para se ter uma ansiedade patológica”, diz o psiquiatra. Mas é preciso esclarecer, não é todo filho de pais com transtornos que terá síndrome do pânico.

Tem tratamento

“Se a crise não é tratada, ela começa a limitar muito a vida da criança ou adolescente, porque ela vai deixar de fazer coisas, isolar-se, o que só piora o quadro”, fala Fernando Asbahr.

Há dois caminhos: terapia cognitivo comportamental, em que a criança será exposta a situações que desencadeiam a ansiedade e vai se habituando àquela vivência. E medicações, utilizadas quando há crises mais intensas. Combinar os dois é eficaz, mas nem sempre necessário. “Não é com toda criança que já indicamos as duas condutas logo de cara”, diz o psiquiatra.

Como lidar com uma criança em crise

É importante estar sereno no momento para não gerar ainda mais ansiedade na criança, que está sofrendo tanto física quanto emocionalmente. Pais não podem impedir a crise, mas conseguem acolher, aceitar e entender que aquilo é real.

Proteja a criança e nunca a ridicularize. “Abrace, fique junto, segure a mão, olhe nos olhos e diga que vai passar e ficar tudo bem”, afirma Rita.