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Marilda Siqueira: ela ajudou a eliminar o sarampo e a rubéola do país

André Rodrigues/UOL
Imagem: André Rodrigues/UOL

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

24/11/2017 04h00

A virologista Marilda Siqueira, 61, é uma das quatro autoridades a quem foi entregue, em abril de 2016, o certificado da eliminação da rubéola e do sarampo no Brasil pela Opas (Organização Panamericana de Saúde). Ela é chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), referência para o Ministério da Saúde desde 1992, início da década que deu início aos esforços para eliminar as doenças do país.

Naquela época, o sarampo era a segunda maior causa de mortalidade no mundo e matava cerca de 2,6 milhões de crianças por ano. Os números registrados da doença eram desastrosos. Mas se ainda hoje alguns países têm sistemas precários de notificação, imaginem há mais de 25 anos.... O impacto na saúde e a eficácia e segurança da vacina foram os argumentos para acabar com ele após a varíola e a poliomielite.

O primeiro —e grande passo— foi a maior campanha de vacinação do mundo, em 1992. Tempos depois perdemos para a China, que veio aprender com o programa brasileiro, as estratégias para conseguir alcançar o maior número de imunizações em um país com vasto território, como o nosso. Por aqui, naquela época, aproximadamente 48 milhões de crianças e jovens de até 14 anos foram vacinados.

A expertise no controle do sarampo foi replicada para o caso da rubéola, que teve um surto em 2006. O mal congênito pode causar graves sequelas para bebês, cujas mulheres são infectadas durante a gestação. O Ministério da Saúde coordenou uma campanha de vacinação com a tríplice viral (para caxumba, rubéola e sarampo) que alcançou 28 milhões de mulheres em idade fértil, de 15 a 39 anos, da qual o laboratório chefiado por Marilda fez parte.

A caminhada

  • 1990 e 1991: O laboratório onde Marilda onde trabalhava, em parceria com o Ministério da Saúde, se organizou para o Controle do Sarampo. O programa visava controlar a doença por meio da imunização e vigilância epidemiológica e laboratorial a partir do treinamento de pessoal em todo território brasileiro.
  • 1992: O Brasil fez a maior campanha de vacinação do mundo até então e serviu de modelo para muitos países.
  • 1995: O laboratório chefiado pela virologista tornou-se a referência na América do Sul para a OMS (Organização Mundial de Saúde). Por isso, passaram a receber equipes de outros países para treinamento em metodologias de laboratório.
  • 2000 e 2001: O sarampo foi eliminado do país. Alguns pequenos surtos aconteceram após esse período, mas o país não perdeu o certificado porque os casos ficaram restritos.
  • 2008 e 2009: Último caso de rubéola e síndrome congênita no Brasil, respectivamente.

Biografia rápida

Nascida em Catanduva, no interior do estado de São Paulo, Marilda foi criada em Londrina, no Paraná, onde iniciou os estudos que a levaram ao Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo da Fiocruz. Na UEL (Universidade Estadual de Londrina) se graduou em farmácia e bioquímica e depois foi para o Rio de Janeiro se especializar em microbiologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O mestrado seguiu na Fiocruz e depois retornou à URFJ para o doutorado e pós-doutorado na Inglaterra. Trabalh desde a década de 90 com o CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) e participa de vários comitês da OMS.

Foi na Cidade Maravilhosa que Marilda se casou e constituiu sua família, com três filhos. Para a virologista, o grande segredo dos relacionamentos da vida é qualidade do tempo que é investido neles. Hoje, ela faz parte de um grupo da OMS para vigilância laboratorial do sarampo e da rubéola, que ainda precisam ser eliminados de outras nações. Uma vez por ano se encontra com pesquisadores de outras partes do mundo para trocar ideias e avançar as metodologias necessárias para a eliminação destas viroses.

Eu me emociono em contar essa história. Sou apaixonada pelo que faço, trabalho muito por isso. É intenso, mas foi uma maravilha ter participado disso, conhecido tanta gente. Acho que recebi mais do que dei