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O que os pais precisam saber sobre pedofilia para proteger os filhos

É preciso esquecer a imagem de exceção do "monstro" e entender que o perigo pode vir de pessoas conhecidas - Getty Images
É preciso esquecer a imagem de exceção do "monstro" e entender que o perigo pode vir de pessoas conhecidas Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL

13/10/2017 04h00

Palavra que assombra os pais, a pedofilia ainda é cercada de falsas crenças e tabus. Para proteger as crianças, a primeira coisa que os adultos têm de buscar é informação para si e para os filhos.

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"Por volta dos 4 anos, já é possível conversar com o filho, sem meias palavras e nem alarde. Uma criança alertada é sempre mais segura e forte", afirma a psiquiatra Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Mensagens de proteção

Com os menores, Carmita explica que não é preciso falar de sexo propriamente dito e, sim, passar mensagens de autoproteção. "Alguns pais podem imaginar que é exagero tratar desse tema com os filhos pequenos, pensando que estão tirando a inocência deles. Mas os próprios desenhos que as crianças assistem trazem a noção de certo e errado, de que há pessoas boas e más no mundo. Eles podem lidar com essa noção."

A psiquiatra sugere, por exemplo, que os pais falem aos filhos que apenas os adultos responsáveis pelos cuidados diários com ele podem vê-lo sem roupa ou ficar a sós com ele. E é preciso deixar claro que, se algo fora da rotina acontecer, eles estão a postos para ouvir e ajudar a criança.

O perigo mora ao lado

O pedófilo, muitas vezes, é uma pessoa comum, que pode estar nos espaços de convívio social que a família frequenta. É preciso esquecer a imagem de exceção do "monstro" e entender que o perigo pode vir de pessoas conhecidas.

"Não está escrito na testa que ele é pedófilo", diz Vera Zimmermann, psicóloga do Centro de Referência da Infância e da Adolescência da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

De acordo com Carmita Abdo, o pedófilo tem um transtorno da sexualidade caracterizado pela atração sexual por menores de 13 anos. "Muitos não aceitam a condição e não colocam em prática o desejo que sentem. Outros ficam só no consumo de pornografia infantil. Os que buscam satisfazer a atração são os abusadores, estuprados, o que é o crime propriamente dito."

Ameaças e pactos

Outro ponto que os adultos responsáveis pela criança têm de compreender é que há pedófilos que ameaçam a criança para que ela não conte nada para ninguém e há os que estabelecem "pactos".

"Há os que falam que, se a criança contar o que fizeram, vão procurar os pais e falar que ela matou aula ou comeu um doce. Há ainda os que se fazem de amigos e propõem pactos, algo na linha 'vai ser o nosso segredo'."

Por isso, se a criança relatar algum episódio de carícia indevida, por mais que seja chocante, os pais precisam ouvir com calma. "Só assim eles podem entender a extensão do que aconteceu e tomar providências. Se o pai ou mãe demonstra pânico, há chance de a criança se calar."

Segurança na web

Um dado que os pais devem ter em mente quando se trata de pedofilia é que a internet é um meio comumente usado por aqueles que querem aliciar crianças.

Os pais precisam ensinar os filhos a rechaçarem o contato de estranhos nas redes sociais. "Primeiramente, deve-se ensinar a nunca responder a tentativas de contato de estranhos. Depois, explicar, de acordo com cada rede social, os mecanismos de bloquear e denunciar a pessoa", afirma Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da Safernet, organização não governamental que tem como missão defender e promover os direitos humanos na internet.

A especialista, assim como as demais ouvidas nesta reportagem, também recomenda que os pais acompanhem as conversas do filho com adultos conhecidos.

Juliana alerta para uma estratégia bastante comum usada por pedófilos na tentativa de aliciar menores: enviar conteúdos com personagens infantis conhecidos em atos sexuais. Tudo para "naturalizar" o sexo para as crianças.

A coordenadora da Safernet reforça a importância de alimentar uma relação de confiança com o filho. Por isso, a organização não recomenda que o pai ou a mãe monitore escondido o que o filho faz nas redes sociais ou na internet.

"Estabeleça acordos e, ao constar que houve mau uso, aja com cautela, sem julgar ou punir. Muitas crianças e jovens, por medo de serem proibidos de usar as redes sociais, não contam aos pais quando acontece algum contato estranho", fala Juliana.