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Dia do Sexo: Quase 50% das mulheres sentem vergonha de comprar preservativo

64% das mulheres querem falar mais abertamente sobre sexo - Getty Images
64% das mulheres querem falar mais abertamente sobre sexo Imagem: Getty Images

Mariana Araújo

do UOL, em São Paulo

06/09/2017 04h00

Esta quarta, dia 6 de setembro, é Dia do Sexo. Mas, antes de comemorar, você já parou para pensar se está satisfeita com a sua vida sexual?

A marca de camisinhas "Olla" conduziu uma pesquisa sobre o comportamento sexual hétero com mil homens e mulheres entre 18 e 35 anos e descobriu que elas ainda encontram dificuldade e muita vergonha no caminho ao tentar expressar o próprio desejo. O UOL bateu um papo com a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da UFRJ e responsável pelo estudo, para entender melhor como e por que andamos sabotando nosso prazer e segurança.

Por que transamos mais sem a camisinha do que eles?

De acordo com a pesquisa, um número alto tanto de homens quanto de mulheres anda dispensando a camisinha. Mas o nosso uso é ainda menor: enquanto 47% deles raramente ou nunca usam preservativo, 52% de nós deixam a proteção de lado. Por quê? "As mulheres não usam camisinha por diversas questões. Uma delas é o fato de que 42% afirmam não se sentirem confortáveis na hora de realizar a compra do preservativo", aponta Mirian. 

A pesquisadora conta que vê ainda muitas mulheres internalizando preconceitos sociais e revelando uma constante preocupação com a possibilidade de serem consideradas promíscuas ou "fáceis", caso levem a camisinha com elas. "Os pesquisados fazem parte de uma geração que já cresceu com informações a respeito da importância do uso da camisinha para se prevenir de DSTs e gravidez indesejada. Mesmo assim, a vergonha feminina ainda fala mais alto, o que é um absurdo e merece uma atenção especial".

Deixamos o machismo entrar (e prejudicar) o prazer entre quatro paredes?

A postura dos caras em relação ao desconforto feminino, no entanto, é ambígua. Enquanto 80% deles dizem que “não pensam mal de uma mulher que tenha camisinha na bolsa”, quase 42% acreditam que uma mulher que tenha uma camisinha na bolsa sofra preconceito. Ou seja, existe uma enorme diferença entre o discurso e o comportamento dos homens.

"No discurso, especialmente com a nova exigência social de ser 'politicamente correto', os homens afirmam que as mulheres devem ser livres e que o comportamento sexual deve ser igualitário. No entanto, o preconceito existe e é impossível negar. Isso aparece claramente quando 1 em cada 4 mulheres têm vergonha de que saibam que estão com camisinha na bolsa e 80% dos homens não têm [essa] vergonha", explica a antropóloga. 

O dado também revela que estamos conscientes da diferença entre teoria e prática para eles. E quando a mulher não tem confiança ou conforto para expor que, sim, tem vontade de transar ou que gostaria de fazer sexo com a camisinha, a performance e a segurança ficam comprometidas. Para todo mundo. 

casal na cama, sexo oral - Getty Images - Getty Images
A comunicação é a chave para uma vida sexual mais saudável
Imagem: Getty Images

Estamos priorizando o desejo do outro e não o nosso?

A falta de comunicação entre eles e elas ainda gera um tipo de comportamento preventivo, um "sofrimento por antecipação". A conclusão do estudo aponta que "mais homens do que mulheres afirmam ser normal transar sem camisinha, assim como ambos os sexos concordam que é comum os homens pedirem para não usar o preservativo. Entretanto, quase metade das mulheres concorda que já pediu para fazer sexo sem camisinha”. 

Ao assumir um comportamento que seria do homem, mesmo não estando certa disso, a mulher tenta antecipar o que ele quer. "Muitas mulheres demonstram o foco maior no desejo do outro do que no próprio desejo. Esse fator faz com que elas façam sexo casual sem qualquer proteção e até peçam isso, tudo por medo de se tornarem menos desejáveis." 

E há o outro lado, quando rola pressão do parceiro. Quase 50% das mulheres disseram que, não só já passaram por ela, mas que também já cederam a esta pressão e fizeram sexo desprotegidas. "Falar sobre sexo, sobre desejos e medos relacionados à vida sexual ainda é um tabu. Infelizmente, a mulher que fala e se comporta mais livremente ainda é estigmatizada socialmente".

Como superar medos e preconceitos na cama?

64% das mulheres ouvidas pelo estudo foram direto ao ponto: elas querem, sim, falar mais abertamente sobre sexo. E para a especialista, este comportamento é a chave de uma vida mais saudável e com mais orgasmos tanto para eles quanto para nós. "É fundamental mostrar que a vergonha não é um problema ou um fracasso individual, mas é cultural, social, e revela uma dupla moral sexual que oprime as mulheres, não apenas na sexualidade".

A antropóloga acredita que falar para o parceiro sobre aquilo de que gosta ou quer fazer na cama pode significar um salto de qualidade de vida. "Não precisamos nem devemos ter vergonha de nossos desejos, nem 'esconder' que somos mulheres, que podemos viver plenamente a nossa sexualidade. Comprar e levar a camisinha na bolsa pode se tornar um ato de libertação, que simbolize a liberdade mais ampla que tanto desejamos".