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Seu filho prefere um dos pais? Veja o que fazer se isso vira dependência

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Imagem: iStock

Patrícia Guimarães

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/09/2017 04h00

Luciano Oliveira e o filho Pedro, 7, têm muito em comum. Com o pai, o menino aprendeu a gostar de ouvir rock 'n roll, a jogar videogame e a curtir os heróis que fazem sucesso nas telas do cinema. Mas a preferência pelo pai acaba aí. Para todo o restante, quem tem papel de destaque é a mãe, Danielle Aloe.

Pouco tempo depois de Pedro nascer, ela parou de trabalhar para se dedicar ao menino. Quando voltou, Danielle, que é professora, recebeu uma bolsa para que o filho frequentasse a escola em que dava aulas. "Como estávamos no mesmo ambiente, ele me queria o tempo todo. No começo, eu tinha que ficar escondida porque se ele me cruzasse já queria ficar comigo". Para ela, essa proximidade grande colaborou para criar não apenas uma preferência, mas algo que o casal classifica como dependência, já que o garoto exige a presença da mãe mesmo quando o pai pode fazer o que é preciso.

Crianças tendem preferir a mãe até os 2 anos

Segundo Teresa Messeder Andion, psicopedagoga clínica e vice-presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é normal que as crianças prefiram a mãe na primeira fase da vida -- até 2 anos. No entanto, essa preferência pode mudar aos poucos, principalmente se a partir dessa fase a pessoa mais presente for outra. 

A psicóloga infantil Mayra Gaiato concorda. "O ponto principal que faz a criança se conectar a um dos cuidadores é o vínculo. A gente fala muito em qualidade do tempo que se passa com a criança, mas a quantidade também é importante. Ela sente quem cuida, quem protege, quem dá calor quando está frio, quem dá alimento quando ela está com fome. Então, esses cuidados básicos são bem importantes na formação do vínculo", afirma. Por isso, em algumas situações a preferência pode ser pela avó ou pela babá.

E quando a preferência vira dependência?

Os pais devem observar se o comportamento é apenas uma fase ou se está se transformando em dependência, como no caso de Danielle e Pedro. "Não é fácil a cobrança dele, de o tempo todo eu ficar presente. Isso cansa", afirma a mãe.

Para tentar reverter a situação, o casal tem experimentado programas em que o menino fique mais com o pai, como ir ao parque ou ao cinema, sem a mãe. Segundo as especialistas, essa mudança na rotina e na atitude é essencial.

Divida funções na vida da criança -- e coloque limites

A psicóloga Mayra Gaiato reforça a necessidade de os pais dividirem as funções e a presença na vida da criança -- no dia a dia, não só nos momentos de lazer. "É preciso mostrar que o pai vai pegar a mesma água que a mãe, por exemplo. Mas, se a criança chora, não aceita e os pais cedem, volta a se instalar o padrão. A criança entende que, insistindo, consegue o que quer. Aí são dois problemas: o da preferência e o da birra", explica.

Ela afirma, ainda, que os pais devem ter o papel de controle e saber dosar o temor pela falta de afetividade. "Acontece muito de os pais terem medo de colocar limites, porque entendem que sendo chatos a criança vai gostar menos".

"Diferentemente de uma criança de 4 ou 5 anos, uma de 7 já não está mais na fase egocêntrica. Então já deve conseguir se colocar no lugar do outro e, por isso, precisa de limites. A mãe precisa impor o limite, mesmo que exista a preferência por ela. É preciso sempre dialogar com a criança", completa Teresa Andion.