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Ex-empregada doméstica, mineira brilha como modelo na SPFW: "Um sonho"

Maria no desfile de Karina Fouvry - Ze Takahashi/Fotosite
Maria no desfile de Karina Fouvry Imagem: Ze Takahashi/Fotosite

Daniela Carasco

Do UOL, em São Paulo

01/09/2017 04h00

Maria Aparecida de Oliveira levou 19 anos para descobrir sua beleza e seu talento como modelo. A vida humilde no interior de Minas Gerais a impedia de brilhar.
Nascida na pequena Santana da Vargem, filha de uma empregada doméstica e de um trabalhador rural e mais velha de uma família de seis irmãos, ela começou a trabalhar cedo. "Aos 16 anos, virei empregada doméstica para ajudar meus pais nas contas de casa", conta. "Nunca passamos fome, mas eu fazia duas faxinas por semana para complementar a renda." Maria ganhava 80 reais por dia de trabalho.

A iniciativa, garante, partiu dela. "Era horrível, me sentia péssima, mas o dinheiro era importante pra nós", conta. Apesar da pouca idade, ela diz que o trabalho nunca atrapalhou os estudos. "Consegui terminar o ensino médio."

Maria Oliveira na passarela da LAB - Ze Takahashi/Fotosite - Ze Takahashi/Fotosite
Maria Oliveira na passarela da LAB
Imagem: Ze Takahashi/Fotosite

"Me achava estranha, horrível"

Sua história começou a mudar com a chegada de uma equipe de seleção de new faces -- modelos novatas -- na cidade. "Mesmo desacreditada, decidi ir. Confesso que não acreditava no meu potencial de modelo. Me achava feia."

A baixa autoestima da época tinha explicação. Quando criança, Maria enfrentou muito bullying pela magreza e altura -- ela tem 1,80 m --, além do racismo. "Não me lembro de episódios específicos, mas ainda assim foi marcante pra mim. Isso naturalmente impactou na maneira como eu me enxergava."

A virada veio com a aprovação na seletiva. Desconfiada, Maria ouviu o "sim" da agência um mês depois e, em três dias, já estava em São Paulo, vivendo em um apartamento recheado de modelos, que se tornaram suas novas colegas de trabalho. A faxina, comemora, ficou pra trás.

"Estou na capital desde janeiro e, apesar do pé atrás do início, me sinto realizada. Foi um baque, que virou um sonho."

E quem circula pelos corredores ou assistiu ao desfile da Laboratório Fantasma, Tig, Karina Fouvry ou Ratier já pode perceber que Maria nasceu mesmo para brilhar na moda. Entre seus maiores orgulhos profissionais entram ainda os editoriais. "Fiquei emocionada quando folheei uma revista pela primeira vez e me vi nela. Nunca pude imaginar uma coisa dessa."

Os cachês ainda não são altos, mas ela pensa grande e sonha com o dia que comprará uma casa enorme para a família viver também na capital paulista.

Maria Oliveira no desfile da Tig - Fotosite - Fotosite
Maria, da Way Model, no desfile da Tig
Imagem: Fotosite

"Quero morar em Paris"

Entre seus desejos, estão ainda a vontade de construir uma carreira internacional, cruzar a passarela da Victoria's Secret como Angel -- vaga tão cobiçada por modelos do mundo todo -- e aos 27 se dedicar a um outro projeto maior. "Não quero ser modelo pra sempre, quero fazer faculdade de medicina."

Hoje, ela se olha no espelho e enxerga o reflexo de uma garota linda e realizada. "Acordei pra vida. A quantidade de trabalho que tenho feito voltado à beleza me fez acreditar no meu potencial. Agora virei o espelho dos meus irmãos."

E quando o assunto é referência para seguir em frente, ela não titubeia ao eleger Naomi Campbell como sua modelo preferida e inspiração.

"Não mudaria nada da minha história. Começar a trabalhar cedo foi muito duro. Só que mesmo tendo tido anos sofridos, fui sim muito feliz."