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Pregorexia: conheça o transtorno alimentar que atinge grávidas

Getty Images
Imagem: Getty Images

Daniela Carasco

do UOL, em São Paulo

25/08/2017 04h00

Anorexia, bulimia, ortorexia... A lista de transtornos alimentares é extensa. Há quem pense que têm a ver com vaidade, mas distúrbios são doenças. A sensação é de inadequação no próprio corpo, e também atinge as grávidas.

Pregorexia é o termo que tem sido usado entre os especialistas para defini-lo. Apesar de poucas evidências científicas, já é reconhecido entre médicos. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), estima-se que os transtornos alimentares atinjam 3% das gestantes. E toda vez que uma grávida sarada dá as caras no Instagram, o assunto bomba.

Gestação não é compatível com um corpo sarado

A psicóloga brasileira Irema Barbosa Magalhães já acompanhou mais de 100 casos de pregorexia na França, onde se dedica há mais de sete anos a um doutorado sobre o tema na Universidade Paris V da Sorbonne. “A gravidez deveria representar, sobretudo pelas transformações corpóreas, psicológicas e inconscientes que traz, um período de flexibilidade, inclusive com a alimentação e exercício físico.”

No Brasil, ainda não há dados oficiais. Segundo Kátia Ushiama, nutricionista clínica e responsável pelo ambulatório de nutrição do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, as subnotificações interferem nas evidências. “O diagnóstico ainda é complicado porque, na maioria dos casos, a paciente tem receio de admitir o problema ou ainda não se deu conta do que passa”, diz. “O que se sabe é que toda preocupação exagerada com a boa forma é indício de transtorno alimentar.” E o exibicionismo exagerado nas redes reforça a tese.

O que pode provocar a pregorexia?

Apesar de propagarem um ideal de beleza inalcançável, as especialistas garantem que as grávidas fitness não são capazes de estimular o aparecimento de transtornos alimentares em suas seguidoras, mas estimulam a comparação. A doença costuma ser provocada por uma série de fatores, principalmente, de fundo psicológico. Perfeccionismo, baixa autoestima, ansiedade e depressão são alguns deles.

Mesmo que sejam mais comuns em mulheres que já tiveram bulimia, anorexia ou ortorexia em algum outro momento da vida, a pregorexia pode também ser diagnosticadas em gestantes que nunca se depararam com algo parecido antes.

É normal engordar entre 11 kg e 16 kg

O comportamento costuma ser marcado por enorme controle de calorias, distúrbio de imagem corporal, fobia quanto ao peso gestacional e hiperatividade. “Muitas acham que é suficiente ganhar só os 2 kg ou 3 kg do bebê. Impossível”, explica Kátia. “O ganho de peso tem a ver com o aumento dos tecidos maternos, placenta, crescimento das mamas, expansão do útero. Em média, uma gestante pode engordar entre 11 kg e 16 kg.” 

Além desses fatores, Irema alerta para a dificuldade de estabelecer uma relação afetuosa da mãe com o feto, inclusive depois do nascimento. E, com isso, vem a depressão pós-parto, normalmente, relacionada a uma frustração quanto à perda imediata da barriga. “As mães passam a controlar, também, a alimentação da criança. E até os momentos lúdicos com o bebê acabam sendo afetados. Os jogos tendem a ser sempre mais educativos nesses casos”, conta Irema. É um controle absoluto.

Anorexia, bulimia ou ortorexia?

Quando o quadro é de anorexia, a gestante passa longos períodos em jejum, evita fazer refeições na presença de conhecidos e se dedica a rotinas extremamente intensas de exercício físico. Na bulimia, a compulsão alimentar vem acompanhada da indução de vômitos. “Essas crises purgativas geram um grande sentimento de culpa por parte das gestantes”, conta Irema.

Já na ortorexia, o que está em jogo não é a quantidade, mas a qualidade dos alimentos que vão ao prato. Falta flexibilidade do ponto de vista alimentar. Ou seja, todo e qualquer alimento que não seja considerado saudável é visto como um produto “tóxico” pela paciente. Açúcares e gordura se tornam os maiores “vilões”. Malhar, neste caso, é uma obsessão. 

O feto corre riscos?

Em casos mais extremos, sim. Podem ocorrer abortos espontâneos, má formação fetal, restrição de crescimento, que, quando muito severa, pode exigir um parto prematuro.

Como é o tratamento?

Psiquiatra, psicólogo, nutricionista e endocrinologista são os quatro pilares fundamentais de um tratamento multidisciplinar que não deve contar com a ajuda de remédios, contraindicados na gestação. A família também é essencial na identificação do problema, que deve ser apresentado o quanto antes ao médico responsável pelo pré-natal.