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Você pode não saber o que é "Phubbing", mas provavelmente está praticando

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Imagem: Getty Images

Bárbara Tavares

do UOL

31/07/2017 04h00

Uma roda de amigos no bar, um almoço de domingo em família, um jantar romântico a dois. Todas essas situações trazem algo em comum nos dias atuais: um ou mais membros do grupo – ou casal – têm o olhar fixo no celular. O hábito, cada vez mais frequente, tem nome: Phubbing, termo criado em 2013 por Alex Haigh, estudante de publicidade da Universidade de Melbourne, na Austrália. Phubbing é a junção das palavras “phone” e “snubbing” – “telefone” e “esnobar”, em inglês -, e seu significado é bem autoexplicativo: o ato de esnobar alguém olhando para a tela do celular.

Se reconheceu em alguma das situações? Não à toa, já que os brasileiros têm o hábito de mexer no celular, em média, 78 vezes ao dia, segundo pesquisa realizada pela consultoria Deloitte. O número é ainda maior entre grupos de 18 a 24 anos – os chamados “millenials”: eles checam seus aparelhos 101 vezes ao dia, contra 50 vezes entre pessoas de 45 a 55 anos.

Eu “phubbo”, tu “phubbas”

“Eu faço isso sempre, em encontros no geral”, conta a estudante Carina Caldas, de 21 anos. “Todo mundo reclama que eu só fico no celular, mas é que eu fico com vergonha real, não sei o que falar, o que fazer... Aí eu pego o celular porque acho que a pessoa preferiria fazer qualquer coisa ao invés de estar comigo, então pelo menos eu fico ali”.

Inicialmente, a prática é consciente, mas “conforme o tempo vai passando, cada vez que a pessoa recebe uma notificação de mensagem ou curtida, ela olha e responde. É um ato involuntário para saber o que está acontecendo”, explica o Dr. Cristiano Nabuco, psicólogo especialista em dependências tecnológicas. “Imagina-se que esse efeito libere dopamina, então cria-se um processo de reforço biológico, logo, cada vez que o celular tocar, automaticamente a pessoa vai olhar”, ressalta.

Ainda segundo Nabuco, de uma forma ou de outra, isso acaba virando um hábito. “Semelhante a uma pessoa que cutuca a pele ou mexe com frequência no maço de cigarros. São movimentos involuntários e inconscientes para drenar a ansiedade”, explica.

Enfim, sós. Ou não.

Casal Phubbing 2 - Getty Images - Getty Images
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Em estudo recente divulgado pela Universidade de Baylor, no estado americano do Texas, 70% dos participantes afirmaram que o celular interfere “às vezes”, “com frequência” e “o tempo todo” na interação com seus parceiros. Os celulares, originalmente desenvolvidos para serem uma ferramenta de comunicação, acabam, ironicamente, atrapalhando os relacionamentos afetivos.

“Normalmente, se eu sinto a pessoa que está comigo distante por causa do celular, minha primeira atitude é pegar o meu para me distrair também. Não tenho muito costume de me irritar a ponto de brigar por isso, mas meu ex-namorado, em um momento de descontrole, chegou a pegar o celular da minha mão e jogar pela janela do carro”, conta a advogada Flávia Freitas, de 26 anos. “Felizmente não quebrou, e no momento seguinte ele foi buscá-lo. Enfim, terminamos”, completa ela.

A história se repetiu com a social media Débora Quirino Martins, de 29 anos. O Phubbing “levava a muitas brigas sérias com meu ex. Não posso dizer que foi a única causa do fim, mas colaborou. Sofro muito se recebo notificação e não vejo o que é, e quando vejo acabo me sentindo mal se não respondo na hora. E ele nunca entendeu isso, mesmo eu explicando que muitas vezes tinha a ver também com trabalho”, conta ela. “Mesmo morando juntos, ele demandava muita atenção e tinha ciúmes do meu celular, era bem frustrante”.

Há luz no fim do túnel?

“Antes de mais nada, a informação que você passa [ao praticar Phubbing] é: ‘o que você tem para me falar não tem relevância perto do que estou olhando’. É potencialmente ofensivo”, explica o Dr. Cristiano Nabuco. A linha é tênue entre os algozes e as vítimas. “Eu já sofri e acredito que também já tenha praticado. Algumas vezes me vejo em uma mesa de restaurante ou bar e sinto que não estava ali por alguns minutos, diante de alguma distração no celular”, conta Flávia. “Demorei muito para perceber o que fazia, é um movimento bem recente meu de tentar estar mais presente quando estou com pessoas ao vivo”, completa Débora.

O que fazer então ao perceber que você está praticando – ou sofrendo – Phubbing? O primeiro passo para se livrar do “vício”, assim como em todos eles, é reconhecê-lo. “É importante que as pessoas procurem estar atentas ao que os outros estão falando e, quando receberem alguma crítica, não encararem na defensiva, mas sim procurarem melhorar”, orienta Nabuco. “Se vir que não consegue de jeito nenhum ficar sem olhar o celular, desligue-o”.

Stop Phubbing

Lá em 2013, quando criou o termo, o australiano Alex Haigh desenvolveu um website para endossar sua campanha, o “Stop Phubbing”. “A ideia teve como objetivo alertar as pessoas da extração digital que começaram a desenvolver sem perceber. Além de ser falta de educação, cria um ruído nas relações profissionais, entre amigos, pais e filhos, etc.”, comenta Nabuco.

Apesar de trazer, propositalmente, alguns dados inventados sobre o Phubbing – por exemplo: “Se fosse uma praga, dizimaria seis Chinas” -, o site chama atenção para um problema moderno que está realmente afetando as relações. Por lá, é possível enviar um e-mail para dar um “puxão de orelha” em algum conhecido, ver uma galeria de fotos de famosos praticando e até fazer o download de placas e cartazes anti-Phubbing.

+ stopphubbing.com