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Por causa de mapa astral, mãe teme ser ausente e cria jeito de evitar isso

A psicóloga e escritora Renata Magliocca com a filha Nina - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal
A psicóloga e escritora Renata Magliocca com a filha Nina Imagem: Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

28/06/2017 13h30

Em outubro de 2014, assim que deu à luz Nina, a psicóloga Renata Magliocca, seguindo uma tradição de família, fez o mapa astral da filha, ainda na maternidade. Assim que começou a interpretá-lo, identificou uma previsão de "ausência materna".

"Aquilo me apertou, sabe? Poderia ter muitas interpretações, morte precoce, ausência em vida, ausência de referência... Comecei a pensar em como queria ser presente na vida dela, deixar que ela soubesse o quanto eu e minha vida tínhamos mudado com a chegada dela, quanto aprendizado eu vivi desde a gravidez”, conta.

Por isso, Renata decidiu escrever cartas para Nina todo dia 29 de cada mês, data do nascimento da criança.

O projeto amadureceu e, em 2016, a paulistana lançou o livro “1001 Dias com Ela”, em que Renata narra sua trajetória materna e de amor. “Revi todo o meu trabalho e minha vida para estar com a Nina na intimidade, nos momentos legais e chatos da rotina. Decidi que queria estar com ela, vivermos juntas essa história. E assim tem sido. Não é fácil, porque não escolhi ser mãe em tempo integral. Escolhi ser profissional e mãe. Não tem sido uma escolha fácil, porque estamos acostumadas a imaginar que só podemos ser ou mãe ou profissional. Tenho tentado ser as duas versões".

Projeto de vida

"Depois da Nina, querer a vida se tornou uma tradição por aqui e isso é muito bom", diz Renata apoiada pelo marido - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal
"Depois da Nina, querer a vida se tornou uma tradição por aqui e isso é muito bom", diz Renata apoiada pelo marido
Imagem: Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal

"Lembro de assistir ao documentário da Cássia Eller e ver o Chicão falando que não lembrava de muita coisa da mãe, a não ser o que as fotos e registros diziam. Pensei: ‘vou criar uma caixa de lembranças para a Nina’. E comecei por uma caixa de entrada de um correio eletrônico mesmo. Mandava fotos e trechos de coisas que tinha aprendido com ela ou vivido juntas. Até que esses e-mails viraram cartas com começo meio e fim. Era um ritual importante para a minha saúde mental e virou uma rotina. Por conselho de uma amiga, percebi que outras pessoas poderiam ler, refletir, aprender e me fazer companhia nessa trajetória solitária que é a maternidade. Comecei a publicar na minha página do Facebook.

Exposição involuntária da filha

Renata, o marido Vinícius Maltarollo e a filha do casal, Nina - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal
Renata, o marido Vinícius Maltarollo e a filha do casal, Nina
Imagem: Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal

Várias vezes me questionei, mas achava que seria muito legal para história dela saber o que vivemos, e que outras pessoas nos fizeram companhia nisso. Não gostaria de ser lembrada como uma mãe que aproveitou da exposição da sua filha para se autopromover. E vejo que não é a imagem dela, nem as histórias dela, são as minhas, o que aprendi, sou eu mesmo nua ali, expondo minhas próprias fragilidades. E acho isso uma super declaração de amor. Priorizo escrever para a Nina adulta, não sobre ela exatamente. Leio todas as cartas e ela, com 2 anos e 8 meses, já entende algumas partes, me pergunta, pede para ver a ilustração do livro.

O papel materno em sua essência

Renata posa com a filha Nina no lançamento do livro "1001 dias com ela" - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal - Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal
Renata posa com a filha Nina no lançamento do livro "1001 dias com Ela"
Imagem: Tracy Figg Fotografia/Arquivo Pessoal

Quando completamos os 1001 dias juntas resolvi que o melhor presente era transformar aquilo em um livro. Abri um financiamento coletivo e em 29 dias arrecadamos o suficiente para imprimir 1000 cópias e isso incluía doações para grupos de pós-parto e de mães em encarceradas. Não sei se Nina será mais feliz por essas escolhas, mas sei que não há nada mais importante que vínculo e afeto".